Para ganhar cerca de R$ 60,00 por dia, Luiza Helena Rizzo, de 23 anos, trabalha até 14 horas sobre duas rodas. Entregadora de aplicativo, ela pedala dezenas de quilômetros diariamente na região da Tijuca e do Grajaú. A rotina, de segunda a segunda, sem folgas, é pesada. Na bolsa, só biscoito para enganar a fome, duas garrafas de água e um casaco impermeável, além de máscaras para trocar ao longo da jornada.

Estudante de Pedagogia na Uerj e guia de turismo, Luiza tem nas entregas, desde que começou o isolamento social, a única fonte de renda. Ela subiu na bicicleta pela primeira vez com a mochila térmica nas costas em fevereiro de 2019, após ganhar uma bolsa para um curso na China. O serviço foi um meio de pagar a passagem para Xangai. Na volta, as entregas viraram sua única saída durante a pandemia.

— Se tirar folga, não consigo pagar todas as contas e comer. Fiquei doente na semana passada, e foram menos R$ 30 de uma entrega fixa, fora o pagamento dos aplicativos. É um dinheiro que vai faltar — diz.

O dia de trabalho começa com um café rápido. Perto de onde mora, no Grajaú, busca os primeiros pedidos: a maior parte das refeições veganas é entregue no bairro. A jovem faz ainda outras cinco entregas fixas na semana, trabalho que traz alguma garantia, frente à incerteza dos aplicativos. Na última segunda, a primeira corrida só apareceu no fim da noite.

Apesar de carregar comida de todo tipo nas costas, ela às vezes passa 14h sem uma refeição completa. Quando há gorjetas, compra biscoitos e salgados, para lanches rápidos e baratos. Com o mapa da região na cabeça, em trechos íngremes, ela empurra a bicicleta. O esforço físico no pedal se intensificou com o uso de máscara, e os cuidados de higiene foram redobrados.

Luiza já trabalhou com três aplicativos, mas hoje está apenas no iFood. Ela diz que os valores por quilômetro pagos por algumas plataformas chegaram a cair de R$ 4 para R$ 0,60. No dia 1º, no movimento #brequedosapps, entregadores protestaram reivindicando aumento da remuneração, taxa mínima, seguro e “auxílio-pandemia”.

— Ando com máscara extra e álcool em gel, mas os aplicativos nunca deram nenhum suporte — reclama Luiza. — Quando meus amigos quando vão pedir alguma coisa, digo para darem gorjeta, irem à portaria.

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