Ficha Técnica:

Bicicleta Caloi 10 – Jovem, aro 24, quadro masculino/juvenil, ano de fabricação 1980, equipada com câmbios dianteiro e traseiro da marca Suntour “Honor” e “Sport” de 10 marchas, freios e cubos em alumínio.
Origem: Brasil. Condição: original/reformada.
Acervo: MuBi.

© Valter F. Bustos

Se há marcos na divisão da História da Bicicleta no Brasil – é bom que se diga, não oficiais, e com base em algum lançamento ou fato que mudou ou marcou o segmento das duas rodas de propulsão humana -, sem dúvida, um deles foi o lançamento no mercado nacional da Caloi 10, no decorrer da década de 70. Sem qualquer ameaça vinda dos pequenos fabricantes que aos poucos foram adquiridos e fechados, as duas grandes (Caloi e Monark) mandavam no mercado e lançavam o que bem entendiam.

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Um pouco mais “plugada” no que ocorria lá fora, portanto, mais familiarizada com as tendências do ciclismo de lazer e competição, alguém enxergou um filão no mercado ainda inexplorado no país. Até então, a maioria de nossas bicicletas eram desprovidas desse luxo de consumo, os chamados câmbios para bicicletas. Não seria exagero dizer que foi quase um momento iluminado de algumas cabeças pensantes dentro da empresa.

Assim, de forma quase simultânea foram lançadas a Caloi 10, a Caloi Ceci 3 e, aproveitando quase todos os componentes da “10”, acrescida de paralamas, bagageiro e guidão alto, veio a Caloi Peri 3. De quebra, vinha preso ao bagageiro um luxuoso estojo para transportar uma raquete de tênis e várias bolas. O mercado bombou com essa avalanche de lançamentos.

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O sucesso da Caloi 10 foi meteórico, obrigando a concorrente a entrar no mercado com a Monark 10, mais simplificada, e com movimento central tipo monobloco. Objeto de desejo e mania entre os frequentadores de carteirinha do Parque Ibirapuera em São Paulo, pedalar uma bike dessas virou, na ocasião, sinônimo de “status”, pois ela era uma bicicleta cara para os padrões de época. Vendas em alta e procurando atingir um público de menor poder aquisitivo, mas, muito maior em volume, surgiu a Caloi Sprint 10. Mais espartana e totalmente desprovida de qualquer componente importado, a Sprint, arrebentou no mercado.

© Valter F. Bustos

Pensam que a coisa parou por aí? Não. Não demorou e logo surgiu a “caçula” da família. Nessa época, o termo “teen” para identificar os adolescentes ainda não era empregado. No entanto, essa enorme população passou a ser foco da fabricante. Assim, surgiu a “Caloi 10 Jovem”, a caçulinha da geração “10”. Produzida unicamente no tamanho aro 24, ela tinha todos os componentes das 27. Câmbio Suntour Honor na traseira e Suntour Sport nas engrenagens dianteiras. Freios, guidão, canote e manetes Diacompe, e conjunto de alavancas de acionamento no canote do guidão Suntour. Um primor de bicicleta, ela tinha um problema grave que não era de ordem técnica: era muito cara, numa época de inflação elevada no país da era Sarney. Por essa razão, o modelo vendeu pouco e hoje são peças raras e difíceis de serem encontradas no mercado de usadas e, obviamente, são bicicletas disputadas entre os colecionadores.

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Em termos estruturais, é uma bicicleta tecnicamente correta, pois todos os seus componentes (quadro, garfo, aros, pedivela, guidão, etc.), foram projetados para jovens dessa idade. Não há aquela excrescência de peças grandes em bicicleta pequena, prática que era comum (no MuBi temos algumas curiosidades desse tipo). Quanto ao grafismo da marca, segue o padrão das “27”, que proporciona um discreto charme ao modelo. Na esteira do sucesso mais do que consagrado, veio a Caloi 12, tecnicamente a mesma bicicleta, com uma engrenagem a mais no conjunto de tração e novas decais de acabamento. Redesenhada, com novo quadro e acessórios mais leves, a Caloi 10 continua em produção até hoje. Para os “teens” desejosos de uma bicicleta como essa, existem no mercado boas opções de importadas a preços razoáveis. Quanto à Caloi 10 Jovem, infelizmente, nunca mais. Pena!