Empresas usam estratégias diferentes para aproveitar demanda por bicicletas elétricas

O mercado brasileiro de bicicletas elétricas segue em crescimento de dois dígitos. Entre janeiro e agosto de 2021, já foram 26.671 bicicletas elétricas produzidas e importadas no Brasil. Trata-se de um volume 24,5% superior ao mesmo período de 2020.

Mesmo diante das restrições na cadeia de suprimentos, as empresas do setor podem comemorar. Os números mais recentes confirmam as previsões mais otimistas feitas no começo do ano. Com base no que já foi apurado, é possível esperar crescimento no volume de vendas próximo aos 34% até o final de 2021.

Por trás dos números gerais, as empresas tiveram abordagens distintas para encarar a pandemia e aproveitar a mudança cultural em curso. As vendas de bicicletas nunca foram tão altas, sejam convencionais ou elétricas. O momento é cada vez mais favorável para aumentar o número de ciclistas nas cidades.

Conversamos com três atores diferentes no mercado de bicicletas elétricas brasileiro. A carioca Lev, a curitibana Two Dogs e a multinacional Specialized. O desafio comum é o mesmo, garantir produto para novos clientes e peças de reposição para o pós-venda.

Diferenças entre o cenário global e o mercado brasileiro de elétricas

Specialized investe em colaboração global para abastecer todos os mercados onde atua. Foto: Divulgação

Com sede nos Estados Unidos e fabricação concentrada na Ásia, a Specialized funciona como uma empresa global. Assim, a pandemia acabou aumentando imensamente a interação entre os países em que a empresa opera. 

Foi preciso olhar para todos os mercados de atuação para garantir que nenhum país ficasse descoberto. O planejamento da empresa no Brasil não é de compras, é de produção, trata-se de um diferencial da Specialized.

Quando havia fartura de bicicletas, cada país seguia seu caminho. Agora a equipe global trabalha junto, um processo que foi doloroso no começo. É o que afirma Marcelo Catalan, líder de negócios para e-bikes na América Latina para a marca, que multiplicou o número de reuniões com seus colegas espalhados pelo mundo. 

Em encontros virtuais que esticaram os horários de trabalho por conta das diferenças de fuso, Catalan acabou vendo que os países com um mercado de bicicletas elétricas mais consolidado sofreram mais com os problemas na cadeia de suprimentos.

No Brasil, as vendas de bicicletas elétricas acompanharam o restante do mercado, com crescimento entre 20-30% ao longo dos últimos anos.

Pandemia foi oportunidade para crescimento

Loja própria da Lev no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação

Os números da Lev Bicicletas impressionam. De acordo com Rodrigo Affonso, sócio da empresa, as vendas entre janeiro e setembro de 2021 registraram um crescimento de 64% em um comparativo com o mesmo período de 2020. Resultados que vieram por conta da abertura de novas lojas.

A expansão, no entanto, não começou agora, ao comparar os números de 2020 com 2019, o crescimento foi de mais de 40%. Com a pandemia, ao invés de se retrair e diminuir o ritmo, a empresa aproveitou para acelerar ainda mais sua penetração no mercado. Os aluguéis mais baratos, e com carência alta, representaram um bom momento para a abertura de novas lojas.

Até o final de 2021, a Lev espera colocar entre 6500 e 7000 bicicletas no mercado. Os atrasos de contêineres, que chegaram a marcar dois meses, já foram equacionados e a expectativa é que o fornecimento se normalize em breve.

Dificuldade de importação freou resultados

Two Dogs precisou lidar com esperas para garantir vendas. Foto: Divulgação

Com sede em Curitiba e foco nas regiões sul e sudeste, a Two Dogs prevê vender 1.000 novas bicicletas elétricas até o final de 2021. Crescimento de 30% na comparação com o ano passado. A empresa trabalha com modelos importados e cuida de toda a distribuição e gestão da marca, com a venda feita através de lojas parceiras.

O grande freio para um crescimento ainda maior da Two Dogs foram as quebras na cadeia de fornecimento. A cada nova chegada de mercadoria importada, em muito pouco tempo o estoque ficava zerado novamente.

Marcos Fortuna, CEO da empresa, levanta ainda um outro fator que aumentou o desafio nas operações. A Two Dogs sempre usou capital próprio e passou a contar com apoio bancário para financiamento de capital giro somente em 2020. Uma alavancagem que está hoje em cerca de 20%.

A injeção de dinheiro ajuda, mas o retorno do investimento esticou bastante. Em tempos pré-pandemia o retorno demorava em média 10 meses para ser realizado. Agora, esse tempo aumentou para 14 meses, sem levar em consideração os atrasos para a chegada de mercadorias.

Justamente por isso é tão importante otimizar o capital. Antes de buscar outros aportes financeiros, Marcos aponta que precisam corrigir o fluxo. Para isso, uma frase tem destaque na sede da empresa, o lema: Como conseguir maior volume de fornecimento com capital otimizado.

Expansão através de selo verde

Depois de buscar uma classificação como “negócio verde” e medir os impactos ambientais positivos que as suas bicicletas traziam para o meio ambiente, a Lev contraiu uma dívida estruturada junto ao Itaú BBA. Trata-se de modalidade de captação financeira que não envolve abrir mão de ações da empresa. O maior diferencial da transição foram os juros reduzidos, o que só foi possível através do “selo verde”.

Foi com os R$ 8 milhões de aporte feitos pelo Itaú BBA este ano que a Lev aproveitou para expandir o seu número de lojas. Serão 13 novas lojas nos próximos meses de 2021. Sendo cinco em São Paulo, cinco no Rio de Janeiro, uma em Porto Alegre e duas em Vitória.

A expectativa para 2022 é expandir ainda mais a área de atuação com novas lojas em Florianópolis, Brasília, Curitiba, Recife e Fortaleza.

Mas o plano desenhado com a ajuda do banco envolve chegar a todas as capitais brasileiras, com 110 pontos de venda nos próximos 4 anos. O volume financeiro para fazer isso acontecer pode chegar aos R$ 58 milhões.

A expansão, no entanto, não significa que é momento para realização de lucros. Apesar do crescimento em volume e novas lojas, os números do EBITDA, sigla em inglês para “lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”, ainda não são positivos.

O futuro das bicicletas elétricas no Brasil

© Divulgação

Cada vez mais o Brasil busca retornar às atividades para o ritmo pré-pandemia. As barreiras econômicas, com retração da economia, inflação e dólar alto, vão impactar todos os mercados. A bicicleta, no entanto, tem sempre o potencial para contornar essas dificuldades.

A expectativa das empresas é que as pessoas passem a buscar ainda mais a bicicleta como uma opção real de mobilidade nas cidades. Nesse contexto, o aumento no preço dos combustíveis pode ser um aditivo para o aumento do uso da bicicleta para a mobilidade urbana. 

Apesar do otimismo, a concentração de fornecedores continuará a ser um problema. A Ásia ainda sofre com a pandemia e é justamente de lá que vem a maior parte da produção de bicicletas. Abrir o leque de fornecedores é mais do que uma oportunidade, trata-se de uma necessidade do atual momento.

Com vendas de bicicletas elétricas em crescimento constante, já está provado que demanda existe. O desafio para quem opera no mercado brasileiro é descobrir uma cadeia de suprimento nacional que possa ser uma alternativa à dependência asiática.

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