Ficha Técnica

Bicicleta Phillips modelo A.L., quadro feminino aro 26, equipada com rodagem para pneus 26 X 1.3/4 X 2 (32 X 40 raios/dianteiros e traseiros), ano de fabricação 1948. Da série é o modelo mais simples e espartano (sem acabamento ou acessórios especiais), seguida pelas A.L.S.; C.D.L. e a luxuosa T.L.D. com cobre corrente fechado e câmbio Sturmey Archer de três velocidades. Destaque para o guidão fechado tipo inglês ou celtonia, montados com freios varão e ação nas duas rodas. No Brasil eles não fizeram muito sucesso e foram substituídos pelo tipo saúde, mais largos e seguros em curvas mais fechadas. O farol e o dínamo de 6 volts são da marca Bosch (década de 50), e o descanso de eixo na roda traseira é um confiável Jopiso. Obs: A placa de licenciamento nº 3340 de 1959 é do último ano da obrigatoriedade do emplacamento para bicicletas na cidade. O 47 representava o número do município, neste caso, Joinville, como é até hoje, de um total de 263 municípios.


No mundo do colecionismo, é provável que as bicicletas Phillips sejam as mais emblemáticas devido às paixões e discussões que geram. As razões e motivos para isso são muitos. Primeiro, a imensa legião de adeptos e admiradores dessas bicicletas produzidas na terra de 007, o agente secreto preferido da rainha. Segundo, o desaparecimento da marca de forma prematura na Inglaterra, país onde tradicionalmente marcas são motivo de orgulho nacional. E, finalmente, a inigualável qualidade dos produtos Phillips, desde um simples parafuso ao indestrutível quadro que equipavam essas lendárias magrelas.

Isso tudo somado a outros fatores produziu uma cepa de bons conhecedores e estudiosos da marca e muitos qualificam certas discussões. A legião de conhecedores de carteirinha, geralmente, deixa falar mais o coração do que a razão. Se me permitem, todos são pessoas do bem, pois gostam de bicicletas, além de preservadores de um naco da história da bicicleta. Os que visam lucro com esse mercado, obviamente, não são considerados preservadores e sim negociantes. Em edição futura, iremos abordar esse assunto aqui na revista.

Para compreender melhor o que eram essas bicicletas, fomos buscar um catálogo original da fábrica para os modelos de exportação, produzido logo após a II Guerra Mundial. Para tanto, destacamos duas frases que estampam a página de rosto desse catálogo: Renowned The World Over (renomada/conhecida em todo o mundo) e The Sign of Quality (a marca/símbolo da qualidade), em tradução livre. Vamos relembrar rapidamente que terminada a II Guerra Mundial, toda a Europa era um continente de escombros, resultado dos milhares de bombardeamentos aéreos que se abateram sobre a região. Todo o sistema de transportes de massas estava fragilizado e quase inoperante. Para reorganizar todo o sistema de produção, era fundamental fornecer um meio de transporte rápido e seguro para que o trabalhador chegasse ao seu destino. Sob esse aspecto, a bicicleta, sem nenhuma dúvida, foi o veículo da reconstrução europeia. Elas foram fabricadas para durar e não darem problemas mecânicos devido à falha de materiais. Testes de exaustão e resistência qualificavam esses produtos em funcionamento até hoje, como é o caso de nossa Phillips A.L. Por aqui, elas foram importadas aos milhares pelas lojas Isnard, Mappin, Pirani, Eletroradiobráz, Cassio Muniz, Mesbla e Sears. São Paulo e Rio de Janeiro foram os estados campeões na importação das Phillips, fossem os clássicos modelos de passeio, cargueiros ou infantis. É muito provável que se alguém disser a você que tem uma boa bicicleta antiga, as chances são de 6 em 10 que seja uma Phillips.

Valter F. Bustos:
Jornalista, Coordenador do Museu da Bicicleta (MUBI), Presidente da Associação Bicicletas Antigas de Joinville (ABAJO), e Bike-Jornalista em Joinville.