Que a internet revolucionou a maneira como as pessoas se relacionam ninguém discorda! Dia destes, pedi uma entrega de pizza ‘delivery’ em uma pizzaria que costumo frequentar. Foi a primeira vez que pedi a pizza de lá por telefone e tive uma sensação de que me faltava algo. E era o ambiente! O garçom boa praça, o chope gelado e a música ao vivo, coisas simples. A pizza era exatamente igual à servida na mesa da pizzaria, mas outro astral. Astral esse que a comodidade de pedir por internet ou por telefone não pode suprir.

Todo avanço gera impacto e reação. Em nosso mercado não poderia ser diferente, então, em certo momento houve uma migração de parte dos consumidores para o mundo das lojas virtuais. Com preços atrativos e comodidades como catálogos virtuais, variedade de produtos, imagens, entrega em domicílio de peças, acessórios e até bicicletas, quem precisaria ir à loja? Acredito que é exatamente isso que o lojista mais tema: que o cliente deixe de frequentar a loja física. Mas, e a fidelidade de uma conversa franca, o atendimento olho no olho e aquela dica especial, coisas que não ocorrem no campo dos negócios virtuais, será que não possuem valor?

Tenho notado então o ‘ressurgimento’ de variações dos atrativos oferecidos pelas lojas para “trazer de volta” o consumidor. São ações como os tradicionais grupos de pedal noturnos ou de fins de semana, serviços de bikefitting, promoções diversas e serviços diferenciados como guarda-bike, vestiário com ducha, cafeteria, bolos ou lanches, sucos e até cerveja.

Essas novas estratégias vêm seguindo uma tendência global naturalmente. Uma vez que esse “êxodo” já vem ocorrendo há mais tempo em outros continentes, uma das estratégias adotadas são os sistemas de bikefitting (ajuste da bicicleta ao ciclista). Na Europa, esses sistemas se popularizaram com cursos ou aparelhos que pretendem literalmente trazer o consumidor de volta às lojas, cada um com sua técnica, sistema ou filosofia, uma vez que necessariamente o cliente deverá comparecer para tomar as medidas e realizar os devidos ajustes que levarão a resultados reais. Porém, resultados que frequentemente demandam substituição de peças como mesas, guidões, selins, canotes etc, o que significa maior lucro para as lojas.

Esses sistemas têm grande poder de alavancar as vendas, já que o consumidor que optou pelo serviço já está predisposto a investir na garantia de maior conforto e rendimento através do ajuste sugerido. E se o cliente está de volta à loja física, ele poderá olhar em volta outros produtos e literalmente “babar” nas vitrines, potencializando a compra por impulso.

Numa outra vertente, mas não menos criativa, surgem os “bike-cafés”, que com um ar sofisticado atraem principalmente os moderninhos e descolados que querem curtir um café, um bate-papo, mas não abrem mão de estar num ambiente, digamos, ciclístico. E espaços para o biker com ducha e serviços também vêm ganhando adeptos. A popularidade das bikes faz surgir novas alternativas: locais onde se pode tomar um banho, um chá gelado, deixar a bike estacionada, comprar peças, fazer uma revisão etc.

Lojas cada vez mais “bonitas” aparecem. Lojistas estão investindo pesado na arquitetura e decoração com mobiliário planejado, climatização, iluminação e displays elaborados, tudo com intuito de valorizar cada vez mais as “joias” expostas nas vitrines.

Em viagem ao Colorado, fiquei surpreso com a variedade de opções que as lojas oferecem, apresentando inclusive palestras sobre os mais variados temas ciclísticos, regado à pasta e vinho! Isso dentro da loja, com a loja funcionando. E conversando com o gerente de uma das lojas no Colorado ele me disse que em certo ponto da história de 25 anos da loja, tiveram que inovar e revolucionar a forma como trabalhavam para seguir num crescimento saudável. Hoje a receita da loja é tentar manter o cliente o maior tempo possível dentro da loja. Espaços amplos com tremenda variedade de produtos e funcionários simpáticos, descontraídos, bem informados e treinados encorpam essa estratégia.

Lojas com quatro boxes para bikefitting, cada um com um sistema diferente à escolha do ciclista, oficinas muito especializadas; realmente o Colorado vem marchando numa boa direção, já que as lojas que visitei vão muito bem obrigado! Eu lançaria um desafio para o futuro: qual será a receita para manter seu cliente, fidelizar, sem deixar de crescer, inovar e modernizar?

“Espaços amplos com tremenda variedade de produtos e funcionários simpáticos, descontraídos, bem informados e treinados.”