A “Serra do Brigadeiro” é a abreviação usada para o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro ou de forma escrita simplesmente, PESB. Tudo se refere ao mesmo local, uma área preservada pela força de lei e pelas ações conjuntas do Estado, comunidades, projetos socioambientais e turísticos. O PESB está localizado na Zona da Mata Mineira, cerca de 290 km da capital, onde predomina a Mata Atlântica e importantes nascentes que alimentam as bacias do Rio Doce e Paraíba do Sul. “Na fauna diversificada presente no PESB, destacam-se a suçuarana ou puma, a jaguatirica, a caititu, o veado mateiro, o cachorro-do-mato, o tamanduá-de-colete, o caxinguelê, a preguiça-de-três-dedos, o macaco-prego e o sagui-da-serra. Nas matas do Parque foram localizados dois grupos independentes de mono carvoeiro, também conhecido como muriqui, maior primata das Américas, ameaçado de extinção” (fonte: site www.ief.mg.gov.br).

Cachoeiras com águas cristalinas, outras esverdeadas, que atraem visitantes para banho. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

Somando tudo isso aos Campos de Altitudes e às formações rochosas aparentes, não tem como negar que acaba por formar um complexo de terrenos que abriga diversas modalidades esportivas, uma delas a tratar, o Mountain Bike. Informação de destaque é que o Brigadeiro é um dos poucos parques do Brasil que permite a circulação de bicicletas em suas trilhas, previamente agendada, de acordo com a capacidade de carga de cada uma. As trilhas são caminhos criados da época da extração da madeira, quando o local era fonte de combustível para os fornos das antigas siderúrgicas. Hoje, com a preservação, a natureza cuidou da recomposição e transformou as antigas estradinhas de servidão em trilhas para caminhadas, escaladas, cavalgadas e também o MTB. A partir de acessos dessas trilhas é possível chegar em diversos picos, sendo os mais conhecidos: o Pico do Boné, Pico do Cruzeiro e Pico do Itajuru.

Ciclistas entrando na trilha do PESB para iniciar cruzada. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

O Brigadeiro tem uma área de formato longiforme, sendo uma formação que divide municípios da parte leste para a parte oeste. Antigamente, desde a época dos índios puris que habitavam a região, costume passado adiante para os desbravadores e depois para os lenhadores, as cruzadas eram as expedições que estes grupos promoviam para transpor os maciços e a floresta densa, para passar de leste para oeste e vice-versa.

Ciclistas sobem a Estrada Parque com a vista da Pedra do Pato no topo da formação rochosa. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

Hoje em dia, através de um projeto criado a partir da “Volta do Brigadeiro”, onde a ABRIGA (Associação dos Municípios do Circuito Serra do Brigadeiro) é a proponente e responsável pelo desenvolvimento do turismo e a criação do circuito, através de ações como o “Cruzadas do Brigadeiro”, recria essas atuações históricas de transposição, levando os ciclistas que procuram aventura em terrenos diversificados, com elevada dificuldade técnica, para uma imersão na cultura simples do entorno do parque, bem como para conhecer as estruturas turísticas e a sede do PESB, que fica a 1.200 m de altitude, cravada no topo de uma das cruzadas.

Durante visita à sede do PESB, ciclistas recebem informações sobre a geografia, flora e fauna. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

Para Wagner Toledo, participante do projeto piloto, representante de um grande grupo de ciclistas, traçou o seguinte comentário: “O Brigadeiro oferece quantidade e qualidade de modalidades de aventuras do ecoturismo, sendo uma delas o MTB, que tem atraído grupos para conhecer a região do parque. A Volta do Brigadeiro leva o ciclista para rotas ao redor da unidade de conservação, passando somente por estradas de terra e alguns pequenos trechos de asfalto. Já o Cruzadas do Brigadeiro leva o ciclista para dentro do parque, dentro das matas, em estradas de terra, estradas de servidão, trilhas técnicas, trilhas brandas, trilhas com cavas, rock garden natural e tantas outras dificuldades naturais que mais funciona como um convite para os aventureiros. São dois dias de pedaladas que começam pela manhã e terminam já de noite, no farol, com quilometragem entre 60 e 80 km. Eu digo que pedalar no Brigadeiro transforma. Entra um ciclista, sai de lá outro, completamente diferente, mais forte e preparado para situações extremas”.

Momento de descontração em uma das pousadas de Turismo de Base Comunitária. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

As linhas do projeto

O Cruzadas do Brigadeiro tem como linha base levar agentes de turismo que se relacionam com a bicicleta, dirigentes de grupos de pedaladas e ciclistas diversos, para conhecer a região, se familiarizar com as localidades, conhecer o Turismo de Base Comunitária (TBC), conhecer a sede e as ações do PESB e equipamentos de turismo ao redor, como pousadas, campings e turismo rural. E o veículo base para absorver tudo isso é a bicicleta, em diversos tipos de terrenos. Enquanto a Volta do Brigadeiro trabalha o entorno do Parque, as Cruzadas do Brigadeiro trabalham o centro, ofertando um produto para o público que prefere mais adrenalina, técnica e esforço físico.

Pedra do Pato vista da Estrada Parque enquanto os ciclistas sobem ganhando altitude a cada metro pedalado. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

Cronograma realizado

Aproveitando o feriado de 12 de outubro, os participantes chegaram nesse dia, no distrito de Bom Jesus do Madeira, pertencente ao município de Fervedouro. Saindo da BR-116, o acesso ao distrito se dá pela BR-482, chamada também de Estrada Parque, onde percorreram 20 km de estrada de chão até chegarem na pousada Refúgio dos Galdinos que é um projeto de turismo de base comunitária, onde toda a família trabalha nas suas atividades rurais, mas também se dedicam ao turismo, levando seus hóspedes ao contato pleno com a simplicidade do campo. Alguns ficaram em quartos, outros ficaram acampados, pois a estrutura atende aos dois públicos. Na propriedade tem uma cachoeira que recebe muitos visitantes e acabou sendo a atração do fim da tarde, onde o grupo se reuniu para festejar a chegada e iniciar a confraternização. Ao anoitecer o grupo se juntou para jantar e finalizar a preparação para as pedaladas.

Na Trilha do Carvão tem trecho em que é necessário sair da bike e empurrar morro acima. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

Na sexta-feira, dia 13, o grupo se juntou para o café rural, onde fizeram um pequeno briefing de segurança e saíram pelas estradas de terra, seguindo de Bom Jesus do Madeira para Monte Alverne, pertencente ao município de Miradouro, de onde entraram para a primeira cruzada, pela trilha Pai Inácio. Nessa trilha os ciclistas enfrentaram uma subida técnica em meio a um singletrack com muitas pedras soltas. Quando passaram pela cruzada, desceram até o Complexo Turístico de Dom Viçoso, no sopé do Pico do Cruzeiro, onde conheceram as instalações e receberam almoço. Ao sair do Complexo, desceram por uma trilha até chegar ao distrito de Dom Viçoso, pertencente ao município de Ervália, seguindo para o distrito de Careço. Dessa localidade partiram para a segunda cruzada, pelas estradas de chão, até adentrarem novamente o interior do PESB, pela trilha do Itajuru, que possui uma subida em single track bem marcada e batida, ofertando mais suavidade aos 6 km de escalada. A descida pela trilha do Itajuru é extremamente divertida, em meio a 3,6 km de single tracks. Chegando à comunidade de Pedra Alta, os pedalantes seguiram para Serrania, retornando para Monte Alverne e de volta a Bom Jesus do Madeira. Esse dia foi finalizado com 77 km e 2.387 m de subidas acumuladas (em Garmin). Chegaram à pousada utilizando as lanternas. Mais tarde reagruparam para jantar e aproveitaram para assistir aos vídeos dos testes da Volta do Brigadeiro exibidos pelo gestor Marco Antonio Barros, da ABRIGA.

Quitutes da roça para alimentar os ciclistas no final da Trilha do Carvão, na pousada da Wandica. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

No sábado, dia 14, os ciclistas saíram da pousada passando por estradas de servidão até uma estrada vicinal que entronca com a Estrada Parque (BR-482), por onde subiram até o mirante da Ermida Antônio Martins e logo após, à sede do PESB na qual os ciclistas foram recebidos pelo guarda parque Chico da Mata, como é conhecido o Sr. Francisco, profundo conhecedor das áreas do parque, fauna e flora, com uma ótima didática pra explicar as diversas ações do parque, usando uma maquete interativa como base. Os ciclistas tiveram chance de conhecer um salão repleto de fotos e totens que possuem gravação dos sons de diversas espécies de animais. Após a visita, os participantes continuaram mais um trecho de subida até a terceira cruzada, a qual lhes permitiu uma descida com ampla visão das cadeias de montanhas, até chegar à Pousada Serra D`água, onde conheceram sua estrutura e desfrutaram da cachoeira com uma prainha de areia. Deixaram a pousada e seguiram em direção à cidade de Araponga na qual almoçaram. Logo após o almoço, os ciclistas enfrentaram um sol causticante numa subida bem íngreme, sentido à comunidade dos Estouros, de onde se tem uma visão fantástica da cordilheira formada pela Serra do Brigadeiro. Subiram para a Pousada Remanso, para conhecer outro TBC do lado oeste da serra onde aproveitaram para banhar-se na cachoeira. Ao saírem do local, já estavam próximos ao acesso da trilha do Carvão, que é uma das mais famosas, também a mais técnica do Brigadeiro. Trilha muito usada para trekking, suas cavas, pedras soltas e rock gardens exigem mais habilidade dos ciclistas. A grande maioria dos obstáculos é transponível, alguns trechos exigem o famoso “empuhill” ou “empurra-bike”, que promove um grande treino de técnica para os ciclistas, tornando uma fonte de adrenalina para quem gosta desse tipo de terreno e aventura. Na trilha do Carvão, os ciclistas se depararam com o símbolo do local, que é o chassis de uma carreta abandonada da época das carvoarias, mostrando a história e a capacidade de recuperação da natureza, que ao longo dos anos transformou as estradas de trabalho em trilhas novamente. Nessa trilha os ciclistas enfrentaram 4 km de subidas e 4 km de descidas. Ao final da trilha foram recebidos com um café rural no TBC da Pousada da Wandica que com toda simplicidade produz quitutes fantásticos da gastronomia do campo. Finalizaram o pedal ao anoitecer, chegando ao Refúgio dos Galdinos com 57 km e 2110 m de subidas acumuladas (em Garmin).

Durante cada cruzada da serra, os ciclistas ganhavam altitude rapidamente, no meio de trilhas e pequenas estradas de servidão. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

No domingo, dia 15, os participantes se reuniram no café da manhã, deram uma volta pelo camping onde fizeram gravações para o documentário a respeito do projeto. Arrumaram suas bagagens e partiram para suas casas, transformados pelo que vivenciaram nessa experiência de imersão na vida rural do Brigadeiro, suas pessoas e costumes. Além da transformação na força e técnica da pedalada.

Futuros projetos

A partir desse projeto piloto, Marco Antonio vai disponibilizar informações para que agências e grupos de ciclismo possam agendar essa aventura.

Um chassis de carreta abandonado na Trilha do Carvão é a prova de que no local ocorreu a extração de árvores. © Eduardo almeida / Marco Antônio Barros / Wagner Toledo

Além das escaladas, cavalgadas e trekking, o MTB é o esporte que mais tem crescido na região, trazendo visitantes de diversas partes do Brasil. As estruturas de recepção são simples, mas possuem um serviço feito com carisma, onde os visitantes participam da vida da família que os recebem.

Há um projeto em estudo para utilizar recurso de incentivo ao esporte, para montar uma prova de MTB em 3 estágios, onde os ciclistas ficarão locados nessa mesma pousada, farão uma prova de MTB XCO (circuito) passando pelo distrito de Bom Jesus do Madeira, percorrendo esses mesmos trajetos, já no formato MTB XCM (maratona), com um número limite de inscritos. Será ofertada uma estrutura de banheiros, cozinha e barracas para os atletas. Será uma prova que dará base os ciclistas que desejam fazer provas de 5 ou mais estágios.

Realização

O projeto Cruzadas do Brigadeiro foi realizado com recurso próprio dos participantes que se dispuseram a custear hospedagem e alimentação. O apoio veicular ofertado foi feito pelo gestor Marco Antonio, da ABRIGA, com recurso advindo da Volta do Brigadeiro, que por sua vez teve coordenação da Brazil Foundation e Instituto Votorantim com patrocínio da CBA – Companhia Brasileira de Alumínio. O Parque Estadual Serra do Brigadeiro, através da sua direção, ofertou apoio com guarda parques, que ficaram localizados nas entradas e saídas das trilhas que cruzavam a serra.

Informações para agências e grupos podem ser obtidas através do e-mail:
circuitoserradobrigadeiro@yahoo.com.br

Dados

Acesso ao mapa digital pelo link:
goo.gl/maps/AYRo16Z8qU92