“Saudosismo sobre duas rodas: corridas na praça eram o ponto alto do verão na cidade.”

A bicicleta era considerada item da modernidade, segundo a professora Janaína Botelho, em artigo publicado por A VOZ DA SERRA, em 2016. Inventada em 1839, chegou a Nova Friburgo em fins daquele século 19, início do século 20. Quando circulavam pela cidade, era exigido dos ciclistas que usassem marcha moderada e lanterna acesa à noite, já que o uso da bicicleta ainda estava em adaptação e a população friburguense ainda não estava acostumada com a novidade. 

A historiadora acrescenta que, nos fins de ano, vários eventos eram realizados na cidade. Corridas de bicicleta eram o ponto alto do verão friburguense e transformavam a Praça 15 de Novembro (atual Getúlio Vargas) no velódromo de Friburgo. 

A paixão por bicicletas era tanta que em 9 de abril de 1899 foi criado o Bicyclette Club Friburguense, por Eduardo Salusse, de tradicional família da cidade, destinado a competições. Mas, o ciclismo favorecia diversas práticas, desde a diversão ao exercício físico, e relaxamento de corpo e mente. 

Mesmo sendo consideradas um luxo na época, elas eram vistas nas ruas do município, na década de 1950. O tráfego de bicicletas era autorizado em uma das alamedas da Praça Getúlio Vargas, como mostra o registro da época: na foto ao lado, a jovem Layse Ventura Coutinho (1ª à dir.) acompanhada de duas amigas. Uma imagem que já não faz parte do cotidiano da cidade, infelizmente. Uma prova do quanto este meio de transporte estava inserido no cotidiano da cidade, confira neste outro flagrante da época.

O trânsito de Friburgo já não é mais o mesmo há muito tempo, segundo matéria publicada por A VOZ DA SERRA, em 2017. De acordo com o levantamento do Detran, 102.601 mil carros circulavam em Friburgo naquele ano, ou seja, é constante o aumento da frota de veículos. Foi constatado também que a cada ano mais três mil carros engrossam o tráfego nas ruas do município. Se em 2017, com 185.381 mil habitantes, segundo o IBGE, a frota de carros e motos já poderia atender mais da metade da população friburguense, imagina agora, dois anos depois. 

O tempo e as bicicletas…

As bicicletas já tiveram seus momentos de glória em Nova Friburgo, onde brilhavam como meio de transporte principal. Tudo mudou, desde então: as ruas andam engarrafadas, principalmente em horários de pico. É bom lembrar os tempos antigos, e a história das bicicletas estará sempre presente na memória dos friburguenses que viveram a época das corridas, da locomoção dos operários e classes populares, que enxergavam na bicicleta um sonho que até então era caro demais. Naquele tempo, os industriais alemães financiaram a compra do veículo para muitos de seus empregados. 

Com a passagem do tempo, veio a modernização e a demolição de prédios históricos, a industrialização da cidade, o maior fluxo de carros. E a bicicleta ficou relegada a segundo plano como meio de transporte. Hoje relembramos não só momentos históricos da cidade, quando as bicicletas eram objetos de desejo, mas também as homenagens aos ciclistas do município. 

O último evento aconteceu em fevereiro deste ano, organizado por Orlando Miell, grande incentivador do esporte. Na Praça das Colônias, no Suspiro, Mielli apresentou o Troféu Eduardo Salusse de Ciclismo, que homenageia ciclistas friburguenses.

A homenagem foi uma das primeiras ações do Bicyclete Club Friburguense, criado por Eduardo Salusse (1899) e refundado por Mielli há três anos (2016). O clube de ciclismo, que tem grandes histórias de competições de corridas e marcou o amor pelas bicicletas no passado friburguense, pretende se tornar uma associação representativa da modalidade em Friburgo, onde são realizadas três grandes competições: o Montanha Cup, o GP das Montanhas e o Route MTB. 

*Estagiária, sob a supervisão de Ana Borges

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