“Um artigo científico acaba de revelar as habilidades de uma bicicleta que recorre a chips neuromórficos para gerar um novo tipo de inteligência artificial”

Sem mãos, sem pés – e sem qualquer pessoa a pedalar. Aquela que será hoje a bicicleta mais famosa da China não precisa de humanos no guiador. Em vez disso, recorre ao chip neuromórfico Tianjic, que foi desenvolvido pela Universidade de Tsinghua, na China, para receber comandos de voz, e mais difícil ainda, manter o equilíbrio enquanto motor elétrico se mantém em marcha, seguir pessoas, reconhecer objetos ou então, em modo completamente autônomo, contornar obstáculos ou executar as manobras necessárias para se manter no caminho certo.

Depois de um artigo publicado por um conjunto de investigadores chineses na Revista Nature, começaram a circular os primeiros vídeos com as habilidades desta “bicicleta fantasma” – mas o grande avanço tecnológico deste projeto poderá estar no nível de inteligência artificial alcançado pelo chip neuromórfico Tianjic, que os investigadores chineses garantem representar o salto que faltava dar para a Inteligência Artificial se tornar cada vez mais parecida com a humana.

Não é a primeira vez que uma universidade tenta desenvolver uma bicicleta autónoma – o New York Times lembra que a Universidade de Cornell, nos EUA, tem vindo a trabalhar em algo similar – mas é possivelmente a primeira vez que um chip neuromórfico garante alguns minutos de fama à escala mundial.

Veja as habilidades da bicicleta sem condutor no seguinte vídeo:

Com a abordagem dos chips neuromórficos, os investigadores apostaram numa solução que mimetiza o funcionamento dos neurônios humanos. Os chips Tianjic distinguem-se precisamente por usarem neurônios artificiais que trocam pequenas quantidades de informação sempre que algumas condições são cumpridas. A informação é veiculada através de sinais elétricos – tal como as sinapses que os neurônios humanos trocam entre si, sempre que é necessário executar um movimento com o corpo, desenvolver um pensamento abstrato, alertar para uma dor, ou manter em operação uma função vital, entre as múltiplas tarefas asseguradas pelo cérebro.

Esta forma de funcionamento representa um corte com a lógica que tem sido seguida por vários laboratórios de Inteligência Artificial com os denominados sistemas neuronais, que permitem que as máquinas aprendam a processar informação e a interpretar o mundo em volta depois de horas (ou dias) de análise de imagens, cálculos, ações, volumes de dados indiscriminados, ou apenas enredos de videojogos. Os sistemas neuronais tendem a especializar-se na deteção de padrões específicos – e por isso prestam-se mais a desenvolver ferramentas de inteligência artificial especializados em determinadas atividades ou funções.

Além de morosos e consumirem muita energia e recursos, estes sistemas têm a limitação de não permitirem criar uma inteligência generalista como aquela que é providenciada pelo cérebro humano, que consegue aprender diferentes tarefas no momento em que as experimenta.

Por trabalharem com pequenas quantidades de informação, os neurónios artificiais dos chips neuromórficos não só asseguram um consumo de recursos menos exigente, como ainda recriam uma arquitetura mais rápida e flexível no que toca à área de intervenção. O que leva a crer que poderá ser só uma questão de tempo para que um dia a inteligência artificial se possa equiparar no modo de funcionamento à inteligência humana, que permite executar as diferentes tarefas e cálculos à medida que vão sendo necessários – e ainda tem disponibilidade para lidar com imprevistos.

Apesar das promessas relacionadas com o advento de uma inteligência artificial generalista, os investigadores chineses optaram por usar software que já tinha “carregado” todas as funções necessárias para a deslocação da bicicleta – e que só as aplicou consoante as necessidades, comandos ou cenários previamente identificados, recorda o New York Times. Futuramente, esta tecnologia poderá evoluir com a combinação de inteligência artificial generalista e software com funções previamente carregadas, a fim de garantir os benefícios das duas abordagens tecnológicas.

Fonte da matéria