Das muitas e numerosas ações desenvolvidas no dia a dia do Museu da Bicicleta (MuBi), uma delas é o respeito pela história de nossas bicicletas; de qualquer uma, seja totalmente original ou não. Entendemos que sua história é única, presente nos arranhões, nas marcas deixadas pelo tempo, na pintura desgastada.

Há também histórias de vida que nos são transmitidas. Essa Orkan trilha esse caminho. Com relativa frequência, alguém passa pelo museu para nos oferecer uma bicicleta antiga para vender. Dependendo da bicicleta e das condições, eu acabo comprando. Em 2004, recebi a visita do Sr. Cláudio Marmo, da cidade de Jaraguá do Sul, um comerciante de objetos antigos – tipo caixeiro viajante – que utilizava um Ford F-350, com uma montoeira de coisas sobre a carroceria.

Depois de uma breve visita ao museu, fui convidado para ver uma bicicleta antiga, que, segundo ele, era de 1920. A prática e os anos me ensinaram a não discutir sobre esse tipo de coisa, que não cabe explicação neste momento. O fato é que gostei da bicicleta, bastante estilosa. Depois de muita conversa, chegamos a um acordo quanto ao preço. Confesso que me arrependi muito por não ter comprado um afiador de lâminas de barbear francês dos anos 40. Afinal, o meu negócio é bicicleta. Ela estava muito suja, para-lamas amassados; tinha pelo menos uns vinte raios quebrados ou tortos, enfim, nada que não pudesse ser consertado.

Muito fácil de notar, tanto para mim como para vocês, que o selim, as manoplas e o cobre-corrente, apesar de serem peças bonitas, não são originais. Sua história é. Ela pertenceu a uma senhora durante muitas décadas, como seu veículo de transporte e lazer em Curitiba. Depois, ela mudou-se para Florianópolis onde curtiu muito essa Orkan durante anos. O desfecho da coisa não muda muito, semelhante a outras bicicletas que temos no MuBi. A idade vem chegando e os filhos acham que eles correm riscos e não podem mais andar de bicicleta. Encostam a magrela em algum lugar, geralmente junto a outros objetos a serem descartados numa ocasião oportuna (para eles, é claro!), até que num belo dia, um caminhão Ford F-350 passou por lá comprando coisas velhas e usadas. Foi desse jeito que esta Orkan foi parar no caminhão do Sr. Cláudio, e do caminhão para o Museu da Bicicleta.

Segundo consta, foi bastante baixo o número dessas bicicletas que vieram para o Brasil, tanto os modelos femininos como as masculinas, na sua maioria aro 28. De nossa parte, tanto as bicicletas como suas histórias serão sempre respeitadas.

Ficha Técnica

Bicicleta Orkan, aro 28, modelo feminino, equipada com freio contra-pedal da marca “Perry” na roda traseira, antena lateral e refletores sobre o para-lama dianteiro, ambos, acessórios dos anos 60 encontrados em bicicletarias.
Origem: Suécia.
Condição: Reformada. Acervo: MuBi.