Principal argumento para saída das fabricantes é o alto investimento necessário. Edição de 2020 não terá Chevrolet, Toyota, BMW e outras 8 empresas.

O Salão do Automóvel de São Paulo de 2020 terá baixas importantes. Até agora, 11 marcas anunciaram que não vão ao evento. Entre elas, a Chevrolet, líder de mercado, a BMW, líder entre as marcas de luxo, e a Toyota – sexta maior fabricante do país.

O movimento não é novo. Nas últimas edições, algumas fabricantes já haviam ficado de fora, nem é exclusivo de São Paulo – Frankfurt, Detroit e Paris têm sofrido com a debandada de marcas. Mas tomou proporções que pegaram de surpresa até a Reed Exhibitions, organizadora do evento paulistano, que é o maior do tipo na América Latina, e completa 60 anos em 2020.

“Entendemos que há uma movimentação global [de enfraquecimento dos salões]. Aconteceu antes do que esperávamos. Era um movimento de pelo menos mais uma edição”, afirmou Leandro Lara, diretor de do portfólio de mobilidade da Reed.

A grande surpresa é a ausência da Chevrolet, marca que costumava ter um dos maiores estandes do evento – e fazer, na mesma medida, investimentos volumosos para mostrar suas novidades.

Fila para entrar no Chevrolet Camaro no Salão do Automóvel de 2018 — Foto: Guilherme Fontana/G1
Fila para entrar no Chevrolet Camaro no Salão do Automóvel de 2018 © Guilherme Fontana/G1

Falando em investimentos, a realocação de recursos é a principal razão para as marcas começarem a desistir dos salões. Em quase todos os casos, as justificativas são de eles custam demais pelo retorno financeiro que oferecem.

Lara rebate a estratégia, pelo menos no caso do salão brasileiro.

“No fundo, o fã da marca não entende. Ele quer experiência com as marcas, tem um conceito de outros salões, que não deveria se aplicar aqui. É um mercado de apaixonados, o brasileiro gosta de salões, gosta de carros”.

Só que as marcas têm pensado diferente. A alternativa para as empresas tem sido promover eventos menores, focados nos clientes – em vez de dividir um grande pavilhão com dezenas de concorrentes.

Quanto custa estar no Salão?

Custos com estande podem ser 45% dos gastos em um Salão do Automóvel — Foto: Marcelo Brandt/G1
Custos com estande podem ser 45% dos gastos em um Salão do Automóvel © Marcelo Brandt/G

Mas, qual o preço para estar em uma vitrine como um Salão do Automóvel?

O G1 apurou que os custos, para o evento paulistano, variam de cerca de R$ 4 milhões, para as fabricantes menores, até mais de R$ 20 milhões, no caso das líderes de mercado.

A Reed afirma que cerca de 15% do que é gasto por uma fabricante no salão vão para a organizadora, que é responsável por locar os espaços no pavilhão e fornecer infraestrutura, como energia elétrica.

Do restante, cerca de 45% vão para a montagem do estande – e isso inclui não apenas pisos elevados, grandes painéis de LED, mas também estruturas que o público não costuma ver – como áreas VIP e salas de reunião.

Por fim, os 40% finais ficam com custos de logística, como transporte dos carros, gastos com bufê e funcionários (recepcionistas e modelos).

Para Lara, se o problema são os gastos elevados, uma possível solução é adotar estruturas mais simples. “O investimento na montagem do estande é muito maior do que o preço do espaço. Pode haver opções com estrutura mais enxuta”.

Alternativas para São Paulo

Fila para entrar no Chevrolet Camaro no Salão do Automóvel de 2018 © Guilherme Fontana/G

Em 2020, o Salão do Automóvel completa 60 anos. Nessas seis décadas, talvez a atual edição seja uma das que tem o maior desafio.

Com a ausência de várias grandes fabricantes, a organização tentará adotar outras estratégias para continuar sendo um sucesso de público – nas últimas edições, o evento sempre tem atraído cerca de 700 mil pessoas, se colocando entre os maiores do mundo nesse quesito.

“Estamos alguns passos para trás, para dar outros para frente. Estamos conscientes de que é o momento”, disse o diretor da Reed.

Salão ou feirão?

A aposta em mobilidade já não é novidade – na última edição, foram realizados 45 mil test-drives. Em 2020, não será surpresa se o público puder comprar um carro logo depois de dar uma voltinha em algum modelo.

O molde, nesse caso, é outra feira que acontece em São Paulo: a Fenatran, exposição de veículos comerciais, vista como um evento de negócios por fabricantes e visitantes.

“Salão pode vender carro”, disse Lara. “O que tem que ser respeitada, é a regulamentação, como ter um concessionário operando a venda. Estamos estudando formas de como isso pode ser feito”, completou.

Agora, é preciso saber se as fabricantes vão querer transformar o salão em um grande feirão de venda de veículos.

Veja abaixo quem estará no Salão do Automóvel de 2020, quem ainda não decidiu, e quem já disse que vai “pular” o evento.

Fonte da matéria