A sétima edição da Algarve Bike Challenge reuniu novecentos atletas de mais de quinze nacionalidades. O extremo sul de Portugal, famoso por suas praias, abre a temporada das competições em estágio no país.

Mantendo a sua base na bela cidade de Tavira, os atletas desfrutam da beleza da região, da qualidade dos percursos épicos e da excelência dos alojamentos; a estrutura disponibiliza tudo o que necessitam desde hospedagem em hotel 4 estrelas, café da manhã, jantar e alimentação durante as etapas. A segurança e os detalhes preparados fazem com que a Algarve Bike Challenge seja única.

A competição de três estágios é composta por um prólogo noturno e 2 etapas totalizando de cerca de 160km.

© Algarve Bike Challenge

Em 2019, a prova volta a não ter marcações. Diferentemente de alguns anos, nessa edição os atletas têm que fazer a navegação por GPS, algo que se torna cada vez mais comum nas provas em Portugal. Sem marcação, economizam-se fitas plásticas e o planeta agradece.

As equipes são sempre duplas divididas em seis categorias, definidas pela idade e sexo dos participantes; Men, Master Men, Grand Master Men, Open Women, Master Women e Mista (para as duplas formadas por homem e mulher).

© Algarve Bike Challenge

As etapas

Prólogo 3km

Num local emblemático bem no centro da cidade de Tavira, o prólogo noturno já é marca registrada da competição, uma aposta ganha que gera público e agitação, atraindo admiradores e curiosos. Vê-se de perto o show e a disputa dos atletas nas técnicas ruas centenárias.

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Com cerca de 3km, o percurso contempla túneis, ruelas, escadarias antigas, curvas fechadas e até subidas técnicas, onde já são testadas as habilidades dos atletas. Apesar de em todos os anos ter se desenrolado na mesma área, a etapa sempre apresenta alterações de trechos e sentidos. A organização gabou-se que o desse ano foi o mais técnico de todas as edições anteriores.

Ao cair da noite, as duplas largam agrupadas de 3 em 3 a cada minuto para uma volta de sprint no divertido circuito.

ETAPA 2 – 88,5km / + 2 mil metros de ascensão

A etapa rainha leva os participantes do nível do mar até 500m de altitude, com 88.5 km de extensão, na sua maior parte, pelo interior algarvio em plena serra do Caldeirão.

Na primeira parte, a mais exigente, os atletas encontram pequenas povoações que parecem perdidas no tempo, mais para frente no concelho de São Brás de Alportel surgem singletracks e algumas trilhas. Entre os quilômetros 42 e 46, são alguns trechos de enduro, zonas mais técnicas que exigem alguma perícia por parte dos atletas. A fase final é no barrocal, num tipo de piso distinto marcado pela pedra solta e trilhas mais estreitas.

ETAPA 3 – 74km / +1.7 mil metros de ascensão

A 3ª e última etapa, em 2019, se distinguiu das etapas dos anos anteriores.

O percurso foi bem próximo da fronteira com a Espanha, com uma longa e exigente subida logo nos primeiros quilômetros.

Depois do primeiro abastecimento, o percurso se torna mais exigente a nível físico.

Só após a 2ª zona de assistência em Vale de Murta, que os atletas descem uma seção de enduro com single tracks.

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Impressões cor de rosa

Foi a segunda vez que competi uma prova em estágios em equipe mista (meus desafios costumam ser em dupla feminina).

Diferentemente da competição anterior, nessa foi possível dividir e gerir melhor o esforço da dupla. Através de um “reboque”, as minhas subidas se tornaram mais leves e isso fez com que a minha energia rendesse mais para imprimirmos um ritmo mais forte e competitivo.

Competir em dupla é estar sempre em sintonia de objetivos, e, em conjunto, trabalhar para que os objetivos sejam sempre alcançados.

Entramos na competição em modo diversão, mas quando vimos que conseguiríamos ainda batalhar por posições resolvemos unir as duas vertentes.

A Algarve Bike Challenge impressiona pelo nível de organização; apesar do número alto de participantes, tudo funciona perfeitamente. Abastecimentos estão sempre cheios, as bebidas são geladas. O staff é extremamente simpático e atencioso.

É uma prova que contempla nas trilhas, desde estradões mais rolantes, até singletracks que exigem boa destreza. De maneira geral, é uma prova mais rolante do que tecnicamente exigente.

O nível internacional com atletas de todo o mundo torna o ambiente divertido e descontraído.

© Algarve Bike Challenge

Os hotéis eleitos para hospedagem dos atletas são ótimos, com quartos espaçosos e confortáveis. Era difícil deixar a piscina para ir competir. Vale a pena planejar mais alguns dias para ficar na região das praias mais bonitas do país!

“Competir em dupla é estar sempre em sintonia de objetivos, e, em conjunto, trabalhar para que os objetivos sejam sempre alcançados. “

Ah mulheres!

O prólogo da sétima edição da Algarve Bike Challenge coincidiu com o Dia Internacional da Mulher, o que convida à abordagem ao tema. Representadas nas duplas mistas e femininas, a pequena, porém crescente, porcentagem de mulheres tem personalidade.

Dupla mista com Ilda Pereira

Vencedora do Algarve Bike Challenge na categoria mista, Ilda Pereira, portuguesa, coleciona títulos nacionais em muitas provas internacionais (inclusive Brasil Ride 2018), e dessa vez encarou o desafio como realização de um sonho.

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“Fui para o ABC 2019 feliz pois estava a concretizar um desejo que tinha de competir em dupla com o meu marido Bruno.” 

Como foi a Algarve Bike Challenge 2019 para vocês?

Ilda: “Depois de ter participado em duas edições do ABC U.C.I, neste ano a expectativa estava em como iríamos nos orientar a competir por GPS. Tal como na vida, sinto-me muito confiante quando meu marido está por perto e o ABC, uma fantástica prova de mountain bike, num local maravilhoso e que este ano contou com o bom tempo, com uma organização composta por pessoas que se entregam de coração e cheias de boas energias, vencer foi só a cereja no topo do bolo. Estar ali, naquele ambiente, poder rever tantos amigos que vou fazendo pelo mundo, na companhia do Bruno, já é ganhar como pessoa.”

Confiança: em si e em que o seu parceiro(a) quer o melhor para si.

Então já tinha feito a ABC antes?

Ilda: “Sim, já tinha feito em dupla feminina em 2016 e 2017, pois as provas UCI são sempre o meu foco.”

Como foi competir em dupla mista?

Ilda: “Para nós foi muito fácil. Talvez a parte mais difícil seja mesmo eu; durante a prova vou muito focada a viver cada pedalada, cada movimento, sempre feliz e atenta! Mas quando a prova termina, fico muito sensível por uns cinco minutos e preciso de tempo para descomprimir da competição e passar à fase seguinte.”

Essa edição você fez com seu marido Bruno Magalhães. Como é “misturar” as coisas?

Ilda: “O Bruno é sempre o Bruno: um amor, calmo, sereno, discreto! Nos entendemos muito bem! Estamos na vida um do outro desde 2000 e casados desde 2005. O Bruno é a melhor parte de mim: meu amigo, namorado, treinador, diretor desportivo, mecânico e, no ABC 2019, a minha dupla. Sabemos que estamos a dar tudo e o segredo foi não deixar o outro desanimar, manter-se forte quando o outro esteve mais em baixo, enfim, apoiarmo-nos na prova como na vida! Hoje em dia, já não misturamos as coisas. Há uns anos atrás, com menos maturidade, tivemos necessidade de separar as coisas porque às tantas estávamos a brigar por causa do ciclismo e de uma roupa que ficou na máquina. Hoje em dia, acho que somos fantásticos na capacidade que temos de saber manter as coisas no seu devido lugar. No fundo, o segredo é a confiança: confiamos um no outro!”

No ano passado, você fez a Brasil Ride em dupla feminina. Quais são as diferenças de competir em dupla feminina e dupla mista?

Ilda: “São duas experiências que têm mais em comum do que pode parecer. Eu adoro a Maya (Mayalen Noriega) e confio nela. Por isso, em prova, eu diria que não senti muitas diferenças: tanto na Brasil Ride como na ABC, eu sabia que a minha dupla queria tanto quanto eu fazer o melhor (im)possível e que ambos se preocupam tanto comigo como eu com eles!”

Entreajuda: dentro e fora de prova não tome nada por adquirido: comunique, sugira, pergunte, escute, esteja atento à linguagem não verbal.”

Mulheres no mountain bike em Portugal. Como é esse universo?

Ilda: “Portugal é um universo complexo no que diz respeito ao mountain bike feminino. Num país tão pequeno e com uma modalidade que tem tanto para oferecer, as mulheres mostram-se resilientes, buscam as melhores oportunidades, vão à luta e são autênticas guerreiras: elas têm de combinar trabalho, estudos e família com a bike. E ainda estamos num cenário marcadamente machista!”

Três dicas da Ilda de como ter sucesso competindo em equipe.

Ilda: ” -Confiança; em si e em que o seu parceiro(a) quer o melhor para si.

– Entreajuda; dentro e fora de prova não tome nada por adquirido: comunique, sugira, pergunte, escute, esteja atento à linguagem não verbal.

– Superação; vá para lá dos seus limites e, quando seu parceiro precisar, seja a força que o vai ajudar a superar-se. Lembre-se: juntos são mais fortes e chegam mais longe.”

Dupla feminina com Ana Bonilla Paez

Dos pódios de grandfondos para a Algarve Bike Challenge, a colombiana Ana se juntou a campeã nacional da Venezuela de XCM 2018, Katherine Lindo. De países diferentes, sem se conhecerem pessoalmente ou treinarem juntas; um enredo com muitas variáveis que se transformou em uma história de sucesso.

© Algarve Bike Challenge

“Para nós foi tudo novo: a corrida, a experiência, competir na Europa em dupla. Nós não conhecíamos Portugal e tudo superou nossas expectativas. Kathe e eu nem moramos no mesmo país. Nós nos vimos apenas uma vez na vida em uma competição, e mesmo sem se conhecer, fizemos essa experiência inesquecível. Foi a minha primeira corrida competindo em equipe feminina e aprendi muito comigo mesmo e com minha parceira. Eu faria de novo mil vezes!”

Como vocês se conheceram?

Ana: “Kathe e eu nos conhecemos em uma corrida de 3 dias na Colômbia. Ela é venezuelana e saiu de seu país para competir com sua equipe no meu. Nós competimos como rivais, mas eu vi uma força interior que me chamou a atenção e houve uma boa vibração entre nós desde o começo. Gostei da sua maneira de competir e no final da prova ficamos conectadas pelas redes sociais. Quando fui convidada para competir na ABC, não hesitei um segundo em convidá-la para isso. E ela, sem pensar também, concordou!”

Como foi competir a Algarve Bike Challenge?

Ana: “Para mim, foi uma experiência não apenas esportiva, mas também um desafio pessoal. Desde o início, meu objetivo era aprender a competir junto com outra mulher. Foram tantas demonstrações de entreajuda, companheirismo e generosidade que pude viver nesses três dias que aprendi a me valorizar como pessoa e atleta, mas acima de tudo valorizar a minha dupla. Kathe me ensinou a importância de alcançar um objetivo juntas e de acreditar que conseguimos!”

Como foi a experiência de competir em dupla feminina?

Ana: “Sabíamos que tínhamos um nível muito equilibrado, mas na verdade tivemos que nos “escanear” rapidamente no prólogo para entender quais eram nossos pontos fortes e fracos. Para mim, ter competido com Kathe me mostrou até onde posso chegar num compromisso com alguém que admiro e respeito. Eu dei tudo para que ela se sentisse orgulhosa de mim, e ela fez isso da mesma maneira. É maravilhoso poder ir no mesmo ritmo que a outra pessoa, sem ter que competir com ela, sabendo que se nos cuidássemos, seria para o benefício da equipe.”

Quais são as diferenças de competir com homens ou mulheres?

Ana: “Eu competi em equipe mista há muitos anos, em corridas de aventura. Para mim, correr com outra mulher pode ser um desafio mais interessante do que correr com um homem. Basicamente, porque com um homem, assume-se que ele pode ser mais “cuidadoso” e que eles podem resolver mais problemas que envolvem força, mecânica, entre outros. Por assim dizer, dá 99% e 1% deixa para o homem cuidar. Quando se compete com uma mulher, acho que a contribuição de cada uma é de 110%. Com uma mulher, não há tempo para reclamar ou abaixar sua guarda.”

Superação: vá para lá dos seus limites e, quando seu parceiro precisar, seja a força que o vai ajudar a superar-se. Lembre-se: juntos são mais fortes e chegam mais longe.”

Mountain Bike na Colômbia. Como é esse universo?

Ana: “O MTB na Colômbia não é tão popular quanto o ciclismo de estrada, ainda mais quando falamos em mulheres. Acredito que no meu país falta acesso à lugares que educam e ensinam as mulheres a brincar com suas bicicletas e torná-las uma extensão de seus corpos. Portanto, andar de bicicleta na Colômbia, no nível feminino, tem crescido substancialmente na estrada, porque para qualquer mulher que normalmente adquire o hábito de andar de bicicleta em uma idade mais adulta, parece mais fácil pedalar em estrada do que na montanha. O mountain bike exige mais logística para praticá-lo, além de muitas habilidades técnicas que nem todo mundo gosta.”

Três dicas da Ana de como ter sucesso competindo em equipe.

Ana: “- Deixe o ego de lado e fale sempre no plural.

– Veja o lado bom de tudo e valorize o esforço que seu parceiro está fazendo por você.

– Entenda quais são os pontos críticos do outro, para tentar resolvê-los, seja com palavras, gestos, ou simplesmente com um bom silêncio.”