Uma das coisas que faz o mountain bike tão divertido é o contato com a natureza. Esse meio é relaxante e permite experiências únicas. Algumas, porém, podem ser perigosas. Você sabe o que fazer se der de cara com uma cobra venenosa, por exemplo? Essa matéria foi baseada em informações provenientes de órgãos oficiais e pesquisadores da área, para lhe ajudar a saber o que fazer em uma situação dessa.

Diferentes de seus velhos parentes dinossauros, as cobras não são répteis gigantes e barulhentos. Mas isso não faz delas seres menos perigosos. Elas aprenderam que tamanho não é documento, mas que camuflagem, química e tecnologia avançada podem compensar praticamente qualquer desvantagem de tamanho ou número.

Cobras são caçadoras sofisticadas que usam sensores de calor para localizar presas há milênios, antes mesmo dos humanos imaginarem que isso fosse possível. Somando isso ao olfato e capacidade de identificar vibrações vindas de todo o seu corpo (e, portanto, do solo) as cobras compensam sua visão ruim para identificar e localizar precisamente seus alvos. Suas cores podem torná-las praticamente invisíveis ou advertir outros animais de que elas são perigosas. E ainda há o veneno: complexas composições químicas capazes de paralisar e matar presas em poucos minutos ou até segundos.

Qual é o seu conceito sobre cobras?

Infelizmente, a maioria das pessoas considera as cobras como uma ameaça em qualquer circunstância. Por isso, muitos acreditam que toda cobra encontrada deve ser morta, mesmo na natureza. Isso é um problema. Cobras não são assassinas descontroladas. Acostumadas com um mundo hostil, elas estão sempre prontas para se defender. E esse é o X da questão – elas atacam seres humanos por que se sentem ameaçadas por eles. Sempre que possível, as cobras preferem evitar o conflito e fogem, atitude esperta que muitos humanos não têm.

É importante lembrar que nem todas as cobras são venenosas. Mesmo as que possuem veneno nem sempre o injetam quando se defendem. As cobras sabem da preciosidade do líquido destrutivo que produzem, e priorizam seu uso para caçar. Assim, algumas espécies muitas vezes dão mordidas secas – picadas que assustam, mas que não injetam veneno.

Muitas cobras também fazem o que podem para avisar intrusos de que, se eles se aproximarem, elas serão obrigadas a atacá-los. Isso prova que o objetivo das cobras não é ferir qualquer ser vivo que veem pela frente. Portanto, você pode considerar o chocalho de uma cascavel, o silvo de uma jiboia ou o som do atrito das escamas de uma víbora-de-chifre como uma boa ação da parte delas. Afinal, quem avisa, amigo é.

O que fazer ao encontrar uma cobra

Antes de qualquer outra coisa, mantenha a calma. Para alguns é fácil, para outros é mais complicado. De qualquer forma, se esforce para evitar movimento bruscos, que podem soar ameaçadores para o animal.

Em uma trilha fica complicado chamar os bombeiros para tirar uma cobra da sua frente, mas se você encontrar uma cobra em uma área urbana, essa é a melhor opção. Na trilha, a melhor opção é esperar a cobra seguir seu caminho. Lembre-se de não obstruir o caminho dela, e muito menos a encurralar. Isso pode deixá-la agressiva. Permaneça a uma distância segura. Essa distância varia de cobra para cobra, mas faça o possível para manter no mínimo três metros de distância. Não tire os olhos da cobra até que ela vá embora.

Não provoque!

Ao encontrar uma cobra, ela deve seguir o caminho dela, e você, o seu. Não cutuque, jogue pedras ou faça movimentos ameaçadores. Algumas espécies demonstram comportamento naturalmente mais agressivo, que vai além da defesa, podendo até mesmo perseguir quem as ameace.

Também não provoque uma cobra caso seja de uma espécie que não possui veneno. A cobra ainda pode te morder, e essa mordida pode gerar infecções, além da dor dos ferimentos.

Muito próximo de um bote

E se você esbarrar com a serpente a ponto de ficar dentro do alcance do bote dela? Primeiro, fique imóvel por uns instantes. Depois, muito lentamente, se afaste da serpente. Lembre-se que um movimento brusco pode fazer com que ela te ataque.

Trate toda cobra como venenosa. Isso ajuda a prevenir acidentes com qualquer cobra. Mantenha seus níveis de atenção e cuidado no máximo. Não dê as costas para a serpente. Fique de olho nela, assim como ela vai estar atentamente de olho em você.

Na pior das hipóteses

Fui picado! E agora? Mais uma vez, mantenha a calma. A grande maioria dos incidentes com cobras não são fatais. Quando alguém morre por picada de cobra, geralmente o indivíduo levou muitas picadas ou já estava debilitado antes de ser mordido. Além disso, o veneno costuma levar algum tempo para causar danos maiores. Em muitos casos o soro é aplicado mais de dez horas depois do acidente, com bons resultados. E em outros casos, pessoas que nem recebem soro se curam! Então, se você é um ciclista saudável, siga as instruções abaixo que tudo ficará bem.

O veneno da maioria das cobras se espalha pelo sangue, portanto, não corra, não pule – não faça nada que acelere sua circulação sanguínea, ou o veneno pode alcançar órgãos vitais. Isso não significa que o veneno acompanha o sangue aonde quer que ele vá. Ele tende a ir parando e agindo nos tecidos – ainda mais por que ele coagula o sangue. A não ser que… você acelere seus batimentos.

Também não siga o outro extremo de trancar a circulação do sangue. Deixe as coisas correrem naturalmente até conseguir socorro. Se você trancar a circulação com um torniquete, por exemplo, o veneno vai se concentrar numa área específica, podendo causar graves danos ao membro atingido.

Não jogue pó de café, cachaça, querosene, teia de aranha ou qualquer outra coisa no ferimento. Esses procedimentos da sabedoria popular só pioram o problema. Não sugue o veneno de volta com a boca, pois ele pode causar danos na boca, que é um local de tecido sensível.

Mantenha o membro atingido em uma posição elevada. Se possível, permaneça deitado. Remova anéis, pulseiras ou roupas justas que estejam perto do local da picada, já que essa região vai inchar. Mantenha-se hidratado e lave o local da picada com água e sabão. Busque ajuda e vá para um local de atendimento médico imediatamente.

“Lembre-se de não obstruir o caminho dela, e muito menos encurralar A COBRA.”

Identificando a cobra para receber o soro

Para receber o soro correto, os médicos precisam saber que espécie picou você, já que existem muitos tipos de veneno. O ideal seria levar a cobra até o centro médico, mas é bem provável que você não tenha treinamento e equipamento para isso – e muito menos vontade. Você terá de observar a cobra e descrevê-la. Se possível, cuidadosamente tire uma foto ou filme a cobra. Se for descrevê-la, precisará dizer:

A coloração da cobra. Ela tinha manchas? Qual o formato das manchas? Qual a cor predominante?

Aspectos do corpo da cobra. A cabeça dela era arredondada ou tinha formato de ponta de flecha? O corpo era liso ou escamado? A ponta da cauda era fina ou grossa? Ela tinha um chocalho na cauda?

O local em que você foi picado. Floresta? Areia? Rochas? Como era o lugar?

Marque a hora em que você picado. Essa informação é muito importante para os médicos.

E se você não teve como identificar a cobra? Calma. Existe um soro polivalente, que age para praticamente qualquer veneno. Mesmo não sendo específico, ele vai ajudar.

” Sua melhor prevenção é ter outros seres humanos por perto. Não pedale sozinho.”

Prevenção

Cobras não costumam ficar paradas no meio de trilhas. Elas provavelmente passam por essas trilhas todos os dias, mas não é um local que as atrai. Como ninguém pedala de botas e proteções nos braços, as prevenções são diferentes das recomendadas para quem caminha no mato. As chances de ser picado ao pedalar são baixas.

Não ande no mato ao redor das trilhas. Se precisar fazer isso, use botas de cano longo para proteger as pernas e proteções para os braços. Não mexa em pilhas de galhos e folhas. Cobras amam esses lugares. Não mexa em buracos, e muito menos coloque a mão neles!

Sua melhor prevenção é ter outros seres humanos por perto. Não pedale sozinho. E ainda assim, tenha sempre como chamar alguém ou pedir socorro. A comunicação pode ser o melhor antídoto. Tenha sempre água consigo. Não há como carregar soro antiofídico para lá e para cá, pois ele precisa ser armazenado em baixas temperaturas e exige dosagem e manuseio corretos.

Siga pedalando!

Se você respeitar a cobra, ela vai respeitar você. Não fira ou mate a cobra. Além de resolver problema nenhum, isso será uma maldade para com o animal. É ainda crime ambiental, punível com detenção sem direito à fiança. Tenha em mente também que a medicina tem descoberto substâncias farmacêuticas no veneno de muitas cobras. Isso não poderá ir adiante se elas deixarem de existir.

Mas não faça da presença de cobras uma preocupação ao pedalar. Muitos ciclistas que pedalam há vários anos em trilhas mal conseguiram ver algumas cobras. Você pode ter ainda mais tranquilidade agora, que sabe o que fazer se encontrar com uma cobra!

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Principais cobras venenosas do Brasil

Menos de 30% das cobras brasileiras são venenosas. Saber quais são pode servir para identificar a cobra em caso de picada.

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JARARACA-DA-MATA. Existem várias espécies que utilizam a denominação Jararaca, mas geralmente é a essa que nos referimos. São serpentes não muito longas, geralmente chegando a 1,50m. Grande parte dos acidentes com cobras no Brasil acontecem com elas. Possuem cabeça triangular, corpo escamado e coloração marrom-amarelado escura. Possui manchas em forma de “V” nas laterais do corpo. Gostam de locais úmidos, principalmente próximos a riachos e banhados, pois é onde ficam sapos e ratos, seus pratos favoritos. Sua coloração é uma camuflagem que pode torná-la quase invisível no meio de folhas e galhos secos. Seu veneno é potente, e causa hemorragia, necrose, coagulação do sangue e alterações cardiovasculares e renais.

Cascavel. Facilmente reconhecível por seu chocalho, a cascavel faz questão de avisar quem se aproxima de que há perigo. Possui cabeça triangular, porém mais arredondada que a da jararaca. As bolsas laterais de veneno são bem evidentes. O corpo é escamado e tem coloração cinza e preta, e em algumas subespécies, amarelada. Prefere ambientes mais secos, com rochas e areia. Seu veneno é neurotóxico, ou seja, age no sistema nervoso, causando dificuldade de respirar e de se locomover. Também pode destruir células sanguíneas e proteínas do corpo humano. Apesar disso, esse veneno não costuma causar dor, nem ser letal. Lembrando que a cascavel comum em solo brasileiro (Crotalus durissus) difere das várias e várias espécies norte-americanas, que possuem venenos comumente letais.

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COBRA-CORAL. Essa designação geral se refere as serpentes da família Elapidae, espalhadas ao redor do mundo com mais de 80 espécies. Algumas são venenosas, outras não. Quando possuem veneno, no entanto, são tão venenosas quanto as najas. Uma curiosidade das corais é que elas não dão botes como as outras serpentes. Já que seus dentinhos inoculadores ficam no fundo da boca, elas precisam se grudar na presa e morder com firmeza para conseguir injetar veneno – processo que não acontece instantaneamente. A identificação da serpente e da sua capacidade de inocular veneno pode ser bem complicada. A dica é tratar todas como venenosas e manter distância. Um princípio básico: se as listras vermelhas encostarem nas pretas, é falsa (sem veneno). Mas para averiguar, é necessário ver as presas…

Surucucu. A “medonha”, como é conhecida no norte do Brasil, leva a fama de maior cobra venenosa da América do Sul. Pode chegar a mais de 3 metros. Possui coloração que varia entre dourada com preto, amarelo cinzento com preto e laranja com preto, escamas claramente visíveis e cabeça triangular. Ocorre mais ao norte do Brasil. Seu veneno tem ação muito parecida com o da jararaca, porém, também é neurotóxico, causando paralisia de alguns sistemas, principalmente o renal. Ao ser picado por uma surucucu é importante identificar corretamente a cobra, pois os sintomas são parecidos com os da picada de jararaca. Assim como a cascavel, chacoalha a ponta da cauda, mas como aviso visual, já que ela não tem o chocalho. Seu número diminuiu e infelizmente algumas subespécies estão ameaçadas de extinção.

Não venenosas, mas temidas

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Jiboias. As jiboias (designação geral para várias espécies) receberam fama de animais perigosos, mas isso é um mito. Jiboias são animais dóceis, e mesmo na natureza não costumam ser agressivas com seres humanos. Existem espécies e subespécies de jiboia com diversas (diversas!) colorações. São caçadoras silenciosas que matam suas presas por constrição – se enrolam na vítima e a apertam tanto que ela morre ou esmagada, ou por interrupção do fluxo sanguíneo. Ainda assim, são muito calmas, ainda mais durante a digestão, que pode durar uma semana. Em caso de mordida de jiboia deve-se seguir os procedimentos médicos de um ferimento comum, para evitar infecções.

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Sucuri. Uma das maiores cobras do planeta Terra ficou mundialmente famosa como Anaconda no cinema. Pode viver até trinta anos, o que faz com que atinjam tamanhos incríveis. Normalmente elas ficam com pouco mais de quatro metros quando adultas, mas sabe-se que existem sucuris com mais de nove metros de comprimento. Não são agressivas com seres humanos, mas também não gostam da presença deles por que são muito curiosos. Aqui se aplica muito bem a regra: não mexa com está quieto. Se uma delas chegar a atacar um ser humano, a coisa pode ficar feia. Se você for mordido por uma sucuri, não puxe bruscamente o membro atingido para fora da boca do animal. Ela tem dentes curvos para trás, e isso faria seu membro ficar mais preso ainda. Ao contrário, empurre o membro para dentro da boca do animal, para se soltar. Pressione a base da mandíbula da cobra para facilitar sua fuga. Nunca fuja de uma sucuri pela água. Elas são excelentes nadadoras, mas na terra são lentas. Se ela chegar a te abraçar, tente morder ou ferir a ponta da cauda do animal, que é mais sensível. Use todo e qualquer objeto que encontrar para lutar contra ela, especialmente objetos cortantes – lembrando que essa é uma situação extrema. Sucuris tendem a desistir de presas que resistem com violência.

Mitos e Verdades sobre as cobras

O veneno das cobras fica no rabo: Mito. A sabedoria popular nos diverte com algumas ideias bem engraçadas, e essa é uma delas. O veneno das cobras fica em duas bolsas nas laterais da cabeça, cada bolsa alimentando uma das presas inoculadoras. Não faria sentido bombear o veneno da cauda até as presas.

Cobras são imunes ao próprio veneno: Verdade. Se você alguma vez ouviu uma história de uma cobra que picou a si mesma e morreu, já sabe…

Cobras podem hipnotizar suas presas. Mito. Mais uma pérola da sabedoria popular. Muitas presas, ao esbarrarem com uma cobra, ficam apavoradas e travam, ou ficam estáticas, prontas para se defenderem. E o medo pode fazer isso com um ser humano também. As próprias cobras, quando ameaçadas, ficam estáticas. Não há hipnose na jogada.

Cobras mamam no gado ou em mães lactantes: Mito. Cobras são répteis, não mamíferos. Essa crença surgiu da lenda de um marido que chegou em casa, encontrou uma cobra ao lado da esposa lactante, e ao matá-la, leite coalhado saiu de dentro da cobra. O que acontece é que as cobras possuem uma gordura corporal branca, que realmente lembra leite coalhado. A partir disso, muitos afirmam ter visto cobras mamando em vacas.

Cobras podem se arremessar contra suas presas: Mito. O bote de uma cobra geralmente usa um terço do corpo. Existe uma espécie de cobras que consegue pular de uma árvore para outra, e por isso é conhecida como cobra-voadora. Mas ela não usa essa habilidade para dar botes.

Uma vez picado, o ser humano desenvolve imunidade ao veneno. Mito. Se fosse assim, todos receberíamos uma vacina contendo um pouco de veneno de cobra e seríamos imunes. Não haveria por que fabricar soro. O que pode acontecer é uma maior resistência do sistema imunológico por um breve período após se recuperar da picada, mas isso não torna ninguém à prova de cobras.

As cobras são surdas: essa é um pouco mais complicada. Apesar de não possuírem ouvidos externos, elas usam as vibrações recebidas pelo corpo e as decodificam em um ouvido interno. Isso permite sentir vibrações específicas, como o caminhar de uma presa no chão e outras vibrações recebidas no corpo pelo ar. Elas não ouvem como nós ouvimos. Se você gritar, por exemplo, não chamará atenção de uma cobra. Mas se pisotear o chão, ela entrará em alerta.

Cobras podem ser hipnotizadas com o som das flautas: Mito. Se elas não ouvem o som gerado pela flauta, como isso poderia influir nelas? O que acontece é que elas seguem o movimento do instrumento, pois estão prontas para dar um bote e fazer mais dois furinhos na flauta. Nos cobras que participam em shows de encantadores, há uma fase de treinamento em que a cobra aprende que atacar a flauta não adianta nada.