Me chamou a atenção que são muitos, muitos os artigos relacionados com a bicicleta na Bélgica. É muito interessante ver o que rola em um lugar com altos índices de uso da bicicleta, e mais ainda, onde pode-se afirmar tranquilamente que está se realizando uma transformação rápida da mobilidade.

Trataremos isso de maneira light, sem academismo, só colhendo exemplos.

Vamos falar apenas de Flandres, região norte e parte nórdica da Bélgica, mas plana, que fala holandês e com relação a uso da bicicleta se parece mais com Holanda, mesmo que tenha um pouco menos de infraestrutura e cultura ciclística. Flandres ocupa 44% do território do país e seus 6,5 milhões de habitantes somam 55% da população da nação. Foquemos nos dois principais veículos de mídia da região. Primeiro, o VRT on-line, que seria o equivalente da BBC: público, mas crítico e independente, até onde vejo. E o segundo, o jornal de Standaard (“DS”), comparável com as mídias ditas “sérias”, ou ainda, de respeito em outras nações.

No que segue, fizemos uma seleção de artigos e completamos com nossos comentários.

A palavra “moordstrookje” foi eleita no fim de 2018 a palavra do ano em Flandres. Uma palavra que tem a ver com bicicleta: seria literalmente “faixinha mortal” e faz referência a uma faixa estreita de bicicleta beirando uma via com carros, o que leva a muitos acidentes, inclusive fatais.

Bem, começamos com uma nota bem negativa.

Em junho, o DS publicou um artigo A, dizendo no título que a população é dividida 50/50 ao responder se é melhor criar ciclovias mais largas ou então criar/preservar mais lugares de estacionamentos para carro. Noventa por cento das pessoas em Flandres possui bicicleta e 30% a usa diariamente. Entre os ciclistas diários, 63% prefere ciclovias mais largas. Das pessoas que não usam a bike, 70% prefere preservar os lugares de estacionamento para carros.

“A CIDADE DE GENT FOI ELEITA A “CIDADE DA BICICLETA 2018” NUM CONGRESSO DE ESPECIALISTAS DE MOBILIDADE. “

DS em 05/06/2018: “A cidade de Gent foi eleita a “cidade da bicicleta 2018” num congresso de especialistas de mobilidade. A terceira maior cidade de Bélgica, com 250.000 habitantes, implementou um plano ambicioso de mobilidade reduzindo drasticamente, em um golpe só, a circulação de carros no centro da cidade.

© sichkarenko_com / DEPOSITPHOTOS

Impossibilitaram a circulação de carro entre seis setores centrais da cidade, sem sair da área urbana. Visualizemos assim: esses seis setores formam as fatias de uma pizza que cobre a zona central da cidade; para ir de uma fatia a outra, é preciso sair pela borda da pizza e fazer o contorno por fora para entrar pela borda em outra fatia. O plano criou um shift do uso do carro para o uso da bicicleta e do transporte público em curto prazo, e conseguiu melhorar a qualidade do ar na cidade. Dependendo do local, houve um aumento de 20%, e até mais, do uso de bicicleta.

Aliás, um artigo de 6 meses depois diz que a cidade de Gent inovou tanto com o plano de mobilidade que a DHL, empresa de logística, começou a distribuir encomendas em bicicletas elétricas de quatro rodas que podem carregar 125 kg e que são bem eficientes B.

Gent vai na frente, e depois seguem outras cidades para esse tipo de distribuição. A DHL diz que isso também ajuda na sua meta de reduzir a emissão de CO² em 30% até 2025.C

Em janeiro de 2018 aconteceu a tradicional feira Velofollies e foi nesse momento que a mídia estatal publicou um artigo sobre melhorar a posição na bicicleta; um artigo que você esperaria da imprensa mais especializada, não é? D

A matéria afirma que dores na região lombar são as mais frequentes. E ainda: “um erro frequente é de levar em conta somente comprimentos e medidas do corpo, sem observar a flexibilidade”. “A bicicleta tem que estar em função do corpo e não o inverso”. “Tem gente que acha que uma dorzinha faz parte na bike, mas isso não é assim.”

“Chamou a atenção que são muitos, muitos os artigos relacionados com a bicicleta na Bélgica.”

E Em Bruxelas, a média é de 1.000 ciclistas por hora em 28 lugares de observação. De 2015 para 2016, houve um grande aumento de ciclistas na cidade. De 2016 para 2017, o número estabilizou. Nos próximos meses de 2019, serão instalados dez postes de contagem. A ideia é analisar se o crescimento de ciclistas é por causa das melhoras na infraestrutura.

F Standaard, dezembro de 2017: 83% das prefeituras constroem mais estacionamentos para bicicletas. Um terço dos municípios tem estações para carregar bicicletas elétricas. Todas as cidades acima de 50.000 habitantes têm um plano de retirada de bicicletas “órfão”, que são as bikes deixadas para trás no espaço público. O investimento em planos e infraestrutura na média é de 6,62 euros por habitante, dos quais quase 10% tem estacionamento para bicicleta.

G Em entrevista, uma princesa dinamarquesa de origem australiana conta que teve emoções de solidão quando se mudou para a Dinamarca. Catorze anos mais tarde, ela se acostumou e é normal vê-la com seus quatro filhos circulando de bike na cidade.

H Standaard, dezembro de 2018: tendência de redução de mortos dos últimos anos revertida. Com 164 pessoas, houve aumento de 1% no número de mortos na estradas de Flandres, de janeiro a setembro.

I Todo dia, dez crianças se lesionam no trânsito. A associação dos ciclistas sugere não deixar crianças com menos de 10 anos irem sozinhos de bicicleta para a escola.

J Standaard, outubro de 2018: a bicicleta compartilhada conhece um aumento grande em Bruxelas, causando listas de espera. O Crowfunding rende 250 mil euros e deve ajudar. Chama a atenção que a metade dos usuários é dono de uma bike convencional.

L Ministro de mobilidade reverte decisão da empresa nacional de trens. Queria-se proibir a bicicleta comum (não a dobrável) nos veículos durante os horários de pico.

M A quantidade de novas ciclovias construídas em Flandres diminuiu. Sete anos atrás, havia o dobro de quilômetros. “Nos concentramos em dispendiosos elos perdidos”, diz o ministro responsável.

N Até junho de 2019, 1.800 bicicletas elétricas devem ser colocadas à disposição para compartilhamento em Bruxelas. O usuário pagará 83 euros por ano (são 33 euros para a bicicleta convencional).

O Foram gastos 2,6 milhões de euros para eliminar desvios na ciclovia expressa entre Leuven e Bruxelas, que tem 25 km de extensão. Ela foi encurtada cerca de 800 metros, mas agora os ciclistas podem pedalar o trajeto com mais segurança.

© paulmaguire / DEPOSITPHOTOS

P Ciclovia expressa é melhor para a saúde

Um pesquisador pedalou de A a B repetidamente por dois trajetos diferentes e mediu a qualidade do ar. Na ciclovia expressa a qualidade era consideravelmente melhor no quesito fuligem (*3), partículas ultra finas (+20%) e metais pesados. A explicação óbvia é que a via expressa segue trajetos mais afastados de passagem de carros.

Q Usuário de bicicleta elétrica fica mais jovem, mas tem mais acidentes

A e-bike fica cada vez mais popular com o público mais jovem, e é usada para distâncias cada vez mais longas. Mas nos últimos três anos, 20% dos usurios sofreram acidentes. Isso é o dobro da porcentagem de 2015. E quem usa para o trajeto casa-trabalho tem 33% de chance de ter um acidente em três anos.

Principalmente os jovens de até 35 anos.

R Andar de bike previne morte precoce

Isso é observável em cidades onde um quarto da população pedala.

S O ministro de mobilidade nao vai obrigar os jovens a usar o capacete na bicicleta

A associação de ciclistas também não é a favor da obrigatoriedade. A lógica usada é que a obrigatoriedade diminui a quantidade de ciclistas, e isso afeta negativamente a segurança, já que a quantidade de ciclistas é um fator positivo para a integridade do ciclista.

LINKS

  • A http://www.standaard.be/cnt/dmf20180605_03545963
  • B http://www.standaard.be/cnt/dmf20190109_04089869
  • C https://www.vrt.be/vrtnws/nl/2018/01/19/hoe-verbeter-je-je-positie-op-de-fiets-en-voorkom-je-klachten–/
  • D https://www.vrt.be/vrtnws/nl/2018/01/19/hoe-verbeter-je-je-positie-op-de-fiets-en-voorkom-je-klachten–/
  • E https://www.vrt.be/vrtnws/nl/2018/01/20/brussels-gewest-telde-in-2017-meer-dan-28-000-fietsers/
  • F http://www.standaard.be/cnt/dmf20171205_03226082
  • G http://www.standaard.be/cnt/dmf20171229_03272676
  • H http://www.standaard.be/cnt/dmf20181211_04026224
  • I http://www.standaard.be/cnt/dmf20180826_03684032
  • J http://www.standaard.be/cnt/dmf20181026_03878343
  • L http://www.standaard.be/cnt/dmf20181017_03851815
  • M http://www.standaard.be/cnt/dmf20181011_03828909
  • N http://www.standaard.be/cnt/dmf20180722_03626160
  • O http://www.standaard.be/cnt/dmf20180617_03566450
  • P http://www.standaard.be/cnt/dmf20180406_03450095
  • Q http://www.standaard.be/cnt/dmf20180329_03436656
  • R http://www.standaard.be/cnt/dmf20180116_03302280
  • S http://www.standaard.be/cnt/dmf20171120_03197022