Por que bicicletas, e não carros elétricos, vão salvar o planeta?

Quem acompanha minha coluna sabe que sou um grande entusiasta e defensor dos carros elétricos enquanto modal promissor para a nossa mobilidade urbana, a médio e longo prazo. Mas é fato que, até que esse cenário se popularize pelo país, é preciso investir em modais alternativos que tenham na sustentabilidade seu maior ganho – sendo a bicicleta o mais democrático deles.

Estima-se que, se hoje todos os veículos lançados no mundo fossem elétricos, levaríamos de 15 a 20 anos para substituir a frota mundial de carros a combustão.

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Já as bikes são consideradas “a nova revolução francesa”, segundo reportagem recente do El País, que toma como base o impressionante dado de 62% de aumento no número de pessoas que se deslocam de bicicleta em Paris, em dois anos.

Isso se deve à construção de centenas de quilômetros de ciclovias pela prefeitura da capital francesa (somente em 2020 foram 170 quilômetros), bem como o “empurrão” involuntário nos hábitos de ir e vir, ocasionados pelo isolamento social.

Essa “revolução de bikes” da equipe da prefeita Anne Hidalgo fixou 2025 como meta para criar uma densa rede de ciclovias na periferia de Paris, com conexões abundantes para que os pedais se tornem, de fato, uma alternativa de transporte.

“Carbono zero”

Outro ponto importante, quando levamos em consideração a busca pelas cidades “carbono zero”, é que os veículos elétricos são muito menos poluentes que os movidos a combustão, mas não são verdadeiramente carbono zero – minerar as matérias-primas para suas baterias, fabricá-las e gerar a eletricidade com a qual funcionam produz emissões. Nesse aspecto, nada se equipara às bikes…

Uma maneira de reduzir as emissões de transporte de forma relativamente rápida, e potencialmente global, é trocar os carros pelo ciclismo e a mobilidade ativa, conforme já abordamos aqui na coluna. Afinal, tomando como base a sustentabilidade do modal, ele é mais barato, mais saudável, favorece o isolamento social, é melhor para o meio ambiente e igualmente rápido em centros urbanos congestionados.

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 Mais barato, mais saudável, favorece o isolamento social, é melhor para o meio ambiente

Um levantamento feito pelo professor Christian Brand, especialista em Transporte, Energia e Meio Ambiente da Universidade de Oxford, estima que as pessoas que deixam de dirigir para andar de bicicleta, em apenas uma viagem por dia, reduzem sua “pegada de carbono” em cerca de meia tonelada de CO2 ao longo de um ano. A economia de carbono é a mesma de um voo de Londres para Nova York.

“Se apenas um em cada cinco residentes urbanos mudasse permanentemente seu comportamento de viagem dessa forma nos próximos anos, isso reduziria em cerca de 8% as emissões de todas as viagens de carro na Europa”, afirma o professor, em publicação no portal The Conversation.

Ainda de acordo com o levantamento da Universidade de Oxford, quase metade da queda nas emissões diárias de carbono durante os lockdowns globais em 2020 veio de reduções nas emissões de transporte.

“A pandemia forçou países em todo o mundo a se adaptarem para reduzir a disseminação do vírus”.

“No Reino Unido, caminhadas e ciclismo foram os grandes vencedores, com um aumento de 20% no número de pessoas que caminham regularmente. Já o ciclismo aumentou 9% durante a semana e 58% nos fins de semana, em comparação com os níveis pré-pandêmicos”, explica o especialista.

Em sintonia com o professor Brand, é fato que a mobilidade ativa e o ciclismo podem contribuir para enfrentar a emergência climática mais cedo do que os veículos elétricos, ao mesmo tempo em que fornecem um modal de transporte acessível, confiável, limpo, saudável e que ajuda a reduzir o congestionamento urbano.

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Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa de projetos e soluções em cidades inteligentes, que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre a temática com a chancela da FIRA Barcelona.