COMO GISELE GASPAROTTO, DA LULUFIVE, FAZ DO CICLISMO UMA FERRAMENTA PARA O EMPODERAMENTO FEMININO

A mobilidade urbana tem se tornado um dos principais desafios nas grandes cidades. Seja pela falta de diversificação da infraestrutura de transporte, pelas longas distâncias a serem percorridas, pela falta de alternativas para deslocamentos, o tema é importante e vem ganhando mais e mais relevância.

Todo mundo pode e deve contribuir para buscar soluções sustentáveis para a mobilidade urbana, e o Itaú vem fazendo a sua parte. Como? Investindo no sistema de compartilhamento de bicicletas públicas, e também apoiando as organizações voltadas à promoção do uso de meios de transportes sustentáveis.

Um dos nossos principais programas, o Bike Sampa está completando 2 anos e continua recebendo melhorias para atender às necessidades dos paulistanos. Para oferecer à população mais opções de deslocamento pela cidade, recentemente foram inauguradas novas estações na região da Avenida Paulista e do centro da cidade.

Mas vale lembrar para o Itaú o uso de bicicletas vai além de um meio de locomoção, mas inclui, também, as empresas que utilizam a bike como atividade fim ou como parte de seu modelo de negócio – desde um comércio que possui uma bicicleta para entregas até lojas de equipamentos para ciclismo, passando por oficinas mecânicas, bike cafés, aulas de ciclismo, venda direta de produtos, entre outros.

A empreendedora Gisele Gasparotto, por exemplo, começou a usar a bike como meio de transporte para ir ao trabalho e acabou se apaixonando pelo ciclismo. Resultado: criou a LuluFive, um negócio voltado ao esporte, especificamente com foco nas mulheres. Acompanhe a entrevista com a Gisele e conheça esse case inspirador, que mostra o potencial de geração de renda e emancipação que só um meio simples, barato, eficiente e sustentável como a bicicleta pode proporcionar.

© Daniel Ferreira FOTOGRAFIA
  • O que você fazia antes de se tornar uma empreendedora?

Gisele Gasparotto: Sou formada em administração de empresas pelo Mackenzie e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Trabalhei no ramo de seguros desde os meus 17 anos e nele permaneci, até tomar essa difícil decisão de seguir esse sonho que usa a bicicleta como ferramenta, mas que, paralelamente, tem uma filosofia de transformação e empoderamento muito forte.

  • Como surgiu a ideia de empreender e montar a LuluFive?

Gisele Gasparotto: Além de executiva no ramo de seguros, eu me tornei ciclista profissional há 15 anos. E desde que o ciclismo entrou na minha vida, me entreguei e me apaixonei ao esporte. Acabei me dedicando ao alto rendimento e durante muitos anos conciliei a minha rotina profissional no escritório com a rotina profissional no ciclismo. Como na época em que comecei a pedalar havia poucas mulheres que praticavam o esporte acabei me tornando uma porta-voz do ciclismo feminino. E eu não entendia muito bem a razão de termos tão poucas mulheres praticando a modalidade. Passei a escrever muito sobre o tema, escrevi para alguns blogs e fui colunista de algumas revistas e sites voltados para o ciclismo. Tentei algumas vezes formar equipes profissionais femininas no Brasil, mas não tive sucesso, já que o esporte no Brasil é algo complicado. Então, em 2016, fui convidada pelo meu treinador (e atual sócio), Ronaldo, a pensar num projeto voltado só para mulheres.

  • Como você identificou o nicho e investiu neste setor?

Gisele Gasparotto: Quando o Ronaldo me chamou, ainda não tínhamos nada definido de como seria esse projeto. Comecei então a pensar o que ele não seria. A primeira coisa que veio à minha mente é que não seria uma assessoria de treinamento esportivo, pois já temos muitas no Brasil. Queríamos fazer algo diferente, inovador. Então desenhei um projeto que ajudava mulheres que já pedalavam (como esporte) a melhorar sua técnica para ganhar performance. O que isso quer dizer para leigos? Quer dizer o seguinte: todo esporte tem sua técnica, certo? A forma como você puxa o braço dentro da água na natação, como bate a perna, como boiar. Idem para qualquer outro esporte. No ciclismo é um pouco diferente porque a bike entra na nossa vida na infância, como uma brincadeira, então, quando pensamos no esporte, poucos pensam que é preciso aprender a técnica primeiro. A maioria das pessoas acha que já sabe pedalar, mas o ciclismo esportivo é um esporte complexo, tecnicamente falando. Hoje, quando você procura uma assessoria de ciclismo ou triathlon, ninguém te ensina como fazer, porque pressupõe que o aluno já saiba. E foi aí que eu encontrei o nicho: mulheres que já pedalavam, mas precisavam melhorar a técnica para ter mais segurança e também para melhorar a performance. Por que só mulheres? Porque eu sempre quis estimular que mais mulheres praticassem o ciclismo e porque a maioria dos homens são orgulhosos demais para admitir que precisam aprender técnica para pedalar.

Mas, em pouco tempo percebi que tinha um nicho melhor ainda do que eu havia pensado inicialmente: as mulheres que nunca pedalaram como esporte. Foi nesse momento que voltei minha comunicação para esse público. Formar ciclistas.

Transformar vidas através do ciclismo. A transformação acontece porque a cada subida vencida, a cada treino realizado, um sentimento de empoderamento invade essa mulher e a torna mais ativa, mais leve, mais capaz, mais autoconfiante.

No fim, a sororidade acaba nos contagiando e formamos um grupo de mulheres de todas as profissões, que se ajudam, dividem os mesmos medos e se acolhem. E todas saem mais fortes física e mentalmente. E assim nasceu a LuluFive.

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  • Explique-nos como funciona a empresa?

Gisele Gasparotto: Nosso negócio é focado em ensinar o público feminino a pedalar, manusear e controlar a bicicleta de estrada, conhecida como road Bike. Somos em 3 treinadoras sendo eu responsável pela parte técnica e a Rosi e Erika pela parte de treinamento para condicionamento físico. Além disso, temos uma equipe feminina de ciclismo profissional que conta com suporte médico, treinamento e equipamentos, para competir em alto rendimento provas nacionais e internacionais. Esse time é a LuluFive Team, composta por 5 ciclistas que têm outras atividades além de pedalar, como profissão, filhos, vida social, etc. É uma equipe inspiradora!

Temos aulas para iniciantes 2 vezes por semana e para ciclistas que já pedalam com mais frequência 3 vezes por semana. As aulas acontecem na USP ou na Ciclovia da Marginal Pinheiros, sempre na parte da manhã e sempre com orientação de uma das professoras. Quando as mulheres aprendem a pedalar e se desenvolvem no esporte, elas alcançam outros benefícios.

Muitas das alunas que entraram para o grupo nos últimos dois anos passaram por transformações em seus estilos de vida, melhoraram a autoconfiança, o amor próprio, o estado de espírito e gerenciamento de crises pessoais.

Agora, além do público feminino, queremos abranger também seus cônjuges e filhos, criando produtos e serviços que possam ser compartilhados com toda a família. Hoje oferecemos serviços como Consultoria em Equipamentos, Treinamento (Técnica e Performance), Lulu Travel Experience (viagens pelo Brasil e pelo mundo para pedalar) e Corporativo (com conteúdo para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dos colaboradores de empresas, conteúdo para ajudar empresas a estimular os colaboradores a usarem a bike como meio de transporte, além de treinamento de equipes corporativas).

  • Como é a sua atuação?

Gisele Gasparotto: Eu sou a fundadora da Lulu e cuido do setor estratégico, administrativo, marketing, comunicação, mídias sociais, planos e financeiro. Além de dar as aulas de técnica presencialmente e ainda ser uma das ciclistas da Equipe LuluFive Team. Mas hoje tenho algumas pessoas que me ajudam na gestão do negócio. Curioso que todas pedalam e vieram do networking que construí na LuluFive.

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  • Como foi no início?

Gisele Gasparotto: Para ser bem honesta eu nunca imaginei que a LuluFive fosse chegar onde chegou. Uma marca forte, que praticamente todos do meio conhecem, admiram e querem fazer parte. As coisas foram acontecendo, um passo por vez, mas sempre com muita dedicação. O meu maior desafio foi deixar a estabilidade que eu tinha na empresa em que trabalhava como executiva de seguros para começar um negócio do zero. Ainda tenho a preocupação de não conseguir ganhar o quanto ganhava quando tomei a decisão de empreender, afinal, também tenho contas para pagar e não posso viver apenas de sonhos. Mas eu acredito no sucesso da empresa e hoje busco formas de escalar a LuluFive para o Brasil.

E esse é o grande desafio: escalar a empresa. Ainda estamos planejando e testando algumas formas para tornar a Lulu grande e sólida. A falta de caixa para grandes investimentos é algo preocupante, pois alguns investimentos só consigo fazer aos poucos, conforme o caixa da empresa gira.

  • Teve algum momento em que você pensou em desistir?

Gisele Gasparotto: Antes de sair da corretora de seguros para abrir a minha empresa, pensei em desistir. Mas as coisas aconteceram de uma forma tão intensa que fui em frente. Desde então, nunca pensei em desistir, mesmo com as dificuldades ainda estou muito motivada, otimista e com uma visão estratégica que me faz perseguir no planejamento.

  • E quais estratégias têm dado melhor resultado nesta trajetória?

Gisele Gasparotto: Certamente a filosofia e o manifesto sobre empoderamento #ridingtoempower tem dado muito resultado. Todas admiram e querem ser Lulu. Todas se acolhem e acreditam na transformação de suas vidas. Isso é poderoso. Além disso, sempre pensar à frente. Sempre pensar em ser diferente e inovar neste segmento. Isso tem dado muito certo!

  • Por outro lado, quais caminhos foram deixados de lado no decorrer do processo?

Gisele Gasparotto: Não acredito que tenha deixado algum caminho de lado, mas fui me adaptando e melhorando o que não funcionava bem. Sempre tive o cuidado de ouvir a cliente e entender o que é importante para o meu público. Por exemplo: todos os meses, eu fazia um treino gratuito para mulheres que queriam conhecer a LuluFive. Mas muitas confirmavam e no dia, não apareciam. Então, eu passei a cobrar uma taxa de inscrição antecipada. O mesmo aconteceu para outros serviços / produtos que tentei implementar. Foram aprimorados.

  • Qual seu maior objetivo?

Gisele Gasparotto: Quando comecei a pedalar, senti as mudanças que a atividade física proporciona a qualquer pessoa que se dedica, entretanto, as maiores mudanças foram internas. E não me dei conta disso tão cedo, fui percebendo essas mudanças aos poucos. Acredito que me tornei um ser humano melhor. Melhor para mim e consequentemente, melhor para os outros. E, quando me deparo com os depoimentos das diversas alunas, sinto que estou no caminho certo, atendendo o meu chamado.

  • Qual foi o maior desafio que você enfrentou na vida empreendedora? Como você o superou?

Gisele Gasparotto: Tenho uma dificuldade enorme de precificar o trabalho da LuluFive, saber se estamos cobrando certo por um produto ou serviço, de forma a ter uma rentabilidade que faça a minha empresa crescer. Hoje, com o intuito de tornar a empresa mais profissional, estamos reformulando todos os valores dos nossos produtos e serviços a fim de melhorarmos nosso faturamento.

  • Qual foi a sua maior conquista até aqui?

Gisele Gasparotto: Manter um grupo de 60 mulheres unidas, cada qual com sua história de superação e transformação e tornar a LuluFive a marca do ciclismo feminino no Brasil, uma referência de conduta, organização e força da marca.

  • Na sua opinião, qual a relação entre a mobilidade urbana, o empreendedorismo e o empoderamento feminino?

Gisele Gasparotto: Minha história envolve mobilidade urbana, empreendedorismo e empoderamento feminino, exatamente nesta ordem. Eu comecei a pedalar como meio de transporte em 2005, pois, morava longe do trabalho e demorava muito tempo no trânsito caótico de São Paulo. Então, decidi comprar uma bike para economizar tempo e ainda fazer uma atividade física. A partir daí fui melhorando minha relação com a cidade, com as pessoas, com o trânsito. Meu estresse diminuiu absurdamente pois passei a ser dona do meu tempo. Então, essa trajetória me despertou para empreender, já que poderia compartilhar minha experiência com outras pessoas e facilitar suas vidas.

Acredito que antes de empoderar outras mulheres, eu me empoderei. A minha relação com a bike me muniu de autoconfiança, força e determinação que ajudam a me comunicar com outras mulheres de forma fluída, fácil e inspiradora.

  • Se pudesse dar apenas uma dica para quem está querendo empreender, qual seria?

Gisele Gasparotto: Seja humilde para aceitar os erros e aproveite-os como oportunidade para crescer e melhorar. Acredite e seja otimista, mas trabalhe duro. Execute! Ouça seus clientes e o que eles querem.

 Gisele Gasparotto. © Daniel Ferreira FOTOGRAFIA