A forma mais romântica de conhecer Cartagena das Índias, na Colômbia, a cidade que inspirou um dos maiores escritores latino-americanos, sem dúvida, é de bicicleta. Como sempre, recorro à literatura para planejar um roteiro. Na verdade eu amo combinar livros e bicicletas. Já ouvi que ambos são itens de design perfeitos e concordo. Quando comecei a pesquisar sobre meu destino, Cartagena das Índias, escolhi a minha Monareta Dobramátic de 1972. Por ser aro 20, que acho perfeito para os centros urbanos, por ter uma mecânica simples e estrutura resistente para suportar o “trato” das companhias aéreas. Além disso, sou fotógrafo e a escolha também foi estética. O resultado me surpreendeu.

Pedalando em Cartagena

Cartagena das Índias foi fundada em 1566 e batizada em homenagem a Cartagena, na Espanha. O centro histórico é conhecido como a cidade fortificada (cidade amuralhada), e foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1984. A população da cidade chega a quase um milhão de pessoas, mas durante os meses de dezembro e janeiro pode chegar a dois milhões.

Pedalar pela colorida La Heroica, como é conhecida a cidade histórica de Cartagena das Índias, é reviver os livros do escritor colombiano Gabriel Garcia Marques (Gabo). As ruas aprisionadas entre as muralhas parecem um labirinto mágico onde o amor e a loucura se encontram encarnadas pelas palavras de Gabo em cada esquina. Foi aqui o cenário do romance de Fermina Daza e Florentino Ariza, personagens do livro “O Amor nos Tempos de Cólera”. O livro me inspirou a andar tranquilamente pelas ruas de Gabo, mas antes de se aventurar e se perder pelas ruelas, a grande dica é baixar o áudio guia “La Cartagena de Gabo”, da Tierra Magna (disponível para smartphones e tablets) e fazer o tour seguindo os passos do escritor.

O passeio guiado começa e termina na Plaza Santo Domingo, exatamente onde fica a famosa escultura do artista Fernando Botero. Dali você segue para a Plaza Santa Tereza, onde há uma das entradas da cidade, sempre apreciando a arquitetura peculiar dessa joia do Caribe. Tudo pode ser feito em um dia, mas o ideal é dividi-lo pelo menos em dois. Afinal, são 35 pontos. O guia é em espanhol, claro e inteligível. As bicicletas são muito incentivadas na parte interna da cidade. Mesmo que você não tenha tanta prática, é muito seguro deslizar e parar a cada instante. Não tenha pressa, pois pedalando você conhecerá muito mais do que a pé e pode estacionar em vários lugares.

Fora da cidade amuralhada, a cidade continua plana e perfeita para a bicicleta! Pedalar entre os carros é mais tranquilo do que em muitas cidades brasileiras. Isso por causa das Zonas 30, onde carros precisam trafegar a velocidades menores. Mas nem tudo são flores. Cartagena ainda é bem carrocrata. A partir das 17 h, motoristas disputam espaço com os pedestres e o excesso de táxis nas ruas, enquanto buzinam a todo instante, chega a irritar quem procura paz e tranquilidade. Fora do centro histórico os pedestres não têm prioridade. Carros estacionam em calçadas e quase não existem semáforos. Ciclovias também são poucas. Mesmo assim, vale muito e você se arrependerá se não levar sua bici. À noite, vários bares e restaurantes são um convite a uma parada contemplativa enquanto você experimenta os excelentes cafés e drinques e escolhe sua agitação. A maioria dos turistas alugam bicicletas e precisam ficar rodando bastante para não perder tempo. Já quem leva sua bici pode “perder” o tempo que quiser e ficar despreocupado.

© Gil Sotero

Viagem

Saí de Belo Horizonte para São Paulo, de São Paulo para Bogotá e de lá para Cartagena. Não foi fácil para as bicicletas. A companhia aérea Avianca é bike friendly, mas não soube cuidar das magrelas. Apesar dos pequenos arranhões, as duas dobráveis chegaram intactas.

Hospedagem

Como era alta estação, em janeiro, a hospedagem estava pelas alturas. Mas encontramos um bom flat no bairro Boca Grande, que fica a 2 km da entrada da cidade antiga. Como o prédio era novo e tinha garagem 24 h, lugar para as bicis, água quente e piscina no último andar, valeu demais!

Dicas

1 – Se não levar sua bike é possível alugar. Há várias locadoras no centro histórico e até fora dele. O custo médio da diária pode variar ente R$ 25 a R$ 50. Prefira levar, se puder, assim você gastará com outras coisas.

2 – Estacionar a bicicleta não é problema, desde que tenha seu cadeado. Vários restaurantes e bares são amigáveis. No Hard Rock, por exemplo, pude entrar com a minha dobrável e deixei-a sem dobrar, estacionada na parte inferior do estabelecimento. Na verdade não tive problemas em nenhum lugar em que fui de bici.

3 – Prefira pedalar pela manhã na cidade. Antes das 9 h 30 min, o trânsito é tranquilo e quase não há carros. É lindo pedalar à noite, mais tarde. Porém, entre 17 h e 21 h a cidade lota de turistas, carros e buzinas. Com paciência se passa em todas as ruas e há aquelas que são mais tranquilas.

4 – O Código de Trânsito Colombiano obriga o uso do capacete. Mas quase ninguém (incluindo os cartageneiros) usa.

5 – Vá a todos os pontos turísticos. No Café Del Mar os preços são bem salgados para o espetáculo momentâneo que é o pôr-do-sol. Do lado dele você pode apreciar tudo sem precisar gastar rios de dinheiro.

6 – É possível ir ao Castelo de San Felipe de Barajas de bike.

7 – Praias: não há praias bonitas em Cartagena, mas você pode pegar um barco para Playa Blanca. Compre a passagem no Porto que fica em frente à Torre do Relógio, fora da cidade amuralhada. Você verá a aglomeração. Leve uma capa de chuva, o mar não é brincadeira, principalmente na volta, e não esqueça de tomar um remédio para enjoo antes de embarcar. Apesar de bonita, Playa Blanca é bem farofa. Os pacotes até incluem comida, mas lá não tem muita coisa. O mar é bonito, mas se você quiser mais estrutura passe o dia em Coco Liso. Atenção: se ir ao oceanário, irá perder precioso tempo da praia. Os barcos retornam às 15 h.

8 – O mais importante: você não precisa de roupas especiais para pedalar em Cartagena. Vá com seu estilo e se prepare para lindas paisagens e visões.

9 – Você quase pode gastar o quanto quiser para comer. Há restaurantes na parte amuralhada que servem menu do dia à população local e os mais requintados para turistas. Escolha aquele que mais te agradar, mas não esqueça de ir ao Restaurante Argentino Marzola.