Bicicleta News perguntou a várias empresas brasileiras como elas estão lidando com os impactos da pandemia de coronavírus. A maior mudança é no esquema de trabalho, com muitos funcionários trabalhando de casa e redução do movimento nas lojas. A alta do dólar segue sendo o principal entrave.  No geral, o clima é de atenção e com certo otimismo de que os impactos no Brasil serão menores que no restante do mundo.

Track Bikes

A empresa ainda não sentiu grandes impactos em suas vendas ou na linha de produção. O principal efeito da pandemia até agora, de acordo com o diretor comercial e de importação David Kamkhagi, foi o trabalho de conscientização e prevenção feito com os funcionários. A empresa ainda estuda dar férias coletivas a todos os funcionários assim que o governo determinar um possível isolamento.

Carbono Zero Bike Courrier

Os ciclistas da Carbono Zero seguem nas ruas fazendo entregas. O movimento, segundo Leonardo Lorentz, sócio e gestor da empresa, registrou um leve aumento nos últimos dias. “Para meu espanto, houve crescimento de maneira geral”, explica ele. Os funcionários do escritório estão trabalhando em casa desde a última segunda-feira. Para segurança dos ciclistas e clientes, a Carbono eliminou uma etapa do processo de entrega: a assinatura do recibo, feita na tela do computador do biker.

Trek Brasil

Na Trek Brasil todos os funcionários do escritório estão trabalhando em home office desde a terça-feira (17/03) e a empresa não teve nenhum problema com atrasos nas entregas ou falta de mercadoria. O único impacto sentido foi a alta do dólar. “Desde o final de fevereiro até agora a oscilação foi cerca de 10%, não podemos repassar aumento neste momento”, explica Luis Felipe Praça, diretor da empresa. “É difícil fazer qualquer leitura deste período, pois é algo que nunca vivemos. Nosso foco agora é o apoio ao lojista, que em muitos casos representa o elo mais frágil da cadeia produtiva.”

Pedal Urbano

A queda sentida nas vendas nos primeiros dias desta semana foi de 40%. O fornecimento e estoque de peças segue sem problemas. Os funcionários estão sendo estimulados a irem trabalhar de bicicleta para evitar o transporte público e também a lavar as mãos seis vezes ao dia e após cada atendimento. “Estamos estudando a possibilidade de dar férias coletivas aos funcionários, mas há vários entraves, como a necessidade de aviso prévio de férias e também não temos caixa suficiente para fechar as portas e seguir pagando impostos e fornecedores”, diz Gustavo Astolphi, diretor da loja.

LEV Bicicletas Elétricas

“Já sentimos uma queda expressiva de fluxo nas nossas lojas físicas e a desaceleração das vendas em um mês onde tivemos a melhor primeira quinzena do ano no número de bikes vendidas”, diz Rodrigo Affonso, sócio da LEV Bicicletas Elétricas. Mas isso não significa desânimo. A empresa não prevê falhas no abastecimento do estoque e estão esperançosos que a crise vai se reverter logo e o plano de expansão será retomado. Funcionários e clientes estão sendo estimulados a usarem a bicicleta como meio de transporte, e também a usar o serviço “leva e traz” em caso de necessidade de assistência técnica.

Proparts

Para proteger os funcionários, a empresa criou escalas diferentes de horários para evitar o uso transporte público em horários de pico e todos aqueles que podem, já estão trabalhando de casa. A Proparts não sentiu impacto nos embarques, apenas com a alta do dólar. “Tenho a impressão de que o mercado brasileiro irá sofrer menos que os outros mercados, pois imagino que as pessoas irão continuar pedalando”, diz Marcelo Maciel. “Para combater a insegurança e não deixar o medo ganhar espaço, precisamos criar um senso de comunidade e de confiança entre as pessoas.”

Grupo JPP

Para Rodrigo Coelho Pinto, diretor da área internacional do Grupo JPP, a oscilação do dólar é o maior impacto para os atacadistas, que não conseguem segurar o preço por muito tempo. “É possível que teremos de reajustar os valores seguindo a alta do dólar, cujo aumento já está em 20%. Ainda estamos nos primeiros dias da epidemia no Brasil, mas já é possível sentir que as vendas saíram um pouco da normalidade”, diz ele. “Nosso estoque segue normal, especialmente porque a maior parte dos nossos fornecedores da China já voltou a operar.” Segundo ele, é um período a se observar e não se deixar levar pelo pessimismo.

Como lojistas lidam com o coronavírus ao redor do mundo

O Brasil já está na rota da pandemia de coronavírus, os casos tem crescido de maneira exponencial e quarentena e medidas de restrição de circulação já estão em curso. Um olhar atento para outros países ajuda a pensar em rumos para garantir que a saúde esteja em primeiro lugar, mas sem desconsiderar que pequenos lojistas em especial estão com sua saúde financeira em risco também. É importante pensar em como reduzir riscos para  funcionários. Na Holanda, por exemplo, lojas de bicicleta são espaços fundamentais para o bom funcionamento da vida das pessoas. Justamente por isso, por lá bicicletarias seguem abertas enquanto os cafés que vendem maconha e sex shops foram fechados. Como todo crise, existem também oportunidades, um lojista nos EUA aproveitou que a bicicleta é veículo individual e fez uma campanha com outdoors incentivando as pedaladas. Já o Reino Unido anunciou que vai reduzir imposto de propriedade (equivalente ao IPTU no Brasil) para pequenos negócios.

Preocupação e queda de ações já afetam grupos globais

Com a lucratividade em queda, o grupo Accell sofreu um forte impacto nas suas ações, que se somou ao cenário negativo em tempos de pandemia do coronavírus. Com sede na Holanda e forte presença européia com marcas como Batavus, Raleigh, Nishiki e outras, a Accell viu sua receita cair de € 20,8 milhões (R$ 114 milhões) em 2018 para apenas € 2,8 milhões (R$ 15 milhões) em 2019. Já a canadense Dorel, que tem marcas em diversos segmentos além da bicicleta e controla também Caloi, Cannondale e outras, manteve a trajetória de aumento das receitas e diminuição dos prejuízos. As receitas totais do grupo ficaram em US$ 2,63 bilhões (R$ 13,596 bilhões) em 2019, comparados com US$ 2,62 bilhões (R$ 13,544 bilhões) em 2018. Já o prejuízo líquido baixou de US$ 444,3 milhões (R$ 2,3 bilhões) para 10,5 milhões (R$ 54,2 milhões) no ano passado. A preocupação em relação a interrupção no fluxo de produtos da Ásia no entanto já está no radar.

Coronavírus já impacta produção de bicicletas em Manaus

A Zona Franca de Manaus (ZFM) como um todo sofreu primeiro os impactos do coronavírus por conta dos insumos que pararam de chegar da China. Já foram anunciadas férias coletivas e se fala até mesmo em colapso econômico. O setor de bicicletas da ZFM já apresentou uma queda nas vendas por conta do esfriamento da demanda no Brasil por conta da temporada de chuvas mais intensa, a perspectiva para o futuro agora é de adequar os planos de produção para a diminuição de demanda que deve vir e, ao mesmo tempo, garantir que haja estoque dos insumos vindos da Ásia.

Cidades promovem bicicleta contra coronavírus

Com a ordem de quarenta mandatória pairando sobre Nova Iorque, a recomendação, antes do aumento exponencial de casos, era de pedalar para evitar o transporte público. Foi justamente isso que a população fez, por lá aumentou o uso da bicicleta e diminuiu a quantidade de pessoas nos trens. No Reino Unido, os ciclistas estão mobilizados para que o uso da bicicleta continue a ser permitido em tempos de pandemia. O que mais falta em todos os lugares no entanto é a infraestrutura segura para que mais pessoas adotem a bicicleta. Bogotá, capital da Colômbia, inovou e implantou quilômetros de ciclofaixas temporárias para que as pessoas possam se locomover em segurança, minimizando o risco de contágio. No Brasil, o prefeito Bruno Covas de São Paulo poderia se inspirar em seu equivalente novaiorquino e incentivar o uso da bicicleta, mas para isso é preciso garantir melhorias na infraestrutura para ciclistas. De maneira concreta, podemos contar com as bicicletas compartilhadas, e no Brasil teve até operador que fez promoção.

Ciclistas formam rede de apoio em meio a pandemia

Ciclistas de Portland nos EUA montaram uma rede voluntária de apoio para realizar entregas para pessoas que estão de quarentena. É apenas uma das saídas para pedalar pela pandemia, ainda que as recomendações de isolamento social e higiene pessoal sigam sempre válidas. Pedalar é uma forma de proteger o corpo contra infecções e isso vale para todos os momentos.

Como ciclistas podem se manter a salvo do coronavírus    

Até que a circulação de pessoas volte a acontecer normalmente, ficar em casa sem pedalar será um desafio para a força de vontade, como contam os ciclistas italianos. Na Espanha quem sai para treinar é mandado para casa pela polícia, mesmo que o ciclismo seja um esporte muitas vezes solitário, as restrições foram aplicadas. Mas para quem não é atleta de alto rendimento, uma pequena pausa, ou o ciclismo indoor é um recolhimento necessário. Afinal, os benefícios do uso da bicicleta para a saúde são duradouros e a probabilidade de desenvolver doenças crônicas superam quaisquer riscos que a bicicleta pode trazer. Além disso, quem faz exercícios regularmente em geral está fora dos grupos de risco. 

UCI cancela todos os eventos do calendário internacional

Para preservar atletas e garantir que não sejam prejudicados, a União Ciclista Internacional (UCI) fez um pedido para que o Comitê Olímpico Internacional suspenda as classificatórias para Tóquio 2020, retroativamente a partir de 03 de março, das provas que ainda tem vagas em aberto. A medida garante que haja uma disputa justa pelas vagas restantes, já que os impactos em competições ainda variam muito de acordo com cada país. Em meio a tudo isso, ainda pairam dúvidas em relação a realização dos Jogos Olímpicos. Até que tudo se resolva, os atletas estão firmes nos treinamentos internos.