Durante a quarentena causada pelo coronavírus, o aspecto mental vem se mostrando muito importante na saúde dos atletas. Além de exercícios em casa, treinadores e comissões técnicas cada vez mais incluem conversas com psicólogos durante a preparação esportiva. Em live realizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, o ciclista de mountain bike Henrique Avancini e a psicóloga Alessandra Dutra analisaram a importância de um acompanhamento psicológico na rotina dos esportistas e a postura mental no atual momento de pandemia.

“Eu aprendi com minha carreira esportiva que as coisas sempre trazem uma oportunidade de evolução, que mesmo com a falha e a frustração a gente sempre tem a chance de aprender e crescer. Então quando as coisas mudaram, o calendário foi suspenso e as provas, adiadas, eu passei por um processo de absorção, de entender o que estava acontecendo”, avaliou Avancini. “Estou administrando os desafios, as partes ruins, e tenho valorizado as coisas boas, o que está ao meu alcance. E é assim que eu sigo em frente, sempre buscando uma oportunidade de evolução.”

“Não adianta a gente ficar esperando data de campeonato, de Olimpíada, isso vai gerando muita ansiedade. Esse é o momento que a gente tem para errar bastante. É um momento de criar oportunidade, experimentar coisas novas para nossos treinamentos, para nossa rotina, treinar a mente e a criatividade”, observou Alessandra Dutra, que trabalha com o ciclista desde 2015.

“O atleta que agora usar dos recursos mentais, ler esse momento que está passando de uma maneira muito peculiar, vai conseguir usar esse momento de forma muito positiva”, completou a psicóloga.

Aprender a competir

Não é apenas em tempos de isolamento que o aspecto psicológico do esporte se faz essencial. Durante toda a preparação do atleta, ter um lado mental forte é importante para aprender a competir e lidar com frustrações, como falhas e derrotas.

“No esporte brasileiro a palavra frustração é vista como um mito, é negativa, mas dentro de uma prova temos várias pequenas frustrações que podem se tornar grandes se não lidar bem com isso”, observou Avancini.

“Você tem duas opções: ou você fica ali amargando a situação ou foca nas coisas positivas porque é dali que vai sair algo de bom, algo mais produtivo”, complementou Alessandra, avaliando também a dificuldade que o brasileiro tem de lidar com disputas. “Aqui no Brasil, até culturalmente falando, encaramos a questão da competição como comparação, e não como auto superação e isso nos atrasa muito. Por isso lidamos com a pressão de uma forma negativa. Desde pequenos, sempre temos as atitudes comparativas e isso vai fazendo mal porque vamos nos tornando mais críticos. E na hora de competir você se subjuga, se sente muito abaixo ou, às vezes, até tem avaliação equivocada de superioridade”, completou a psicóloga.

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