Tempos atrás, o “Fantástico” levou ao ar a série “Planeta ao Extremo”. O repórter Clayton Conservani e outros atletas enfrentaram tempestades de neve, ventos de até 200 km/h e temperaturas de -30ºC, com sensação de -60ºC. Entre os participantes, Clayton conheceu corredores com motivos especiais para estarem lá: uma jovem americana que sobreviveu ao Katrina, furacão que devastou a cidade de Nova Orleans, e queria servir de exemplo para quem havia perdido tudo no desastre; um maratonista canadense que participa de corridas pelo mundo em busca de doações para combater a noma, uma doença infecciosa grave; um americano que decidiu participar da prova para homenagear o filho que morreu de overdose. Enfim, lá, corredores do mundo inteiro vão em busca de seus limites.

Mas o que mais me chamou a atenção foi que em determinado momento da prova foi quando Clayton Conservani ficou isolado entre o grupo que liderava a prova e os retardatários. Nesse momento, ele se filmava correndo e relatando suas sensações. Foi quando disse:

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“Agora estou sozinho. Sou somente eu e meus pensamentos. Bons ou ruins”
Alguns minutos depois, ele dedicou a corrida e o esforço além de seu limite à sua filha, que sempre o apoio e entendeu suas ausências e diz:

“É por você que estou correndo. E se estou aqui vou fazer valer a pena”.

Poderia ter passado despercebido como um simples comportamento esportivo seguido de um momento de gratidão. Mas para mim, de alguma maneira, isso significou algo maior. Enfatizo, sempre que tenho oportunidade, a importância da prática esportiva e da educação pautada na família para a formação do caráter de um indivíduo.

Várias vezes durante uma competição de bike, durante uma cicloviagem, ou mesmo durante aquele treino longo e/ou pesado, me vi completamente só, e nesse intervalo de tempo os pensamentos bombardeiam a cabeça conflitando nossos sonhos, crenças, objetivos e desejos com nossos medos, fraquezas e inseguranças.

Espere um momento!

Estamos falando de uma corrida ou da vida em geral.

Engraçado, não é mesmo?

A essência do raciocínio é a mesma.

Quando nos vemos sós, o que nos resta é o pensamento para nos fazer companhia. Com isso, muitas pessoas não suportam praticar esporte por não tolerarem a solidão. No fundo, evitam ficar frente a frente com aquilo que sempre evitam pensar. Humberto Gessinger, em um clássico do pop rock nacional, canta:

“Quantas vezes eu estive cara a cara com a pior metade, quantas vezes a gente sobrevive na hora da verdade.”

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O esporte propicia um treinamento mental que nos permite fazer com que nesses momentos de solidão todos os nossos pensamentos ruins sejam superados e os pensamentos bons sejam predominantes. Com isso, acredito que pessoas que praticam esporte são mais equilibradas no dia-a-dia. São mais tolerantes à dor e ao sacrifício. Sabem exatamente o valor de se esforçar para alcançar um objetivo.

Atualmente muitas empresas valorizam e até estimulam que seus funcionários de altos cargos tenham alguma prática esportiva inserida no seu cotidiano.

A solidão do esporte, somada com suas fraquezas e forças, permite que você se conheça melhor.

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Lance Armstrong certa vez disse: “A dor é passageira, desistir é para sempre”.

Isso deixa evidente que até mesmo aqueles que julgamos fortes e imbatíveis, alguma vez na vida já pensaram em desistir.

O que mais me chama atenção é pensar: o que nos faz manter lutando, quando muitos já teriam desistido?

No quadro do Fantástico, Clayton Conservani arremete seus pensamentos à sua filha e dedica sua vitória a ela. Com certeza, sempre que lutamos por algo que acreditamos na vida, nosso maior objetivo é vencer, obter sucesso e poder servir de exemplo e orgulho para alguém. Aí entra a importância de uma educação pautada na família. No início, nossos pensamentos são arremetidos aos nossos pais para que futuramente sejam guiados por esposa e filhos.

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Assim, concluo que esses momentos não são tão solitários quanto temos com quem contar. Saber que existe alguém que acredita no seu potencial e que, por mais que as pessoas o considerem louco por desejar algo fora comum, faz com que meninos se tornem gigantes. E se a vida é uma longa jornada, assim como a maratona no gelo, posso dizer de peito aberto: “estou aqui e vou fazer valer a pena”.