Ficha Técnica:
Bicicleta Volcite, modelo masculino/turismo, aro 28, equipada com aros de madeira e câmbio Favorit de cinco velocidades, com acionamento por alavanca posicionada no tubo inferior do quadro.
Origem: Itália
Condição: Reformada.
Acervo: MuBi

Faço votos que em algum lugar, o amigo Adir Silvestre de Lima possa ler esta matéria. Adir é um amigo de longa data e vive com a família em São Bernardo do Campo – SP. Apaixonado por bicicletas antigas, pouco tempo depois de eu realizar uma exposição no Shopping Metrópole em 1994, conectamos uma grande amizade onde sempre prevaleceu a camaradagem e a reciprocidade nas trocas de bicicletas e material variado.

© Valter F. Bustos

Eu tive uma fase curiosa em minha vida, pelo menos em uma parte dela, em que foi impossível sobreviver como funcionário público devido à baixa remuneração. Como possuía um acervo de bicicletas antigas já bastante grande naquela época, resolvi fazer um “book” que saí distribuindo por agências de propaganda em São Paulo. Confesso que levou um pouco de tempo, mas a ideia produziu resultados. Meses depois comecei a alugar minhas bicicletas para comerciais, filmes e telenovelas. Juntamente com outro amigo e colecionador, Marcos Perassollo, acredito que iniciamos essa atividade em Sampa no início dos anos 90.

Hoje a coisa toda expandiu e outros colecionadores acabaram por ingressar nesse segmento. Como o meu propósito foi desde sempre a criação do Museu da Bicicleta com vistas à preservação do acervo, quando surgiu a primeira oportunidade – e ela se deu em Joinville, Santa Catarina, em 1999, saí do circuito paulista. Naquele ano, fiz uma locação de bicicleta infantil e um patinete para um catálogo de roupas infantis. A bicicleta era um modelo feminino, aro 24, holandesa, e o patinete, um Scatt dos anos 50.

© Valter F. Bustos

A sessão de fotos ocorreu num antigo palacete na Avenida Paulista, ainda em pé. Ainda tenho em meus “guardados” o encarte. Não me recordo exatamente a data, mas sei que mostrei a bicicleta para o Adir, em uma das costumeiras visitas de final de semana. Só sei que depois de alguma conversa e várias taças de vinho, ele propôs uma troca. Segundo seu relato, ele havia adquirido várias bicicletas em uma oficina pouco antes de seu fechamento. Entre elas estava esta bicicleta e o negócio foi fechado, como de costume, numa boa.

Foi exatamente como relatado que esta Volcite chegou até minhas mãos. Coisa entre amigos, onde ambos ficam satisfeitos, e a amizade mais reforçada. Como a dificuldade de se descobrir informações sobre marcas e modelos não é coisa recente, recorri aos grandes amigos Roque e Geraldo, da Ciclo Vanzo na Lapa, que no ato mataram a charada, somente pela olhada no quadro, no desenho dos cachimbos, caixa de direção e no movimento central.

© Valter F. Bustos

“É uma Volcite Italiana por volta de 1938, 39”, afirmaram. Também ficara claro que algumas de suas peças originais foram substituídas, como no caso dos freios por Mafacs, além do curioso câmbio Favorit com mola de acionamento dentro do braço guia. Nesse dia descobri por informação do mestre Vanzo que a maioria das bicicletas italianas desse período vinha com uma engrenagem fixa no lado esquerdo do cubo traseiro. Bastava tirar a roda e virá-la, simples e funcional. Curiosamente, hoje vivemos o momento das fixas, as bicicletas da moda.

Depois de passar por uma boa desmontagem e limpeza dos componentes ela foi remontada. Outro detalhe especial é que ela veio montada com aros de madeira. Com certeza foram colocados numa época qualquer, provavelmente anos 50, pois são os excelentes aros Fecchio, produzidos no país pelos Irmãos Fecchio, na cidade de Araraquara. Verdadeiros artistas da madeira, temos poucas informações dessa atividade em razão da inexistência de registros confiáveis. Temos em nosso material de pesquisa o livro La Bicicleta, do Museu Galbiati, em Milão, que mostra que a maioria das bicicletas de turismo italianas dessa época tinham aros de madeira.

O farol e o dínamo de boa qualidade são acessórios, não de época, e raros foram os fabricantes de bicicletas desse período que produziam esse tipo de material. Uma “italiana” mesmo que não esteja completa em qualquer coleção, será sempre uma peça de destaque, pois o design e a pegada são inconfundíveis.