Em 2013 participei de uma expedição chamada Guamuçum, onde tínhamos que caminhar sobre os trilhos de trem por mais de 30 km. Voltei do passeio simplesmente acabada fisicamente. Então, senti que tinha que praticar algum exercício físico. Logo, um amigo me disse: “por que não compra uma bicicleta?”

Foi assim que comecei a pedalar, em outubro de 2013. No início eu só pedalava de MTB e utilizava a mesma para passeios com amigos. Eu estava em busca de uma melhor qualidade de vida, além de alguns quilos a menos.

Tudo ia muito bem até que, dois meses depois de começar a pedalar, sofri um acidente feio que poderia ter tornado minha história em relação à bike traumática. Fui pedalar com o grupo Pedal na Noite, que se reúne todas as quartas. Aquela noite o pedal foi especial, havia muita gente pedalando. O grupo era tão grande que no fim se dispersou, formando pequenos grupos para cada lado.

Eu estava com um grupo de amigos, quase finalizando o percurso, quando em uma descida eu me perdi após passar por um buraco de um tampão no asfalto. Grudei a mão no freio, que é a disco, e a bicicleta, que descia com tudo, simplesmente empinou e eu bati de queixo no asfalto.

Com o impacto, só lembro de um grande silêncio e, depois, comecei a ouvir as vozes dos amigos querendo me socorrer. Eles estavam apavorados com o sangue que escorria, alguns gritavam para chamar uma ambulância.

Naquele momento eu sabia que tinha quebrado algo, porque a dor era muito forte. Quando tentei falar, senti o sangue saindo pela boca e alguns dentes quebrados rolando de um canto para o outro da boca. Logo a ambulância chegou e eu fui hospitalizada. Fraturei a mandíbula em três partes e quebrei quatro dentes. Por apenas três centímetros não lesionei minha coluna.

Meu acidente tomou grandes proporções pela gravidade que foi. Recebi muitas visitas, mensagens de carinho de amigos e um cuidado e amor muito especial da minha família. Meus familiares me viram no corredor da emergência sangrando e gemendo de dor, esperando atendimento. Penso que nenhuma mãe deseja ver sua filha assim.

© Manoela Cielo

E foi justamente pensando em todo o trauma que vivemos que decidi retornar ao pedal. Hoje, tenho as placas e pinos na mandíbula, quatro implantes e as cicatrizes que jamais me deixarão esquecer da “brincadeira”… Mas quero mostrar para a minha família que a bicicleta traz muitas alegrias e que tudo não passou de um grande susto.

Além da MTB, tenho também uma Speed agora. Uso minhas bicicletas para diversos fins. Lazer, meio de transporte para ir ao trabalho, treinos etc. Em especial, passei a utilizar minha Speed para provas de longa distância e comecei a participar de Audax; atualmente, tenho patrocínio e apoio de três empresas parceiras.

Foi tudo muito rápido: em fevereiro de 2014 eu voltei a pedalar, e em abril fiz meu primeiro Audax, apaixonei-me por provas de longa distância e incorporei o espírito randonneur. Não sou uma atleta de alta performance, meu objetivo é unicamente concluir cada prova no meu ritmo. Além disso, também faço parte da organização do AudaxPF, que acontece na minha cidade, Passo Fundo – RS.

© Manoela Cielo

Apesar do acidente, a bicicleta me trouxe a qualidade de vida que eu tanto buscava, novos amigos, novos sonhos e principalmente novos desafios. Eu jamais imaginava que poderia chegar tão longe. Considero-me uma verdadeira Randonneur! Cada Audax que participo é uma superação sem fim.

Eu sou mais uma mulher que foi conquistada pela bicicleta. Aos poucos, a bike vem conquistando o coração da mulherada. Ainda há muitas mulheres que não avançam por insegurança, medo do trânsito, falta de experiência e conhecimento mecânico e até mesmo falta de parceria e incentivo para pedalar. Todas essas situações são inevitáveis na vida de quem pedala, mas podemos superar uma a uma. Eu mesmo estou só começando e aprendendo com amigos especiais, que curtem pedalar e ensinar o que sabem.

Aproveito para incentivar as mulheres a participarem de provas de longa distância. São provas de regularidade que nos desafiam constantemente. É importante estar treinada, mas acima de tudo, saber que é a cabeça que nos leva até onde queremos chegar. Superação é a palavra-chave de tudo!

© Manoela Cielo

Nome: Manoela Cielo
Idade: 31
Profissão: Bióloga
Cidade: Passo Fundo – RS