Faz algum tempo – acho que entre cinco ou seis anos – que vi pela primeira vez essa “velha guerreira” em frente à antiga Casa Turnes de Joinville, com uma placa manuscrita presa ao guidão com os dizeres: Vende-se. Na verdade, este é o meu caminho quando volto do museu todas as tardes. Olhos e faro já acostumados com as antigas, claro, parei e dei uma olhada na magrela que chamara minha atenção. Apesar do bom estado de conservação e grau de originalidade das peças, o verde com o marrom não assentavam bem.

© Valter F. Bustos

O fato é que durante mais de um mês essa bicicleta era recolhida nos finais de tarde e recolocada no dia seguinte no mesmo lugar.

Era uma sexta-feira e, como de costume, aproveitei para entrar na loja e conversar com a Alexandra, amiga e colaboradora de longa data. No meio de nossas falas, perguntei por qual motivo ou razão uma bicicleta tão boa não vendia. Ela foi curta e rápida na resposta:

“A cor não ajuda, Valter”.

“Quanto você quer por ela?”, perguntei, então.

“É para o museu?”, ela quis saber.
“Claro, Ale!”

“Faço por R$ 30 para desocupar um espaço dentro da loja”.

© Valter F. Bustos

Pelo razão de morar relativamente perto da loja, fui empurrando as duas bicicletas até a minha casa. Na segunda-feira, deixei minha bike de uso, uma Raleigh Mojave, e peguei a Monark. De início, gostei porque minha mochila foi direto para a caixa presa sobre o bagageiro. A segunda surpresa veio quando comecei a pedalar com a bicicleta, muito equilibrada, boa relação de velocidade, freio contrapedal (sueco) muito eficiente, além de bastante macia ao rodar, devido aos pneus meio balão. No entanto, a cor… Quando cheguei ao museu o pessoal ficou espantado. Como a vida nos ensina que certas coisas não adianta explicar, pedi que cada um desse uma volta e emitisse sua opinião. Meia hora depois, todos foram unânimes e concordaram que a Monark era muito gostosa de pedalar. Mas as cores…

© Valter F. Bustos

Gostei tanto dessa bicicleta que até pouco tempo era uma de minhas preferidas para o uso diário. Uso constante mesmo! Semanas antes da abertura do Natal em Joinville, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Joinville me consultou sobre a possibilidade do MuBi emprestar uma bicicleta forte e segura para ser utilizada pelo “Papai Noel”. Coisa fácil de resolver, não tive a menor dúvida e lá foi a “velha guerreira” servir a uma causa nobre. O “bom velhinho” experimentou a bicicleta e gostou bastante. No horário programado, colocou o saco com presentinhos e guloseimas no bagageiro e pedalou em direção ao palco para alegria das crianças. Na semana anterior, os dois maiores shopping centers da cidade receberam o “Papai Noel” que chegou a bordo de um helicóptero. Uma vez que Joinville tem uma relação muito forte com a bicicleta, a “Cidade das Bicicletas” aplaudiu em pé o homem que alimenta o sonho de nossas crianças. Para o Natal de 2015, já está antecipadamente acertado, ela se fará presente novamente nos festejos natalinos.

© Valter F. Bustos

Onde ela se encontra atualmente? Em exposição no Museu da Bicicleta e gozando seu merecido descanso, sabendo que o “bom velhinho” não quer mais saber de renas e de seu trenó.

Ficha Técnica

Bicicleta Monark, modelo masculino, aro 26, ano 1963, equipada com freio contrapedal, farol, dínamo, campainha e cavalete de descanso central. Contém caixa plástica de entrega, adaptada ao bagageiro.
Origem: Brasil.
Condição: Original/Adaptada
Acervo: MuBi.