Pedalar pela cidade é uma ideia bastante amedrontadora para muitos. São inúmeras variáveis a se pesar quando se começa nessa empreitada urbana, que de início pode ser muito solitária, só você e essa selva de pedra motorizada. Porém, mesmo quando não está pedalando com um grupo específico, você vai notar algumas coisas.

Os ciclistas sempre reparam na presença de outro ciclista, como se estivéssemos cuidando um do outro. Pode reparar: sempre buscamos encontrar o olhar do outro e nos conectamos quando achamos, mesmo que por uma fração de segundos. É uma sensação bem engraçada e, no meu coração ao menos, dá um quentinho. No final das contas, a condição humana é sobre conexões.

Algumas ruas de São Paulo são mais agitadas que outras e exigem um nível maior de presença e atenção. A Rua Butantã, ao lado do Largo da Batata, é uma delas. Em uma das vezes que eu precisei passar por ela, havia um ciclista pedalando a minha frente. Quando ele me viu, olhou bem para o meu rosto e gritou: “Vamos por aqui, essa fila está mais tranquila!”. Pedalamos juntos até o fim daquela via. Parece um gesto bobo, mas não é. Eu me senti muito mais segura pedalando em dupla ali naquela situação. Foi de um companheirismo muito grande com uma pessoa que ele não conhecia.

Cumprimentos, acenos e afins são comuns dentre os que optaram por esta via incomum de se transportar dentro de São Paulo. Isso é se reconhecer dentro das mesmas dificuldades e se encontrar dentro de um grande prazer que é movimentar o corpo nesses tempos em que o sedentarismo é uma epidemia global.

Quando estiver na rua e avistar outro ser pedalante, procure demonstrar, se houver oportunidade, que você o avistou. São várias as questões envolvidas, desde empatia e incentivo até segurança. Sem falar que a comunidade de bicicleta de São Paulo, mesmo sendo bem vasta, ainda é relativamente pequena, e você vai acabar fazendo várias amizades e reconhecer muita gente nestes processos de cruzar com as pessoas por aí afora. E ‘vamo’ combinar que, se tem uma coisa que anda faltando nesses tempos, é o mínimo de olho no olho. Essa é a regra número um!

@oimilo

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