Telma Argentino usa a bike no dia a dia e garante que só sai de carro em uma emergência. Projeto IntegraBike tem 110 mil usuários cadastrados.

Muitas pessoas sonham em comprar um carro e sair da dependência do transporte público. Mas hoje em dia esse sonho tem sido deixado um pouco de lado em nome da economia e da saúde. Em vez de encarar o trânsito diário de ruas e avenidas de Sorocaba (SP), trabalhadores e estudantes têm optado por deixar o carro na garagem e usar bicicleta como meio principal de locomoção.

É o caso da comerciante Telma Argentino, de 42 anos. O amor pela “magrela” fez ela aposentar as quatro rodas na hora de resolver os compromissos diários. Para isso foram necessários luvas, joelheira, capacete e muita força nas pernas.

O mesmo percurso é feito às 10h e às 17h: primeiro da Vila Santana para o Centro e depois o inverso. Só para trabalhar são cinco quilômetros percorridos por dia. A bicicleta fica estacionada no bicicletário central da cidade.

“Só não uso a bicicleta quando está chovendo. Mas, para mim, é uma grande economia e prazer pedalar. Faço tudo o que é possível com a bike, vou até a consultas médicas. Resolvo assuntos do banco, assuntos familiares. Para mim é um prazer”, comenta.

O incentivo para começar a pedalar até o trabalho veio do pai. “Não era nem pela distância e, sim, pela quantidade de coisas que precisava levar no carro. Comecei a ir, estou até hoje e não parei mais. Temos dois carros e deixo um guardado na garagem, utilizo em dias de emergência”, explica.

Telma conta que não mede esforços quando o assunto é pedalar. “Pratico outras atividades físicas além de pedalar. Antes eu trabalhava em Votorantim e ia de bicicleta também, o que me dava cerca de 17 quilômetros por dia. A maior loucura que já fiz foi ir de Mongaguá até a Praia Grande, que deu 50 quilômetros.”

Bicicleta fica estacionada no bicicletário central da cidade — Foto: Telma Argentino/Arquivo pessoal
Bicicleta fica estacionada no bicicletário central da cidade. © Telma Argentino/Arquivo pessoal

O bolso agradece

Telma acredita que percorra uma média de 25 quilômetros por semana, o que dá 1.200 durante o ano todo.

Na ponta do lápis, considerando gastaria cerca de R$ 200 por mês com combustível para ir e voltar ao trabalho de carro, segundo ela, a economia total de um ano seria de cerca de R$ 2.400.

“Faço manutenção na bike de quatro em quatro meses, gastando R$ 50, o que me dá R$ 150 de gasto por ano, muito diferente do que se utilizasse o carro. É uma economia considerável ao fim do ano”, ressalta.

Além de ser uma opção de baixo custo, o meio de transporte ocupa pouco espaço e é saudável para o corpo e o ambiente. Ou seja, segundo Telma, é uma forma de driblar o trânsito, ajudar o planeta, cuidar da saúde e, ao mesmo tempo, gastar menos.

De acordo com especialistas, pedalar todos os dias também ajuda na redução do colesterol, manutenção de pressão arterial, controle do diabetes e fortalecimento dos músculos dos membros inferiores, além do bem estar, manutenção do peso e mais fôlego para praticar exercícios.

Mais bicicletas que carros

Um estudo divulgado em 2017 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que no Brasil há mais bicicletas do que carros, sendo 50 milhões de bikes contra 41 milhões de veículos.

E o fato de não ter uma “magrela” não é desculpa para os sorocabanos. Cerca de 200 bicicletas são disponibilizadas gratuitamente pelo sistema IntegraBike, distribuídas em 25 pontos de retirada.

Segundo a Urbes, cerca de 10 mil viagens são feitas por mês utilizando o serviço, que tem atualmente mais de 118 mil usuários cadastrados.

Para utilizá-las basta se cadastrar pela internet ou ir até uma Casa do Cidadão. O empréstimo é gratuito pelo período de uma hora em dias úteis e duas horas aos fins de semana e feriados. A bicicleta pode ser utilizada quantas vezes o morador quiser.

Mesmo com o alto número de bicicletas nas ruas, segundo o instituto, apenas 7% dos brasileiros utilizam o meio como forma de transporte todos os dias.

Cerca de 200 bicicletas são disponibilizadas gratuitamente em Sorocaba — Foto: Prefeitura de Sorocaba/Divulgação
Cerca de 200 bicicletas são disponibilizadas gratuitamente em Sorocaba. © Prefeitura de Sorocaba/Divulgação

Aumento da frota

A frota de veículos na cidade teve um aumento de 183% nos últimos 20 anos, desde a implementação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em janeiro de 1998.

Segundo o Departamento de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), atualmente cerca de 468.622 mil veículos, entre carros, motos, utilitários e ônibus, dividem o espaço nas ruas e avenidas de Sorocaba. O número cresceu cerca de 11% desde 2015.

Já um levantamento municipal do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), mantido pelo coletivo de entidades do Observatório do Clima, mostra que ao menos 820 toneladas de CO2 deixariam de ser emitidas se a frota de veículos da cidade ficasse nas garagens por um dia.

*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku.

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