A DINAMARCA NEM SEMPRE FOI UM PAÍS CHEIO DE BICICLETAS

Quem vê Copenhague hoje em dia não imagina que ela nem sempre foi cheia de bicicletas. Na verdade, a Dinamarca foi, deixou de ser e voltou a ser um país de bicicletas.

Rua de Copenhague na década de 30 (Foto: The Cycling Embassy of Denmark).

Lá na década de 30, fotos das cidades do país nórdico mostravam muitas bicicletas nas ruas. Havia milhares de ciclistas. Pessoas de todas as classes sociais circulavam de bicicleta em grande escala, e várias profissões haviam a adotado como meio de transporte.

Mas esse primeiro auge das bicicletas durou até 1960, quando o crescente padrão de vida permitiu a compra de carros para mais e mais famílias. Esse desenvolvimento foi visto como positivo porque os carros e as casas unifamiliares eram símbolos vigorosos de que a depressão da década de 1930 e o peso da Segunda Guerra Mundial haviam se afastado e cediam lugar a um futuro brilhante.

Rua de Copenhague na década de 60 (Foto: The Cycling Embassy of Denmark).

Só que a massa de carros trouxe não só prosperidade, mas também poluição, congestionamento e acidentes de trânsito. Fotos de Copenhague em 1960 mostram as ruas cheias de carros, bondes e grandes áreas de estacionamento.

Foi ficando cada vez mais difícil fechar os olhos para os muitos acidentes de trânsito e ao aumento da poluição. Copenhague não era mais a cidade de bicicletas que a maioria dos dinamarqueses conhecia e amava, e isso chateava muitas pessoas. Ao mesmo tempo, o movimento ambiental emergente e a crise do petróleo ajudaram muito na renovação da cultura do ciclismo que, nos anos 1970, começou a aparecer de novo.

Entre os anos 1970 e 1980, os conflitos entre bicicletas e carros se tornaram cada vez mais comuns nas cidades dinamarquesas. Um exemplo foi a onda de protestos populares contra a proposta das autoridades de Copenhague para construir uma pista expressa de automóveis através dos lagos que separam o centro histórico da cidade dos distritos suburbanos. Os lagos eram – e felizmente ainda são – alguns dos mais amáveis espaços abertos da cidade e as pessoas temiam que a obra prejudicasse aquela paisagem.

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Foi ficando bem claro que era necessário um planejamento urbano que permitisse o compartilhamento de espaço entre carros, bicicletas, pedestres e transportes públicos. Nos últimos 10 anos do século 20 surgiram novos desafios a partir da necessidade de melhorar a saúde pública e combater as mudanças climáticas. Nasceu daí o movimento pelo fortalecimento do ciclismo urbano, tanto em Copenhague como em outras cidades dinamarquesas.

Copenhague hoje em dia (Foto: Pexels).

O caminho escolhido foi o de estimular o uso da bicicleta, fazendo a prática mais segura e atraente, não apenas com a melhoria da infraestrutura, mas sobretudo no estímulo à retomada da cultura do pedalar. A maioria dos dinamarqueses associa a bicicleta a valores positivos, como liberdade e a saúde, e nos últimos anos o ciclismo tornou-se um símbolo de energia pessoal. A bicicleta renovou-se, tornou-se ultramoderna, auxiliada pelo desenvolvimento social, por iniciativas políticas de sucesso e pelo marketing consciente. As três maiores cidades dinamarquesas – Copenhague, Århus e Odense – realizaram grandes campanhas de propaganda, que colocaram os ciclistas em relevo em grandes painéis publicitários, na internet e na mídia geral. O resultado tem sido um número crescente de ciclistas e cidades mais limpas, mais saudáveis e mais animadas.

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