Bike Fit – Em Busca da Receita Pronta

É verdade que a ponta do joelho tem de ficar alinhada com a ponta do pé? O guidão tem de esconder o cubo da roda dianteira quando olhamos de cima? Se eu medir a distância entre o guidão e o selim, pelo tamanho do meu cotovelo até a ponta dos dedos, está correto?

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Se existe um assunto que nunca vai cessar é a busca por uma receita para fazer o Bike Fit caseiro. Após a publicação do artigo “Bike Fit: eu mesmo posso fazer?”, na edição 004, vários foram os e-mails recebidos. Dentre os diversos assuntos abordados, destaca-se a busca por esta receita.

É preciso enfatizar: não existe receita pronta, truques e dicas. Um bom Fitter possui técnicas baseadas em estudos científicos que adotam, como parâmetros, a aferição de ângulos formados por pontos anatômicos específicos. Esses ângulos vão variar de acordo com as distâncias entre esses pontos, quando se compara dois indivíduos. Somente assim é possível encontrar o perfeito posicionamento, onde o máximo de energia é aproveitado na pedalada, obtendo o máximo em conforto.

Fora isso, o que temos são mitos e lendas que, de tanto serem repetidos, acabam tornando-se verdades. Com o advento da internet e do Ctrl+C/Ctrl+V, receitas mirabolantes se difundiram entre os ciclistas de tal maneira que provavelmente você já usou ou vai usar uma delas alguma vez na vida.

“Afinal, existe uma maneira correta de ajustar a bike sem consultar um Fitter?” A resposta é simples. Ajustar a bike sem consultar um Fitter é possível sim; difícil será saber se sua bike realmente está no posicionamento correto e, inclusive, se o tamanho do quadro é adequado. O simples fato de viver com essa dúvida torna qualquer desconforto, um dilema: será que é um breve desconforto ou existe algo que pode ser melhorado no posicionamento?

Sabe quando você sai para pedalar com seus amigos, e justamente naquela subida você assiste todos eles dispararem na sua frente, e ao chegar ao topo, param para assistir você completar a subida? Nesse intervalo de tempo você pensa: “O que está errado? Será que tenho que trocar o conjunto de marchas? Será que essa bike está muito pesada? Será que não estou me alimentando direito?” Esse tempo é quase um purgatório, onde você se martiriza procurando respostas para a sua falta de rendimento. Várias vezes os colegas palpitam sobre seu posicionamento na bicicleta, o grande problema é que cada um dá uma dica diferente. Alguém diz para aumentar a altura do selim, outro diz para abaixar, e um terceiro argumenta que o seu quadro é que está errado para você. Em meio a esse turbilhão de dicas, e sem saber o que fazer, você recorre ao seu mecânico de preferência, que por sinal pedala a mais de 20 anos e já venceu várias provas de Speed ou Mountain Bike, e pede que ele ajuste a bicicleta.

Nesse ponto é preciso fazer um comentário em favor desses profissionais. Quando eles atendem o seu pedido de ajustarem o seu posicionamento, estão lhe oferecendo o que têm de melhor. Constantemente recebo atletas que, após terem suas bikes ajustadas, reclamam que o mecânico “tal” fez errado. Mas ele não é Fitter! Ele é mecânico, que pedala a vários anos e, por meio de tentativas e erros, encontrou um ajuste que lhe oferece conforto, e dentro de seus conhecimentos, acredita que este posicionamento seja o ideal para qualquer pessoa. Quando o ajuste não fica bom, não significa que o mecânico agiu por maldade: ele apenas repassa o que julga ser correto dentro do seu entendimento.

Mas o melhor posicionamento para ele não é o melhor posicionamento para você. Aliás, ele nem mesmo tem certeza de que aquele posicionamento é o melhor para si próprio, apenas não se sente incomodado. Em uma análise mais profunda, o posicionamento de uma pessoa em uma bicicleta de estrada é diferente do posicionamento da mesma pessoa em uma Mountain Bike.

Fazendo uma analogia, é possível construir uma casa sem consultar um engenheiro? Claro que sim, e é até comum vermos pessoas sem nenhuma formação em construção civil construir e vender casas. Mas será que existe alguma diferença entre essas duas casas? Sim, e são enormes.

A primeira é a existência de um projeto. Se algum dia você precisar modificar qualquer parte da casa, basta consultá-lo para saber onde passam os canos, a fiação elétrica, as colunas de sustentação, a rede de esgoto, enfim. Outra diferença fundamental é que, ao contratar um engenheiro, caso aconteça algum problema, você tem a quem recorrer. Esses profissionais são filiados a um conselho que regulamenta, registra e fiscaliza a profissão. Ao contratar um engenheiro, você tem a segurança de que esta pessoa sabe o que está fazendo.

Você pode pensar: “Que bobagem! Existem tantas casas sem projetos que são muito boas!” Talvez, em uma primeira impressão, as diferenças possam não aparecer. Mas com o tempo surge uma trinca aqui, outra ali, pelo fato de não ter sido corretamente avaliado qual a capacidade de quilos que o terreno é capaz de suportar, e ao ceder ao peso da construção, as paredes criam fissuras. Quando chove, as goteiras aparecem. Ao lavar a calçada, a água empoça em um canto do quintal por não ter sido projetada uma descaída para escoamento. São coisas que aparecem com o tempo.

Com o Bike Fit, a ideia é a mesma. Quando você faz o Bike Fit com um Fitter (profissional do Bike Fit) você tem a certeza de que a posição ajustada é a melhor para o seu conforto e aproveitamento de energia, e ao final de uma prova restará fôlego suficiente para investir no sprint final. Quando não o faz, aparentemente está tudo bem, mas com o tempo o ajuste inadequado pode resultar em inflamações e lesões.

O fato de o Fitter conhecer muito bem a biomecânica do esporte permite que ele planeje o posicionamento do atleta ao longo da evolução física. E assim como os engenheiros, os Fitters são profissionais vinculados aos conselhos profissionais da área da saúde (Educadores Físicos, Fisioterapeutas, Biólogos, Médicos, Biomédicos, entre outros), que se responsabilizam pelo registro profissional e fiscalização da atuação profissional. Isso garante segurança e profissionalismo ao serviço executado.