Compartibike, startup fundada em 2010 por jovens recém-formados, tem o objetivo de aumentar o uso de bicicletas no cenário urbano, apostando nos modelos elétricos

O empresário Tomás Martins, 33, cofundador e CEO da Tembici, enxergou no caos do trânsito das grandes cidades uma oportunidade de empreender. Em 2010, criou a Compartibike, uma startup fundada porquatro profissionais recém-formados que tinham o objetivo de aumentar o uso de biciletas no cenário urbano. O primeiro projeto foi a implementação do sistema piloto desenvolvido em parceria com a Universidade de São Paulo, o Pedalusp.

Com o crescimento, a empresa criou mais um projeto inovador e levou seus bicicletários para dentro de condomínios. Em 2016, no entanto, ele e seu sócio, Mauricio Villar, adquiriram os projetos de bikes compartilhadas das principais capitais do Brasil. De lá para cá, não pararam de crescer. Atualmente, a Tembici é a maior empresa de micromobilidade da América Latina, com 900 funcionários e realizando 2,5 milhões de viagens ao mês por bicicletas nas principais capitais brasileiras, além de Santiago, no Chile, e Buenos Aires, na Argentina. Somente em 2018 a empresa cresceu 12 vezes o número de viagens realizadas. Confira a entrevista completa a seguir.  

Quais são os planos de expansão da Tembici para 2020?

Na Tembici, temos dois drives estratégicos de crescimento. Um deles é aumentar a presença nas cidades em que temos projetos. No Rio de Janeiro, por exemplo, a bicicleta roda de 10 a 12 vezes por dia, então ela tem uma demanda muito alta de utilização. O segundo foco é na questão das bicicletas elétricas. Cada vez mais estudamos esse mercado, pois acreditamos ser uma nova oportunidade de locomoção para a população. Diante disso, para 2020, nosso olhar é fazer grandes investimentos em bicicletas elétricas nas cidades onde já temos presença.

Quais são as iniciativas para aumentar a segurança dos usuários?

Esse é um tema muito presente na Tembici desde o começo e vamos continuar focando em 2020. As nossas bikes contam com diversos itens para reforçar a segurança dos usuários, como as luzes frontais e traseiras com sistema de iluminação movido a dínamo que permanecem acesas por até 90 segundos, mesmo se a pessoa não estiver pedalando. Isso reforça a segurança ao ciclista que aguarda no semáforo. Além disso, a configuração de marchas para três velocidades, os pneus de aro 24 c om lados refletivos e o sistema de freio “Roller Brake” proporciona uma pedalada mais segura e confortável. 

“Em nosso sistema viário, porém, 70% da infraestrutura é dedicada ao automóvel e 30% aos outros modais”

Quais são as medidas para reduzir furtos e vandalismo com as bikes?

Nossos números são supercontrolados. Como temos GPS nas bikes e elas possuem alto índice de uso, isso reduz muito as oportunidades de furtos e vandalismos. Além disso, acredito muito na questão de apropriação, pois grande parte da população já percebeu o benefício das bicicletas para as cidades, estão se apropriando dos serviços de bikes compartilhadas no seu dia a dia e acabam protegendo e cuidando porque sabem que precisam daquele modal para se locomover no dia seguinte.

As bicicletas são a saída para resolver os problemas de trânsito nas grandes metrópoles?

Não tenho dúvida disso. Hoje em São Paulo, por exemplo, 70% dos deslocamentos na cidade são de até 8 km. Ou seja, do grande fluxo que acontece na cidade, o deslocamento teoricamente é de um curto trajeto que poderia ser feito de bike. Diante disso, esses novos modais estão se consolidando como a opção não só viável, mas como a melhor solução para locomoção. 

Muitas prefeituras já cogitaram a instalação de pedágios em áreas centrais para reduzir o trânsito. Você concorda com essa medida?

Totalmente. Todas as medidas que são restritivas à questão do automóvel deveriam ser adotadas. A média do número de pessoas por veículo é muito baixa, está em torno de 1,2 pessoa por carro. É muita ocupação de espaço viário para transportar poucas pessoas. Um dado interessante mostra que 30% dos deslocamentos na cidade de São Paulo acontecem no automóvel e 70% em outro modais, como ônibus, metrô, bike. Em nosso sistema viário, porém, 70% da infraestrutura é dedicada ao automóvel e 30% aos outros modais, como linhas de metrô, faixa de ônibus, calçadas. Dessa forma, podemos dizer que 30% da infraestrutura servem 70% dos deslocamentos. Isso é muito desigual e ineficiente do ponto de vista de utilização e ocupação do espaço nas cidades. 

“Adotamos um sistema de inteligência de operação logística para garantir disponibilidade das bikes para os usuários”

Qual é o papel do Itaú nos planos de expansão da Tembici?

Para nós, o Itaú é um parceiro muito importante, que investe nessa causa há mais de 10 anos. Se conquistamos um cenário de mudança e transformação nas cidades, foi graças ao papel que o Itaú vem desenvolvendo como parceiro apoiador no Brasil e na América Latina. 

Há negociações de parcerias com outros bancos ou empresas?

Estamos sempre abertos à novas parcerias e sabemos muito da importância deles em acreditar no nosso projeto. 

A ausência de legislações específicas para o transporte por bicicletas no país é um entrave para o crescimento e popularização da modalidade?

Não há uma ausência da legislação, até porque hoje no código de trânsito há regulamentações. O que falta ainda são políticas de incentivo e apoio à questão do modal bicicleta. As cidades já reconheceram as bikes e a intermodalidade como soluções para o trânsito e têm criado incentivos para que as pessoas se locomovam de maneira mais eficiente, mas ainda se observa um cenário em que muitas cidades precisam aprimorar suas políticas públicas. Continua depois da publicidade

Quais são as tecnologias que diferem a Tembici de suas concorrentes?

A bicicleta é um meio de transporte e, a partir disso, o sistema de compartilhamento precisa ser confiável para as pessoas. Elas precisam passar a utilizar aquele transporte com recorrência e confiar nele, assim como confiam que vão podem utilizar o metrô todos os dias. Dessa forma, a questão de ser disponível para o usuário e ser acessível financeiramente são duas premissas principais. Diante disso, também procuramos focar muito na questão de qualidade e queremos que em todas as operações possamos oferecer a melhor bike para o usuário. Para conseguirmos esse padrão de qualidade, temos uma parceria com uma empresa canadense que é a mesma provedora de bicicletas em estações de Nova York, Londres, Washington e Montreal. Além disso, adotamos um sistema de inteligência de operação logística para garantir disponibilidade das bikes para os usuários.

“Para 2020, nosso olhar é fazer grandes investimentos em bicicletas elétricas nas cidades onde já temos presença”

Quando a Tembici será lucrativa no Brasil?

Nossa operação é rentável. É claro que temos um fluxo de investimento forte, porque acreditamos muito no futuro da mobilidade por bicicleta, mas a empresa possui rentabilidade dentro das operações.

Qual sua visão sobre essas polêmicas envolvendo o uso das bicicletas nas grandes cidades?

A minha opinião é um pouco contrária, pois considero essas discussões muito antigas. Atualmente, já vimos uma mudança não só nas políticas públicas, mas uma mudança cultural nas pessoas, pois elas já estão entendendo que, para deslocamento de 5 quilômetros até 7 quilômetros, existem outras opções de modais, não somente o carro, e que inclusive essas opções são mais baratas, mais convenientes e mais rápidas. Dessa forma, o que se vê hoje em cidades como Nov a York, Paris e Londres são muito mais políticas restritivas para automóveis e muito mais permissivas e de fomento a esses novos modais como a bicicleta.

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