Ficha técnica

© Valter F. Bustos

Bicicleta Terrot, aro 26, pneus 26 X 1.1/2 X 1.3/4, modelo feminino/esporte e turismo, ano 1947. Equipada com câmbio “Simplex” de 4 velocidades, freios tipo “center-pull” nas rodas dianteira e traseira, cubos e aros em alumínio da marca “Sujino” e pedais Mafac. Condição: original/recuperada. Acervo: MUBI.

Chegamos à edição de janeiro de 2013. Portanto, caso os nossos amigos estiverem lendo essa matéria, significa que o Calendário Maia estava errado e que o mundo não acabou no dia 21 de dezembro (risos). Escolhemos, desta vez, uma francesa: a Terrot.

As bicicletas Terrot são peças muito raras de serem encontradas no país, por que não houve uma importação regular da marca. A grande maioria chegou ao Brasil via imigrantes que para cá vieram em busca de uma nova vida; outras poucas, na bagagem de viagem dos que retornavam da França; e, menos ainda, alguns exemplares no meio de outras marcas visando uma “sondagem” de mercado.

Essa Terrot foi adquirida em 1993, numa antiga bicicletaria que não existe mais nas proximidades do Largo do Taboão, em Taboão da Serra – SP. Segundo apuramos, ela foi deixada por um senhor de origem francesa para o conserto das rodas e pequenos ajustes. Ela estava sem os aros (em alumínio e bastante danificados) e o câmbio traseiro. Segundo o mecânico, “estava por lá há mais de 10 anos”. Como não foi possível a aplicação dos testes com “carbono 14”, a quantidade de sujeira, graxa e muito pó confirmaram essa década de abandono. Acredito que nossas melhores bicicletas antigas foram encontradas em situações semelhantes. Estou aqui externando uma opinião pessoal, e que não necessariamente seja compartilhada ou aceita por todos. Essa bicicletaria ficava nas proximidades de um córrego, cujo leito seria retificado para dar lugar ao alargamento da Francisco Morato naquele ponto.

Junto com essa Terrot, veio uma Schwinn, aro 24, de 1950, além de muitas peças usadas (faróis, dínamos, cubos, travas, câmbios etc.). Iniciados os trabalhos de recuperação, notamos que não havia nenhum empenamento do quadro e a boa condição dos demais componentes. Em paralelo, buscava informações sobre a marca (a internet principiava no país e não havia sites de pesquisas). Recorri ao melhor de todos os recursos, a informação vinda através de uma excelente geração de grandes profissionais e mecânicos, donos das antigas bicicletarias e lojas de São Paulo, pessoas que tive a honra de conhecer, conviver e aprender enquanto cursava história na PUC, e iniciava minha pesquisa sobre a “História da Bicicleta”. Tomo a liberdade de citar alguns desses nomes: Roque e Geraldo Vanzo, Rinaldi Rondina (seu filho Rogério vem tocando com muita competência o “Ciclo Rondina”), Dona Vera (Casa de Bicicletas Alberto), Kasuo Kitagiri, Ciclo Dias Santos, Pedro Scatt, Dellarina, Paulinho e Antônio do Ciclo Jaguara.

A Terrot foi uma das boas marcas de origem francesa nascida no final do século XIX. Entre seus produtos, ela chegou a produzir algumas motocicletas de baixa cilindrada conhecidas por “Mottorrets”, e uma grande variedade de bicicletas para o segmento infantil e adulto. Ela segue uma característica que é referência da maioria das bicicletas francesas: aros 26 e os pneus demi-ballon, que ficaram conhecidas entre nós como as Ballonets. Quando iniciamos a recuperação dessa bicicleta (eram poucas as presenças de material ainda original do modelo e que permitissem sua restauração), notamos assim que iniciamos a remoção da pintura, um resto de tinta em tom vermelho metalizado e que foi seguido. Os paralamas com a pintura original muito machucada foram repintados e mantida a belíssima logomarca da fábrica, aplicada em baixo relevo, junto ao gracioso refletor traseiro com lente azul. Essa bicicleta tinha um enorme farol “Soubittez” sobre o paralama dianteiro, destruído durante uma exposição que fizemos num shopping center em Joinville, por um cidadão descontrolado. Preso pela segurança, e como é de praxe no país, libertado em seguida. O atual não é o original, mas é um “S.D.” de boa qualidade. Nas fotos que ilustram a matéria, detalhes do bonito e eficiente freio center-pull, o câmbio Simplex (correntinha) de 4 velocidades, e um curioso parafuso para lubrificação do movimento central, colocado no lado oposto da caixa central. Em 1958, a Terrot foi adquirida pela Peugeot, que ao longo de uma década produziu e lançou excelentes bicicletas com a lendária marca “Terrrot”.