Um dos muitos e bons exemplares que fazem parte do acervo do MUBI é esse modelo militar da II Guerra Mundial. O exército da Suíça – ou Armée Suisse – é um dos poucos exércitos no mundo que possuíam em suas fileiras “Batalhões de Caçadores” e que empregavam bicicletas em suas atividades e ações militares.

© Valter F. Bustos

Logo após a inauguração do Museu da Bicicleta em 9 de março de 2001, lendo uma das colunas da Revista Veja, era anunciado que o exército suíço estaria dando baixa em definitivo das bicicletas Condor -05. Esses modelos foram produzidos no período de 1900 até 1960, sem qualquer modificação estrutural, exceto o número de série e ano fabricação, números grafados em baixo relevo em cada lado da luva de conexão ou “cachimbo” do selim.

Devido à forte representação de imigrantes suíços em Joinville, a cidade foi agraciada com a nomeação de um Cônsul Honorário, o Senhor Alberto Holdereger, para tratar dos assuntos de toda ordem e que envolvem as duas culturas. Procurei o Cônsul que prontamente colocou-se à disposição para ajudar no que fosse possível. Procedemos à solicitação formal de um exemplar através de um ofício e coube ao Senhor Holdereger dar os encaminhamentos de praxe, via Embaixada em Brasília. Transcorridos quase seis meses, o MUBI recebeu diretamente do exército suíço dois exemplares exatamente iguais, cujas únicas diferenças são o ano de fabricação e o n° de série. Junto, acompanhava um modelo atual em substituição aos modelos “05”, de posse do atual Cônsul. Uma delas é de 1930, e a mostrada com exclusividade pela Revista Bicicleta é de 1942, portanto, um veículo militar com participação indireta no conflito, apesar da neutralidade do país. Junto, veio o “Livret de bicyclette d´ordenance”, uma caderneta com todas as especificações da bicicleta e das peças bde reposição com seus respectivos números de catálogo para solicitação. Ressaltamos que o Museu da Bicicleta de Joinville, segundo informações, é o único museu no mundo com essa tipologia de acervo a receber essa deferência especial, graças à colaboração do Cônsul Honorário de Joinville.

“Livret de bicyclette d´ordenance.” © Valter F. Bustos

Ficha técnica da bike

Bicicleta Condor – 05, modelo militar, quadro masculino, aro 26, ano 1942, pintura padrão em preto/fosco, equipada com três tipos de freio: sobre-pneu na roda dianteira, a tambor e contra-pedal na roda traseira.
Acessórios: farol de black-out à frente do guidão para situações de bombardeamento aéreo, e farol no garfo dianteiro com
dínamo embutido, para uso em condições normais. Bomba de encher pneu fixada sob o tubo superior de fácil acesso, e coldre
de multifunção confeccionado em couro, preso ao quadro, atrás do tubo do selim.
Condição: Original/conservada.
Procedência: Suíça.
Acervo: MUBI.
Contatos:
falecom@museudabicicleta.com.br
val.bustos@hotmail.com
bike.jornalista@gmail.com.

As bicicletas nas guerras

Inicialmente, o interesse nas bicicletas pelas forças armadas do final do século XIX, estava na possibilidade de substituir a cavalaria, devido aos custos operacionais elevados e de logística (adestramento, alimentação, tratamento, materiais, apoio e
deslocamento). O desconhecimento de seu potencial de ação levou o exército do Reino Unido a excluir as bicicletas de suas tropas regulares, colocando-as em tropas de segunda linha.

Outra experiência também pioneira e ousada foi levada pelo Tenente James Moss, do Exército Americano que, em 1896, liderou 20 soldados (ex-escravos) do Fort Missoula em Montana até St. Louis no Missouri. Foram 32 dias de marcha e perto de 1.600 km pedalados. Um ano antes, 1895, na África do Sul durante a “Guerra dos Boers”, ficaram famosas as bicicletas semidesmontáveis Dursley Pedersen. A eficácia das bicicletas enquanto veículo militar estava comprovada. Em 1905, foi organizado o Schwiezer Militärradfahrer da Suíça, que empregou as robustas e confiáveis bicicletas Condor-05, que encantaram gerações. França,
Itália, Alemanha e Portugal incorporaram as bicicletas aos seus exércitos. Durante a I Guerra Mundial surgiram os Jäggers, caçadores, na Alemanha através das Radfahr-Kompaine, que rapidamente evoluíram para os Radfahr-Bataillomen.

A caminho da II Guerra Mundial em 1937, durante a invasão da China, o Japão empregou um batalhão de ciclistas composto por 50 mil homens em armas. Nas guerras da Coréia e do Vietnã, as magrelas foram amplamente usadas. No entanto, foi o Exército da Suíça que mais marcou pela excelência na formação de seus soldados pela Escola de Ciclistas do Exército. De suas fileiras saíram vários campeões olímpicos, como Pascal Richards e Laurent Dufaux. Anualmente eram selecionados apenas 200 soldados, cujo requisito básico era ter nível superior completo. Depois de quase um século de existência (foram 98 anos), a corporação foi extinta em 2003. Atualmente, o Exército Norte americano mantém uma Brigada de Infantaria e outra de Paraquedistas, equipadas com bicicletas Montague Paratrooper dobráveis, e que levam apenas 30 segundos para serem montadas e desmontadas. Existem também as Bicicletas da Paz, utilizadas pelos soldados da ONU. No Brasil, em alguns estados, polícias militares possuem batalhões de ciclistas, conhecidos como Bike Patrulha. Em menor número, guardas municipais empregam bicicletas na vigilância patrimonial e de algumas ações de trânsito.