Você já parou pra pensar na força que há nas palavras? Como elas podem nos deixar animados em algumas situações, ou exercerem um impulso negativo, em outras? Os poetas, arquitetos das palavras, sabem bem disso.

O intrépido professor de literatura John Keating quer inspirar seus alunos a fazerem da vida algo extraordinário. Ele entra na sala assobiando, deixa algumas coisas na mesa e sai com um olhar travesso, pedindo que os alunos o sigam. Leva-os para um corredor com troféus empoeirados e fotos de alunos antigos. Então, pede que um dos rapazes leia o poema Botões de Rosas, de Robert Herrick: “colham os botões de rosas enquanto podem. O velho tempo continua voando. Essa mesma flor que hoje sorri, amanhã estará expirando”. Apontando para as fotos dos ex-alunos, o professor diz que muitos daqueles jovens agora estão mortos; mas será que fizeram o que gostariam de ter feito durante a sua vida? “Carpe diem, aproveite o dia”, ensina ele.

Essa é uma das cenas mais marcantes do belo filme A Sociedade dos Poetas Mortos. Apesar de ser um filme de 1989, sua mensagem sempre será atual, assim como a obra de Herrick, poeta inglês que viveu de 1591 a 1674. Eis a arte, ou, recorrendo à origem da palavra, o termo latim ars, a técnica ou habilidade dos poetas de nos atingirem com suas palavras.

E de onde vem a inspiração para as criações artísticas? Quando Fernando Pessoa escreveu “o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”, reafirmou o que muitos dizem: a beleza de uma arte nasce da dor. Realmente, muitas obras nascem como fuga de um sentimento que incomoda e, por isso mesmo, inspira a criação. Nem sempre é “dor”, necessariamente… “A arte de amar é exatamente a de se ser poeta”, escreveu Cecília Meireles.

Como se trata de algo belo, a poesia sempre esteve bastante ligada ao sentimento de amor. De tantos versos tão bem escritos sobre o assunto, os de Luís Vaz de Camões talvez sejam os mais conhecidos: “Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer, é um andar solitário entre a gente, é nunca contentar-se de contente, é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade, é servir a quem vence, o vencedor. É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor, nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo amor?”

Em outras ocasiões, os poetas arquitetam as palavras de modo a nos motivar, assim como fez Pablo Neruda: “Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina, sê um arbusto no vale, mas sê o melhor arbusto à margem do regato. Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore. Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva e dá alegria a algum caminho. Se não puderes ser uma estrada, sê apenas uma senda. Se não puderes ser o sol, sê uma estrela. Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso, mas sê o melhor no que quer que sejas”.

Outros, mais ousados, dizem escrever apenas por escrever. Paulo Leminski é provocador em Razão de Ser: “Escrevo, e pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece, e as estrelas lá no céu, lembram letras no papel, quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo, apenas. Tem que ter por quê?”

Não tem que ter. O cotidiano é um poema. Há poesia em todo o lugar, segundo Carlos Drummond de Andrade: “Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo”.

“Os poemas são pássaros que chegam, não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto; alimentam-se um instante em cada par de mãos, e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti…”, como escreveu Mário Quintana. Continuemos a levar os poemas na garupa, alimentando esses pássaros com o que nem lembrávamos que existia dentro de nós.