Bicicleta no sangue e na alma!

As irmãs Rafaela (21 anos) e Letícia Rocha (22 anos), catarinenses da linda cidade de Pomerode, vivem bicicleta desde cedo. A paixão pela bike foi herdada do pai, reconhecido por sua trajetória no ciclismo, dentro e fora das pistas, mas a família inteira pulsa quando o assunto é bicicleta. As duas jovens fazem valer o dito popular que diz que ‘fruto bom não cai longe do pé’, e levam a bicicleta como a grande consorte da família.

Therbio Felipe entrevista Rafaela e Letícia Rocha

A gente sabe que vocês têm uma história superbacana de bicicleta na família, mas gostaríamos que pudessem contar um pouquinho mais. Quando a bicicleta entrou na vida de vocês? Quais as lembranças mais antigas que vocês têm a respeito da bicicleta em suas vidas?

R. Na verdade, a bike já está em minha vida desde pequena, pois meu pai tinha a oficina de bicicleta no andar de baixo da nossa casa. Ele arrumava as bikes dos clientes e eu colocava a minha bike ao lado fingindo ser uma mecânica (risos), mas a bike entrou mesmo em meu sangue aos 14 anos, quando minha irmã veio com a ideia de participar das Olimpíadas Escolares. São escolhidas as duas melhores atletas da cidade em cada modalidade. Confesso que fiquei com medo pois nunca tinha andado numa Speed, somente com a Mountain Bike, mas aceitei o desafio. Para testar a bike, fui competir o Desafio Márcio May, minha primeira competição, duas semanas antes das Olimpíadas Escolares e, então, partimos para Goiânia. Desde lá, a bike virou um vício.

L. As bicicletas já eram meu destino antes mesmo de eu nascer (risos), mas os grandes influenciadores por essa paixão pelo esporte foram meu pai, Hilário Rocha, e meus irmãos, José e Luís. Eu adorava acompanhá-los nas corridas de ciclismo e torcer por eles. Houve uma fase em que meus irmãos trabalhavam, estudavam e treinavam, e como éramos muito apegados, a única forma de estarmos juntos era pedalando, então, comecei a ir junto nos treinos e me apaixonar pelo esporte.

Em que modalidade competem? Quais os melhores resultados alcançados?

R. Competia no ciclismo (estrada, contra-relógio e circuito), mas por problemas de saúde tive que ficar um tempo parada e agora estou voltando para o esporte, só que no MTB. Já conquistei alguns títulos, de segunda e terceira colocada, mas aqueles que pra mim foram os mais importantes, mesmo que não foram as melhores colocações, são:

• 1° lugar desafio Tifas Morro Azul (final de 2015, quando voltei a competir);
• Vice-campeã Geral Copa Hans Fischer 2011 (por ser na minha cidade);
• 5° lugar nas Olimpíadas Escolares de Goiânia – perseguição em dupla (por fazer dupla com minha irmã);
• 5° lugar nas Olimpíadas Escolares de Curitiba – perseguição em dupla (por ver a superação da minha colega de equipe que começou a pedalar dois meses antes da competição);
• 12° lugar Ranking Nacional Junior Feminino (correndo apenas uma etapa nacional);
• Vice-campeã Catarinense de Ciclismo Elite.

L. Mountain Bike é a modalidade que competia, onde tive a oportunidade de correr as Olimpíadas Escolares em Goiânia, uma experiência muito bacana, já que na época em que corria não havia meninas no ciclismo no meu estado, Santa Catarina. Os melhores resultados alcançados e que me marcaram foram a minha primeira prova de MTB, o Circuito Quatro Estações, próximo do dia do meu aniversário, lá com 15 anos de idade, em cuja prova fui campeã. Sem dúvida, as Olimpíadas Escolares, na modalidade de ciclismo, também me marcaram muito. E, por fim, ter participado do projeto Red Bull Under My Wing, ao lado da grande Jaqueline Mourão, em Minas Gerais, foi um momento onde aprendemos muito com ela.

Segundo a visão de vocês, como está o ciclismo catarinense? Dos eventos que participaram, além do Desafio dos Rochas, que é espetacular, que outros eventos podem citar e porque motivos? O que falta, em seu entendimento, para que Santa Catarina alcance patamares mais altos no ciclismo nacional?

R.L. O ciclismo catarinense está desacreditado, por vários acontecimentos anteriores que fizeram com que os ciclistas já não tenham mais o mesmo interesse em competir as provas oficiais. Algumas vezes, pelo baixo nível de organização apresentado, e em outros momentos pela falta de atrativos que levem novos ciclistas a quererem disputar as mesmas. O Desafio dos Rochas é um evento organizado e coordenado pela família, sendo assim não disputamos o mesmo, não seria ético. Mas disputamos muitos outros eventos, como Desafio Márcio May, Desafio das Tifas, entre outras. Há décadas Santa Catarina é conhecida nacionalmente por ser um berço natural de ciclistas, vem revelando para o Brasil e para o mundo vários nomes, mas para retomarmos este posto várias ações são necessárias: fomentar o esporte tanto na base como no alto rendimento, dar condições e propiciar bons eventos a quem deseja praticar o esporte do pedal, com toda a estrutura e organização que merecemos, independentemente de serem oficiais ou não. Na esfera pública, o incremento na construção e/ou ampliação de ciclovias e ciclofaixas pelos municípios ou pelo estado em rodovias estaduais e federais, fazendo com que o praticante da modalidade se sinta mais seguro ao praticar, seja a recreio, esporte ou como meio de transporte.

Muita coisa já mudou nestes últimos anos. A legislação aplicada à facilidade para o transporte das bicicletas, a mídia se utilizando das bikes em novelas, campanhas publicitárias de grandes marcas vinculando à bicicleta a ideia de bem-estar, sustentabilidade e como prática esportiva ecologicamente correta. Vemos em muitas cidades os agentes de trânsito/policiais utilizando da bike para o patrulhamento nas cidades e com este fato criando mais respeito ao usuário da bicicleta, fazendo que cada vez mais pessoas comecem a utilizar a magrela como meio de transporte, lazer ou prática esportiva.

No dia-a-dia, na cidade, vocês usam a bicicleta como meio de transporte?

R. Como meu trabalho é muito perto da minha casa acabo indo a pé, mas a bike é a minha hora de relaxar, onde esqueço de tudo e só quero pedalar, me divertir. Toda noite, depois do trabalho, começa minha diversão, onde eu e meu irmão saímos para pedalar, e nos finais de semana sempre tem bike com a galera.

L. Infelizmente não, como estudo em outra cidade e vou direto do trabalho pra faculdade, não há como ir de bicicleta. Mas sempre que tenho a oportunidade de ir a algum lugar de bicicleta, eu vou com certeza.

Se pudessem traduzir em poucas palavras o que sentem quando entram em uma prova de ciclismo, como seria para cada uma de vocês?

R. Nossa, é a melhor sensação aquele frio na barriga, nervosismo, mas aquele nervosismo bom de sentir, na verdade só quem sente isso consegue entender.

L. Era uma mistura de sensações boas, a curiosidade do que nos esperava pelos caminhos, a ansiedade da largada, a alegria de estar participando de mais um evento de bike. Enfim, a palavra que resume é Alegria, com A maiúsculo.

Tem muita mulher pedalando forte, isto é fato. Quais são as referências de vocês no ciclismo, quais atletas femininas vocês admiram especialmente?

R. Admiro muito a Gabriela Yumi, pois tive a oportunidade de competir com ela nas Olimpíadas Escolares e conhecê-la como pessoa. Mesmo não tendo muito contato com ela, acompanho sua jornada e vejo sua batalha, por isso ela é uma referência para mim.

L. Emily Batty, Jaqueline Mourão, Isabella Lacerda, Viviane Favery, Gabriela Yumi e Tânia C. Pickler.

Quem são seus apoiadores e patrocinadores?

R. Já competi por Pomerode, pela Timbó Net, Governo de Santa Catarina e Twins Bike. No momento, estou sem equipe, pois faz alguns meses que estou voltando a pedalar.

L. Meus apoiadores foram Twins Bike Shop e Governo de Santa Catarina.

Rafaela, em poucas palavras, descreva a Letícia, por favor? Como ela é enquanto pessoa, quais as principais características dela enquanto ciclista?

R Minha irmã foi a principal pessoa que me fez entrar literalmente no mundo da bike, tenho uma admiração enorme por ela, uma pessoa que ama ajudar os outros. Admiro o trabalho dela como Bombeira Voluntária, e no ciclismo (vixe!) me deixa para trás em todas as descidas (risos), é o forte dela, adoro quando treinamos juntas, e quando treinávamos aqueles tiros em subida para ver quem sobrava (risos). Ela é uma ciclista espetacular.

Letícia, é a sua vez: em poucas palavras, descreva a Rafaela, por favor? Como ela é enquanto pessoa, quais as principais características dela enquanto ciclista?

L. A pessoa mais alegre e bem-humorada da casa, pra ela não tem tempo ruim. Uma garota guerreira, que com determinação e força de vontade alcança seus objetivos e nos motiva a fazer o mesmo. Levanta a poeira de todo mundo. Um coração puro!

Sabemos que existe uma pessoa que tem uma responsabilidade muito grande por tudo o que vem ocorrendo com vocês. Mandem uma mensagem para o Rocha, por favor?

R. Ah, meu pai! Para mim, é o melhor de todos! O melhor ciclista do mundo, mesmo que ele já tenha se aposentado da bike há algum tempo (risos). Ele que me inspira a pedalar, meu mecânico particular, amigo de todos, sempre ajudando. Pai, eu te amo!

L. Se eu for, pelo menos, um pouco do que meu pai é para nós, tenho certeza que serei a melhor mãe do mundo! E sei que se ele é assim para nós é porque tem alguém incrível ao lado dele, ao longo de 30 anos, minha mãe. Espero poder transmitir essa paixão pelas bicicletas para outras pessoas da mesma forma como eles fizeram conosco.

E por fim, uma mensagem para nossas leitoras.

R. “Nunca é tarde para aprender a andar de bicicleta. Escolha a direção e segure firme no guidão. Comece pedalando devagar. Apesar de sujeito a tombos e arranhões, vale a pena tentar e sentir a brisa no rosto e o gosto da liberdade” (Maria Miranda). Tente, você não vai se arrepender.

L. Pedalar é muito mais que um esporte, é cuidar da minha saúde física e mental. Experimente, permita o vento tocar o teu rosto, escute os diversos sons a sua volta, encha os seus olhos de belas paisagens e perceberás a cada pedalada que a vida pode ser muito prazerosa com ações simples.