Todo mercado muda, se transforma e desperta questionamentos. Desde o lançamento das rodas grandes, medidas 29”, 27,5” e até das Fat Bikes, as preferências foram estremecidas e mal administradas quanto ao conceito e necessidade. É verdade que o mundo comprou as novas medidas como excelentes opções, mas será que isto é suficiente para “afogar” a diversidade de peças e modelos destinados às bicicletas de roda 26”?

© Roberto Furtado / Rodociclo Bike Shop

Fizemos uma pesquisa rápida sobre a disponibilidade de pneus e suspensões para bicicletas de aro 26”. Constatamos que muitas das bicicletarias simples ou destinadas ao público de menor poder aquisitivo possuem quase que exclusivamente pneus e acessórios para o tamanho de roda mais tradicional que já existiu, sendo mais de 95% das peças voltadas para este perfil de bicicleta.

Quando o assunto é bicicleta de maior valor agregado ou público com melhor poder aquisitivo, constatamos que houve grande redução de componentes para bicicletas de roda 26”. Raras são as Bike Shops que mantiveram a preocupação com este mercado. As lojas de público mais exigente se voltaram para as novidades e praticamente esqueceram as medidas anteriores.

Houve uma forte mudança na elaboração de estoque para bicicletas de 27,5” e 29”. Antes era comum encontrar pneus, aros, câmaras e suspensões específicas para bicicletas de 26”, em especial na linha mais top. Hoje, ao que parece, grande parte das lojas optaram por trabalhar com este material lançado recentemente, cujo público forte é das rodas maiores. As lojas que continuam vendendo peças relacionadas à medida 26”, mostram conjuntos e nível mais simples. O que demonstra que as peças top ou de maior qualidade, na medida 26”, estão sumindo de acordo com a tendência dos últimos três anos.

A questão é que há, ainda, muitas bicicletas 26’’ de elevado nível construtivo rodando pelas ruas, trilhas etc. Tais bicicletas necessitam de peças e componentes de qualidade. Algumas medidas não são encontradas, ou você não encontra as mesmas nas marcas de qualidade que são representadas por pneus com valor de R$ 100 a R$ 300. Tornou-se muito difícil encontrar um pneu 26 x 2.2 de kevlar na cidade de Porto Alegre. É preciso pesquisar em muitas lojas, deparar-se com estoque antigo, encomendar ou até atravessar a cidade para localizar o que se procura.

© Roberto Furtado / Rodociclo Bike Shop

Para Anderson Albuquerque, da Rodociclo Bike Shop, isto é uma realidade para um mercado que está um pouco desatento, há necessidades diferentes para cada ciclista. Ele diz: “é preciso ter o material que o cliente procura. Aqui nós temos e ainda teremos, por longa data, peças como pneus, aros e suspensões de elevado nível destinados a bicicletas de roda 26”. Por preferência pessoal, também optei por manter a bicicleta de rodas 26”, pois tenho um modelo de qualidade que não justificava ser substituído e não me adaptei tão bem com a bicicleta de rodas 29”. Assim como eu, há muitos ciclistas que ainda possuem bicicletas em boas condições e de nível elevado de projeto, e estes precisam de componentes e peças para estas bicicletas. Nós mantemos um estoque muito variado em pneus e outros componentes da medida 26”, pois sabemos desta necessidade e apostamos ainda no mercado em questão. Acontecem situações de clientes que já possuem uma boa bicicleta de rodas 26”, desejam realizar um upgrade ou alteração de componentes com finalidade específica. Estes clientes, muitas vezes, não estão dispostos a gastar R$ 10 mil em uma nova bicicleta, porque o fizeram recentemente, mas concordam em investir em novos grupos, peças etc com condições de orçamento que superam os R$ 4 mil. Como não atender ao cliente com esta necessidade de atenção? O cliente é a prioridade, nós teremos o que ele precisa! Temos pneus 26” nas marcas Maxxis, Continental, Specialized ou Kenda… E nós somos democráticos, temos do Kenda simples ao topo de linha, porque nosso cliente tem o direito da escolha!”

O fato de haver um mercado que ainda gira em torno desta medida de 26” demonstra a necessidade de atenção. Assim como surgiram todas as mudanças tecnológicas para a bicicleta, houve também muita especulação e expectativa sobre estas apostas. Não se diminui em nada a qualidade de uma bicicleta por causa do tamanho do aro. Isto é muito mais uma questão de gosto, ou até desempenho em competições ou dados tipos de terrenos, do que qualidade e conforto ao rodar e se divertir.

© Roberto Furtado / Rodociclo Bike Shop

E devemos pensar que a disseminação de mais modelos interfere também na economia da bicicleta. É difícil popularizar a bicicleta ou componentes para ela, se ela muda drasticamente a todo momento. Novos conceitos e evolução são necessários, mas exclusão de uma versão tradicional e extremamente funcional como é o modelo de rodas 26”, torna impraticável a popularização da bicicleta.

Estrategicamente, ao falarmos da indústria da bicicleta, devemos lembrar que não se consegue aumentar o valor de um produto que já está no mercado há tempos, de forma idêntica, mas nas alterações você consegue usar a atribuição do lançamento para sobrecarregar o valor. Esta é uma verdade que precisa ser administrada com cautela ao comparar as opções de mercado. Lançamentos carregam consigo elevado valor, uma distância descomunal para quem deseja iniciar na bicicleta. Não seria o elevado valor da bicicleta um entrave para sua popularização? Já não é demasiadamente complicado inserir a bicicleta no sistema mesmo sendo ela muito mais econômica ao sistema em relação ao veículo automóvel? O que ganhamos com a diversidade de peças e componentes incompatíveis? Aumento de valor e dificuldade na reposição de estoques, e sabe lá mais o que em detrimento destas questões. Há muito para se pensar, mas a roda 26” ainda pode nos ensinar muito, afinal, existe sempre a exceção em meio a estatística. E estatística pode ser algo “manipulado”, assim como o mercado. O que não pode ser manipulado é a simpatia da bicicleta e o prazer em pedalar.