Anderson Ricardo Schörner
entrevista Marcia S. Z. Goettms

A. Fale um pouquinho sobre como o grupo nasceu.

M. O grupo Elas de Bike nasceu através de uma conversa entre três amigas: Marcia Sandra Zanivan Goettms, Simone Raber e Simone Zanotto. Elas participavam do grupo de pedal da cidade (Pedal Maravilha), mas notaram que algumas mulheres que estavam iniciando no pedal desanimavam porque não conseguiam acompanhar o grupo, que já contava com ciclistas mais resistentes e com condicionamento físico melhor. Querendo ajudar essas iniciantes e com a proposta de organizar pedais mais leves dentro da cidade durante a semana, criamos um grupo só de mulheres, que aos poucos foi crescendo, se moldando e ganhou o nome Elas de Bike.

© Arquivo Pessoal

Esse ano o grupo completou três anos e conta com cinquenta e cinco participantes. Temos como objetivo divulgar a prática do ciclismo feminino. Visamos o bem-estar, as amizades, o companheirismo, sempre respeitando os limites de cada uma. A ideia é trazer sempre mais mulheres para participar, apoiando quem está iniciando, esperando nas subidas, ajudando quem não está muito bem, dando aquela força para a pessoa se sentir vencedora quando chegar em casa. Isso porque já ouvimos muitas mulheres comentarem que ao dizerem ao marido, irmão ou pai que iam pedalar 15 ou 20 km com o grupo ouviram: “Já vou ficar preparado, antes de você sair da cidade já vai me ligar para ir te buscar, não aguenta ir até o trevo da cidade, imagina fazer 20 km no interior”! Queríamos ajudá-las a se sentirem orgulhosas por terem conseguido pedalar toda a distância, e que quando chegassem em casa felizes por isso, pudessem contar para todo mundo o que tinham feito.

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No início dos pedais do final de semana, tínhamos carro de apoio para que todas pudessem participar conosco. Hoje isso não é mais necessário, já que todas as participantes têm resistência suficiente. Temos mulheres do grupo que fizeram Audax 200km e o desafio da subida da Serra do Rio do Rastro.

Adotamos alguns mandamentos em nosso grupo:

  • Batalhar pela missão e visão do grupo.
  • Segurança Pessoal (EPI).
  • Saber os seus limites.
  • Amizade, companheirismo e união.
  • Educação no trânsito.
  • Bom senso na exposição de ideais.
  • Resgatar os companheiros desgarrados.
  • Não denegrir a imagem do grupo.
  • Utilizar trajes adequados para o ciclismo.
  • Manter o bom humor e aproveitar o pedal.
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A. De que forma o grupo tem contribuído para que mais mulheres (re)descubram a bicicleta?

M. Cada passeio é uma aventura com nossas MTB nas estradas do interior, como uma terapia. Tiramos muitas fotos, rimos e nos divertimos muito. Isso é tudo que a maioria das mulheres quer depois de uma semana cheia e estressante. Sem contar que mulher carrega uma carga pesada quando chega do trabalho, com filhos e marido, e ainda precisa dar conta das tarefas de casa. Portanto, quando uma mulher que pedala se reúne com outras que não pedalam começa o interrogatório. Como funciona o grupo de vocês? Como faz para participar? E assim vai! Praticamente nem precisamos convidar, apenas contamos como funciona e elas se empolgam e querem participar. Emprestamos a bicicleta e os acessórios de segurança para os pedais mais curtos semanais, e depois, se a pessoa gostar, ela vai encarando outras quilometragens.

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A. Como são os pedais?

M. Realizamos pedais curtos dentro da cidade em torno de 15km/20km, geralmente no asfalto. Nos finais de semana os trajetos são de 35km a 50km em estrada de chão, interior mesmo, aproveitando e apreciando a natureza, sem pressa, usufruindo do nosso clima e das frutas de época.

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A. Quais os benefícios de pedalar em grupo?

M. Amizades, companheirismo, respeito e paciência.

A. Quais benefícios a bicicleta trouxe para a sua vida?

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Meu nome é Amanda Goettms, estudante, tenho 22 anos e sou natural de Maravilha/SC. Eu gostaria de contar um pouco da história de como pedalar mudou a minha vida. Sempre fui uma pessoa muito ansiosa e há pouco tempo esta ansiedade fez com que eu desenvolvesse a síndrome do pânico. Nessa época eu fui tomada pelo medo, tinha medo de sair de casa, de frequentar alguns lugares e sentia que não era capaz de superar isso. Mas eu sabia que se quisesse melhorar deveria fazer algo por mim, e com a ajuda e incentivo de algumas pessoas eu comecei a pedalar. A bicicleta foi uma forma que eu encontrei de sair da minha zona de conforto e enfrentar os meus medos e ao mesmo tempo praticar um esporte que fizesse bem para a minha saúde. Cada quilômetro era uma vitória para mim, cada pedal era uma superação e eu lembro hoje que toda vez que chegava perto de um morro eu pensava: “se eu consigo subir esse morro então eu também consigo superar os meus medos”. E foi isso o que aconteceu. A bicicleta me ajudou a superar muita coisa e me trouxe a sensação de liberdade, saúde, confiança, fez com que eu acreditasse mais em mim e ver que eu sou uma pessoa forte e capaz de fazer aquilo que eu quiser! A bicicleta fez eu ver o mundo de outra forma, dar valor as pequenas coisas, me mostrou o que é companheirismo e me trouxe muitas amizades. Pedalar melhorou a minha saúde mental e também minha saúde física, que junto com uma alimentação balanceada auxiliou no meu emagrecimento, onde eliminei 14kg. Com certeza eu era uma pessoa antes da bicicleta e hoje sou outra, muito mais feliz e realizada!

Amanda Goettms antes e depois © Arquivo Pessoal

Meu nome é Josiane Serpa Bordin, professora e tenho 35 anos. Comecei a pedalar em uma fase bem difícil da minha vida. Fui incentivada a pedalar por uma prima que fazia isso. Aí procurei a Márcia e fui muito bem recebida. Desde então tomei a decisão de trocar o antidepressivo pela bicicleta e tive total apoio do meu marido. Foi uma troca positiva, ganhei disposição, outro brilho no olhar, saúde, boa forma e felicidade. O começo foi difícil, mas hoje pedalo em média três vezes por semana, e estou há um ano sem tomar antidepressivos. Para mim a bicicleta representa liberdade, uma transformação positiva de si mesma. Prazer, força, determinação, o sorriso da conquista e amizades para a vida toda.

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Me chamo Luciane de Queiroz Simoneti, empresária e tenho 32 anos. Quando comecei a pedalar com grupo Elas de Bike, há pouco mais de um ano, ninguém acreditava que eu conseguiria, na verdade, eu também não acreditava. Mal sabia andar de bicicleta e nem tinha uma, mas tinha vontade e queria mostrar para os outros (e para mim mesma) que eu conseguia. Arrumei uma bicicleta emprestada, um capacete emprestado, e fui! Contei com a ajuda e a paciência das meninas (especialmente da Marcia e da Maristela). Foi difícil, mas foi maravilhosa a sensação de superação ao voltar para casa. Superação é a palavra que me acompanha em cada pedal, nunca imaginei fazer os percursos que faço hoje. Sei que não sou a melhor, ou a mais rápida, mas cada uma do grupo tem seus objetivos, e eu já alcancei os meus, já defini outros e os estou alcançando. Penso que o mais importante não é a distância, ou a velocidade, mas sim, não desistir. Melhorei muito a minha qualidade de vida, perdi peso, conheci pessoas maravilhosas, amigas que vou levar para a vida toda. Incentivei pessoas a pedalar também e principalmente, recuperei a confiança em mim mesma, passei a me ver de forma diferente. A bicicleta me ajudou a superar meus medos, inseguranças, elevou minha autoestima, me fez uma pessoa mais feliz.