O mar é um gigantesco fabricante de sal, que está dissolvido na água. Com a rebentação das ondas acontecem ‘sprays’ de água salgada, colhidos pelo vento e trazidos em forma de gotículas muito pequenas rumo à terra. Essa é a famosa maresia, também chamada ressalga, que costumamos associar com o cheiro vindo do mar.

Mas o cheiro não é nenhum problema perto dos prejuízos causados pela maresia. Água salgada é corrosiva. A maresia danifica veículos, equipamentos, redes elétricas, objetos metálicos e é claro, bicicletas. Mesmo objetos guardados em lugares fechados dentro das casas sofrem com a maresia. Estima-se que 20% do ferro produzido todo ano no mundo todo seja usado apenas para repor o que foi corroído!

Por conta disso, temos um problema: pedalar na beira da praia é ótimo, mas como fica minha bicicleta?

Posso ou não pedalar na praia?

Sendo bem objetivo: se você for descuidado, sim. Mas o contrário também é verdade. Se você cuidar bem da magrela, é possível pedalar na praia.

Primeiro ponto a analisar e cuidar: há horas em que a maresia não existe. Quem traz a água é o vento, então quando o vento sopra da terra para o mar, as gotículas de água salgada são jogadas para o alto mar. Isso acontece principalmente à noite, e enquanto isso ocorrer, aproveite para pedalar tranquilo.

Já quando a maresia sopra livre, com acontece ao longo do dia, é necessário lembrar de que a bicicleta precisará de um cuidado especial ao terminar o passeio. Quanto mais forte o vento e a umidade, maior a maresia. Então se estiver ventando muito, talvez seja melhor deixar a magrela escondida, ou se preparar para fazer uma boa limpeza e uma cuidadosa lubrificação nela depois do passeio corrosivo.

Como prevenir os danos da maresia?

As peças mais afetadas são parafusos, raios, niples, corrente e cabos de aço. Essas peças não costumam ser feitas com materiais resistentes à corrosão e ficam expostas. Quadro e componentes principais fabricados com alumínio, carbono ou titânio praticamente não são afetados pela maresia, por serem feitos com materiais muito resistentes à corrosão.

Uma medida simples para proteger essas peças é usar parafina, cobrindo cabeças de parafusos, blocagem das rodas e do canote do selim. Parafina é usada em pranchas de surfe, praticado em praias, portanto, não deve ser um problema encontrá-la no litoral. A parafina usada em pranchas de surfe é macia e fácil de modelar. E caso não encontre parafina de surfe, pode usar parafina de vela mesmo! Uma leve aquecida deixa a parafina mais fácil de trabalhar. Movimento central e movimentos de suspensão podem ser vedados com parafina também. Lubrificante de silicone ou silicone em forma ‘pastosa’ pode cumprir a mesma função.

Já a corrente e transmissão ficam totalmente expostas e não podem receber parafina. Lubrificantes com ação teflon são os mais indicados, por ajudarem a repelir a água. Mas lembre-se de remover os excessos, caso contrário, areia e sujeira salgada grudará na corrente, piorando a situação.

Um bom desengripante como o famoso WD-40 é de grande ajuda nos raios, niples, cabos de aço e na bicicleta em geral. Passá-lo com a ajuda de um pano será mais fácil e ajudará a economizar o produto. Apenas tome muito cuidado para não deixar o desengripante ou qualquer outro lubrificante entrar em contato com os discos, pastilhas de freio ou aro, no caso dos V-Brakes.

Se estiver ao seu alcance, uma medida ainda mais eficiente é trocar as peças vulneráveis da bicicleta por peças de alumínio, titânio ou aço inoxidável (como aço cromo).

Outra coisa importante é qual bicicleta será usada para pedalar na praia. Se há mais de uma bicicleta disponível, talvez seja melhor deixar a bicicleta boa em casa e usar uma mais simples na beira do mar. Muitas pessoas têm uma bike simples apenas para pedalar na praia. Assim, caso haja danos e perdas, o seu bolso não vai sentir tanto. Lembre-se que pedalar na praia é puro passeio e lazer, portanto, praticamente qualquer bicicleta servirá. Alugar uma bike também é uma boa opção.

Guardando a bicicleta

A maresia não se limita à areia do mar ou à rua na beira da praia. Ela invade casas, garagens, depósitos… qualquer fresta é caminho livre para ela. Portanto, mesmo guardada, a bicicleta deve receber cuidados. É bem simples: você precisa cobrir bem a bicicleta, com uma capa de material impermeável como náilon ou uma lona. Ainda assim, com o tempo, podem aparecer efeitos de maresia. Banhos periódicos seguidos de um ‘tratamento’ com um bom óleo ou desengripante vão conservar a magrela.

Algo pior que a maresia

Existe ainda outro fator que não raro é mais prejudicial que a maresia: areia! Sabe aquela areia fina que fica na rua e na calçada à beira do mar? Ela é uma inimiga penetrante da bicicleta!

A areia entra em peças móveis, como movimento central, direção e movimento de suspensão. Lá dentro ela não só pode enferrujar (pois também possui sal) mas também danifica rolamentos, corrente, engrenagens e dentes — afinal, areia é composta de partículas duras, que vão criar um belo atrito entre essas peças.

Mas não se preocupe: para prevenir a areia fina, os passos descritos acima contra maresia — principalmente a parafina ou silicone no movimento central e de suspensão — terão efeito protetor contra a areia também. Nenhuma grande medida adicional precisa ser tomada.

Pedalei em beira-mar com maresia, e agora?

© Paulo de Ta

Agora entram cuidados simples que devem ser seguidos com urgência. A água salgada não demora para agir, e se você esperar para lavá-la conforme você lava sua bicicleta normalmente, a coisa pode ficar feia.

O primeiro passo é dar um banho caprichado na bicicleta assim que possível. Lembre-se sempre de cuidar com jatos de água em partes móveis como movimento central e cubos!

Segundo: o banho removerá a água salgada, mas é provável que ela já surtido algum efeito. Por isso, após o banho, lubrifique a bike novamente, incluindo corrente, câmbios e cabos de aço. Lubrificantes com repelência à água podem ajudar a proteger a bike da maresia. Um pano com desengripante pela bicicleta toda pode ser uma boa ideia. São medidas simples, mas que devem ser observadas com atenção após cada pedal.

Não deixe a diversão de lado!

Há um cuidado a ser observado acima de todos os outros: não deixe de se divertir por causa da maresia! Pedalar na beira do mar é ótimo. Não deixe a corrosão te assustar!

Lembre-se: nenhuma bicicleta dura para sempre. Cuide bem da magrela, mas aproveite ao máximo o uso dela. Bicicletas foram feitas para servir os seres humanos, e não o contrário. Bom pedal!