Estes dias me deparei com alguns dados sobre os riscos de acidente fatal envolvendo bicicleta e outros meios de transporte no Brasil. Muita coisa surpreendente, como o fato de que caminhar é ligeiramente mais perigoso do que andar de bicicleta.

Estes dados foram contabilizados e apresentados pela Agência Nacional de Transporte Público (ANTP). O documento pode ser conferido aqui e os dados estão nas pgs. (63 e 64)

Os dados são apresentados a partir da soma do total da distância percorrida por toda população do Brasil. Por isso, os números de mortes aparecem por Milhão de Km percorridos. Para evitar números fracionários, resolvi utilizar o número de mortes por 100 milhões de km percorridos. Os dados também são elencados por diferentes tamanhos de cidades no Brasil.

Assim, analisando a tabela de forma geral, minha primeira surpresa foi verificar que o risco de um pedestre morrer é ligeiramente mais elevado do que o de um ciclista, 15 contra 14 mortes por 100 milhões de Km percorridos. Outra surpresa foi verificar que os riscos em uma moto são o triplo da bicicleta, enquanto utilizar um carro é duas vezes mais seguro do que a magrela. Já os ônibus são disparados o meio de transporte mais seguro, sendo três vezes mais seguros que o carro e sete vezes mais que a bicicleta.

Outras curiosidades vieram de uma análise vertical, em que comparei as chances de morrer a partir dos diferentes tamanhos de cidades. Observa-se que para os pedestres, os riscos não variam muito. Já para os ciclistas, as cidades menores se mostram mais seguras que as grandes, caindo o número de acidentes para a metade (20 contra 10).

Mas o grande espanto veio da análise vertical de carros e motos. Para esses dois meios de transporte, os acidentes fatais aumentam muito à medida em que as cidades diminuem. No caso dos carros, o risco é multiplicado por sete em cidades menores. Com isso, em cidades pequenas, as chances de se morrer em um carro são mais do que o dobro da bicicleta (22 contra 10).

Meu palpite para esses números é que muitas dessas mortes de veículos automotores se deem nas estradas que circundam cidades menores e que por isso essas mortes caiam na conta delas. Mas é algo a se investigar.

Por fim, para que esses números possam ser mais palpáveis a nós ciclistas, propus uma tabelinha simples de Excel e que pode ser feita por qualquer um. Primeiro, faz-se uma tabela com o número de KM para que ocorra uma morte.

Basta então apenas dividir o número de Km que cada um percorre pelo número correspondente de km conforme o tamanho de sua cidade. Por exemplo, se você mora em uma cidade com mais de um milhão de habitante, você irá dividir o seu número de km percorridos por 5 milhões.

Em seguida, o percentual que aparecerá será minúsculo. Assim, uma forma mais amigável de ler esse número é geral outra linha no excel, em que se divide 100% por este percentual. A título de exemplo, uma pessoa que percorra 10 km por dia tem chance de morrer pedalando de 1 em 500.000 nas grandes cidades.

Claro que os resultados são gerais e para todo o país. O risco vai variar muito conforme os cuidados que cada um tomar e também da cultura ciclística das cidades, especialmente se existem ciclovias e outras políticas favoráveis.

Ao fim, acredito que os números sejam interessantes não só como curiosidade, mas também como guia para políticas públicas e gestão da mobilidade urbana. Falar de morte é importante acima de tudo para que possamos evitá-las.