Desafiamos a Sense Impulse E-Trail nos terrenos mais técnicos da Suíça. Tivemos a oportunidade de explorar os mais famosos roteiros de Valais, região dos Alpes suíços que faz fronteira com a França e a Itália. A ideia foi testar como seria encarar um terreno tão exigente, com a nova tendência das mountain bikes elétricas. A bordo de uma Sense Impulse e-Trail, nós do Pedal, representados por Gustavo Abah e Pedro Cury, dois experientes ciclistas e produtores de imagem, contamos um pouco dessa experiência.

Nossos principais trajetos foram o Stoneman Glaciara, emendando coam Zermatt e finalizando na região de Val d’Anniviers. Contando com toda a organização suíça, a região possui mais de 100 trilhas homologadas totalizando 1.500 km, 11 pumptracks, 20 bike schools e 13 pistas de downhill.

Pôr do sol com visual das grandes montanhas da região. © Pedro Cury

CONHECENDOO STONEMAN

O Stoneman é uma série de desafios na Europa, atualmente com uma versão na Alemanha, uma na Áustria, outra na Itália e agora na Suíça. Criado por Roland Stauder (um ex-campeão de mountain biking), com um formato curioso – ao invés de ser uma competição, o roteiro se coloca como um desafio pessoal para os participantes. Você pode escolher completá-lo em um, dois ou três dias. Ao final existe um troféu de finalista, com a classificação ouro, prata ou bronze, de acordo com a quantidade de dias que foram necessários. Para tornar tudo mais interessante e motivador, existe um cartão do evento com os principais cumes listados em que o participante vai marcando ao atingir suas conquistas.

Nosso guia Romeo dando algumas instruções do trajeto. © Pedro Cury

STONEMAN GLACIARA

O Stoneman Glaciara é o desafio mais recente e o primeiro da série na Suíça. Recebe este nome porque uma das vistas mais exóticas é a do Grande Glaciar de Aletsch, uma geleira milenar de 23 quilômetros de extensão e uma incrível marca de 27 bilhões de toneladas de gelo estimado. Durante o percurso é possível vê-la de diferentes distâncias – no primeiro dia, chegamos praticamente ao lado desse caminho de gelo que nunca derrete.

O percurso de 127 km acumula 4.700 metros de subida. Como nas outras edições, pode ser feito em 1 ou 3 dias de acordo com o desafio que cada um quer superar. Como o circuito é muito bem sinalizado, também é possível fazer sem qualquer limite de tempo ou apenas algumas partes. Pelo caminho, grandes montanhas como Aletschhorn, Eiger, Mönch and Jungfrau e o imponente Matterhorn. Além das montanhas famosas, é possível avistar mais de 40 picos de mais de 4 mil metros de altura, uma visão incrível de uma paisagem alpina que não estamos acostumados no Brasil.

E-STONEMAN

Um dos objetivos da viagem da Suíça era testar a Sense Impulse e-Trail, a nova mountain bike elétrica da Sense. Por estarmos de bicicleta elétrica, o desafio não vale o troféu no final. Optamos também por fazê-lo em três dias, já que nosso objetivo era diversão, conhecer e aproveitar bem o percurso para produzir fotos e vídeos.

Com o nosso objetivo um pouco diferente do normal, tivemos que fazer um planejamento distinto. Apesar de estarmos em bicicletas elétricas, o percurso tem tantas subidas que foi necessário levar uma bateria extra na mochila para os dois primeiros dias, além do carregador para qualquer emergência. Para nós, algo bem diferente, já que no Brasil usar apenas uma bateria sempre foi o suficiente para enfrentar grande parte das situações.

Pôr do sol com visual das grandes montanhas da região. © Pedro Cury

SUBIDAS INTERMINÁVEIS, ALTITUDE E PARTES TÉCNICAS

Durante três dias, contamos com a ajuda de Romeo Volken, um excelente guia, que não só nos guiava, mas também levava ferramentas, falava diversas curiosidades da região e dava uma ajuda no timing para completar os percursos enquanto nós produzíamos o material.

DIA #1 DE BELLWALD A BETTMERALP

O primeiro dia tem o percurso mais bonito e também mais técnico. Foram mais de 50 km acumulando mais de 2 mil metros. As subidas foram bem espaçadas e a cada pico conquistado, uma paisagem ainda mais bonita. Como curiosidade, dividimos parte desse percurso com os competidores da ultramaratona Swiss Epic, que acontecia na região nessa mesma data.

O TÚNEL

A travessia do túnel gelado. © Pedro Cury

A maioria dos percursos foi em estradas de terra, passando por lagos e uma das partes mais curiosas foi um túnel atravessando uma grande montanha. Estava calor, acima dos 20 graus e até então estávamos de bermuda e camisa. Ao chegar na boca deste túnel, nosso guia colocou um corta-vento. Perguntamos se realmente precisava e ele respondeu que não custava nada evitar uma temperatura um pouco mais baixa. Achamos inicialmente um pouco de “frescura”, mas seguimos seu conselho.

Não é à toa que sempre devemos seguir os conselhos dos “locais”. Dentro do túnel havia uma corrente de vento e a temperatura estava abaixo dos 10 graus. Para piorar, havia chão de terra molhada, goteiras, iluminação quase inexistente e foram quase 5 minutos de travessia!

Lado a lado com a Geleira de Aletsch. © Pedro Cury

GELEIRA DE ALETSCH

Já fora do túnel, depois de mais alguns quilômetros subindo, demos de frente com uma das paisagens mais bonitas: a famosa geleira de Aletsch. É uma paisagem muito grandiosa, que as vezes nem parece de verdade. Olhando rápido parece apenas uma estrada de gelo, mas parando e reparando com calma é possível ver mais detalhes, a real distância e toda a grandiosidade daquele cenário. É claro que paramos para fazer muitas imagens. Até então, tudo estava mais tranquilo, sem muitos desafios. E começamos a descer. Pedras, mais pedras e estávamos em um singletrack bem técnico ao lado do abismo! Caminhos estreitos e perigosos, mas uma paisagem deslumbrante! Era se segurar para não tirar a atenção da descida.

A grande subida tem a recompensa da paisagem. © Pedro Cury

E então, novamente subidas que nos levaram para um cume ainda mais bonito! A enorme geleira, que tínhamos visto tão longe, agora estava praticamente ao nosso lado! E para completar, tínhamos uma visão completa, com o pôr do sol, das maiores e mais famosas montanhas da região, além de um pequeno lago. Sem dúvidas, a paisagem mais espetacular da viagem! Depois disso, seguimos apenas com descidas de volta ao hotel.

DIA #2 DE BETTMERALP A ERNEN

No café da manhã fizemos um briefing do que esperar deste dia. Seria bem diferente dessa vez, não teríamos tantos trechos técnicos, mas sim uma subida muito dura! Depois dela, aproveitaríamos descidas mais tranquilas e bonitas, até precisar fazer outras subidas menores. Um dia desgastante, que acumularia 2.400 metros.

A SUBIDA TENEBROSA

Tá vendo o ziguezague na montanha? É a nossa próxima subida… © Pedro Cury

A Subida do Rei, como é chamada, é uma antiga estrada de terra militar, que acumula de uma vez 1.600 metros! No final dela, chegamos ao Breithorn, numa altitude de 2.451 metros.

No dia anterior já fomos avisados da dureza dessa subida, quando o guia nos mostrou, lá do outro lado das montanhas, um ziguezague desenhado na encosta, que nem parecia de verdade!

Apesar de não ser técnica, a subida tem trechos de inclinação passando dos 16% quase sem trechos de alívio. O pior de tudo é achar que já está na metade e não ter chegado nem ao fim do primeiro quarto. Antes de chegar ao topo da subida, quase todos consumimos uma bateria inteira da bike, mesmo tendo o cuidado de se manter o máximo possível no modo econômico. Uma subida dura mesmo para elétricas. Ao chegar, a recompensa: um visual deslumbrante do vale, com diversos picos nos cercando.
Aqui um destaque foi uma ciclista francesa, que estava fazendo o trajeto sozinha, com uma bicicleta tradicional e com um ritmo bem forte. Ao chegar no topo, ela parou a bike e foi fazer uma “corridinha” até um outro pico. E não, ela não era uma atleta profissional!

CHALÉ AUTOSSUFICIENTE NO MEIO DO NADA

© Pedro Cury

Saindo do roteiro tradicional e confirmando as vantagens de se ter um guia, depois de uma descida divertida pelo vale, chegamos num chalé muito pequeno, um pouco fora da estrada, onde fomos recebidos com cerveja pelo dono, amigo do nosso guia. Além do brinde agradável, nosso amigo mostrou com orgulho o chalé que ele construiu ao longo de alguns anos. O impressionante foi ver que num espaço tão minúsculo e num lugar tão isolado, ele tinha um beliche, um frigobar, banheiro e principalmente energia à vontade gerada por uma pequena “bomba hidroelétrica” que ele criou ao lado do rio. Depois da pausa, continuamos nosso trajeto com mais algumas subidas e descidas até o hotel.

DIA #3 FUGINDO DO SCRIPT

O terceiro dia é conhecido por ser mais relaxado, com subidas menores e terreno pouco técnico. Subimos “apenas” mil metros e tivemos mais tempo para apreciar as pequenas vilas da região, algumas de até 600 anos de existência.

© Pedro Cury

Para deixar tudo ainda mais interessante, vendo nosso nível técnico e preferências, nosso guia saiu um pouco do roteiro tradicional e nos apresentou algumas trilhas alternativas com singletracks técnicos para aumentar nossa diversão.

STONEMAN GLACIARA FINALIZADO

Uhuuul! Completamos o Stoneman! © Pedro Cury

E então no final do dia, completamos o grande loop. Voltamos para Bellwald, onde marcamos o último ponto no nosso cartão e, novamente, fomos recebidos com cerveja!

ZERMATT

Quebrando um pouco a rotina de pequenas vilas medievais e roteiros desconhecidos, fomos até Zermatt, um conhecido resort de esportes de montanha, sendo sua maior atração a vista do grandioso Matterhorn, a montanha mais famosa da Suíça – aquela estampada nos chocolates Toblerone.

Dessa vez, nossa rotina foi totalmente diferente. Gustavo Abah se aventurou em sua primeira prova de Enduro, a Helvectic Cup, parte do Trailove Festival. Enquanto Pedro Cury se concentrou em buscar novos cenários para fotos e testar um pouco mais a bike. Além de trilhas menos exploradas, Zermatt contou com um bike park com algumas trilhas de diferentes níveis técnicos e estilos. Para nossa sorte, neste final de semana aconteceu a inauguração da Sunnegga-Trail, uma “flow trail” minuciosamente construída para ser divertida e fluída, com dezenas de curvas em relevê e subidas e descidas lembrando trechos de pumptrack.

Confirmando sua fama, uma das melhores fotos da viagem foi justamente quando o Matterhorn surgiu na neblina, mostrando toda a sua grandiosidade. Tivemos uma tarde completa com sol, mas infelizmente, a chuva nos pegou na metade do dia seguinte.

Pedra é o que não falta em Zermatt. © Pedro Cury

VIAGENS INTERNACIONAIS SÃO ENRIQUECEDORAS

Nós, que fazemos mountain biking, muitas vezes acabamos nos concentrando apenas nos treinos e desafios do percurso. Porém, muito da riqueza de uma viagem internacional está em outros detalhes. Não só a paisagem, mas a comida, os costumes, os hotéis com suas particularidades e conversar com os locais, principalmente os guias. Existe sempre uma curiosidade ainda exótica com o Brasil e é muito interessante o fascínio deles em saber que também somos apaixonados e temos tanta vivência nesse esporte que pra nós é tão diferente. Os pacotes oferecidos para esses roteiros incluem hotéis e alimentação típicos, com cada lugar mostrando uma determinada particularidade e sempre agradando. Um destaque em todos os hotéis foi a variedade de pelo menos 8 queijos. Afinal, estávamos na Suíça!

VAL D’ANNIVIERS

Saindo de Zermatt, pegamos algumas horas de trem e de ônibus para chegar a uma nova locação, muito mais remota e dessa vez saindo da parte alemã e entrando na parte francesa da Suíça. É interessante notar essa mudança dentro do mesmo país, quando se pede informações e vemos outros sotaques e costumes. O vale de Val d’Anniviers liga a cidade de Sierre com as pequenas vilas de St-Luc, Chandolin, Zinal, Grimentz e Vercorin. O visual também traz picos de mais de 4 mil metros de altitude e algumas dessas vilas são as mais altas da Suíça, estando acima de 2 mil metros. Desta vez estivemos com um novo guia, o Baptiste Toffolon, que teve a missão de nos levar nos melhores locais por dois dias. Para diversificar o rolê, pedalamos tanto com a Sense quanto com uma bike tradicional, revezando as bikes de acordo com as trilhas.

Zermmat não é só o Matterhorn, e o visual é sempre impressionante.

A TRILHA DOS PLANETAS

Começamos nosso dia com um pedal um pouco mais turístico. A Trilha dos Planetas é uma estrada compartilhada entre bike e caminhantes, com uma característica muito interessante – ela foi criada simulando o sistema solar e seus planetas em uma escala reduzida. Cada metro corresponde a um milhão de quilômetros no sistema solar e existe uma escultura representando cada um dos 9 planetas na distância que seria correspondente à escala real. Realmente muito interessante.

MAIS VISUAL E BLUEBERRIES

Ao final da trilha, fomos almoçar, e ao recomeçar tivemos umas das melhores sobremesas: blueberries (mirtilo) diretamente da fonte. Conseguimos pegar diretamente do chão as pequenas frutas que são tão caras por aqui. A partir daí, já fora da Trilha dos Planetas, foi quando começou a diversão. Tivemos alguns quilômetros de trilhas técnicas, tanto abertas quanto fechadas, naquele visual de tirar o fôlego. Passamos por mais duas pequenas vilas até voltar ao nosso hotel.

BIKES ELÉTRICAS PRÓS E CONTRAS

Bikes elétricas ainda despertam polêmica e preconceitos. Sempre alguém vem com o “argumento-clichê” de que é coisa de preguiçoso. Mas a verdade é que as e-MTBs trazem uma dinâmica diferente ao rolê, ao invés de ser apenas superação, o foco fica sendo diversão. No nosso caso, ainda tivemos mais uma vantagem: as bikes elétricas nos permitiram levar muito mais material, como drones, câmeras maiores, lentes e flashes. Carregar quase 10 kg em uma mochila, com uma bike tradicional em circuitos duros assim, é inviável. Apesar de possível, acaba com qualquer diversão. Outra vantagem é que com a ajuda do motor, fica mais fácil levar uma bicicleta de mais curso nas suspensões e pneus mais grossos, o que torna as descidas muito mais prazerosas e divertidas. O que é melhor? O mérito de superar a subida com uma bike tradicional ou a diversão de estar com uma bike capaz nas descidas e repeti-las diversas vezes? A resposta é: não tem melhor, são diversões diferentes!

VISITANDO A SUIÇA

A Trilha dos Planetas com seu visual épico. © Pedro Cury

Chegando pelos aeroportos de Zurique ou Genebra, a melhor maneira de viajar pela Suíça é de trem, combinando com ônibus nos locais mais remotos. Na verdade, para acessar essas regiões, muitas vezes é a única opção e muito mais barato que alugar um carro. Tanto os ônibus quanto os trens são preparados para levar as bicicletas e malas. Uma vez entendendo como funciona o sistema, é tudo bem fácil e flexível. Os sites abaixo têm todas as informações necessárias para que você também possa ter essa experiência.

SENSE IMPULSE E-TRAIL

Testar uma bicicleta nacional na Suíça, sem dúvida, foi algo inusitado. Foi bem interessante ver a “cara de surpresa” das pessoas quando explicávamos que uma marca brasileira estava ali para competir com as internacionais. Se formos resumir, podemos dizer que se a Sense encarou essa viagem tão exigente, ela encara qualquer coisa! Mas para entrar em todos os detalhes, temos nessa edição da Revista Bicicleta o teste completo da Sense Impulse E-Trail 2019.

© Pedro Cury

TRILHAS SECRETAS

Já no segundo dia, além do percurso tradicional, nosso guia viu que gostávamos das “brabeiras” e nos mostrou algumas das trilhas secretas da região, com direito a muita inclinação, pedras e terra solta. Um prato cheio para quem gosta de terreno desafiador.
Este rolê fechou nossa viagem espetacular. E não sei se ficamos mais felizes ou mais tristes em ouvir dos guias que por onde pedalamos o dia todo não é nem metade das opções possíveis!

© Pedro Cury

VÍDEOS

Quer ver como foi essa viagem em vídeo?
youtube.com/cascagrossatv

AGRADECIMENTOS E REFERÊNCIAS

Sense Bike / sensebike.com.br
Valais Promotion / valais.ch
Switzerland Tourism / myswitzerland.com
Zermatt / www.zermatt.ch
Gustavo Abah / Casca Grossa TV
Rodeo Bike Co / rodeobike.ch