Foto com o troféu do primeiro pódio internacional, em Orange Country. Segundo lugar, em 1987.

No final dos anos 70, surgiu no Brasil a primeira pista de BMX da América Latina, que na época era chamada de Pista Cross de Bicicletas. A fábrica de bicicletas Monark abraçou a ideia de construir e planejar o surgimento de uma nova modalidade do ciclismo: o bicicross.

Na época, eu e meus amigos de rua já brincávamos de fazer rampa de madeira para saltar imitando os pilotos de motocross, mas não tínhamos a menor ideia de que já estava surgindo um novo esporte. Ficamos sabendo que em um espaço próximo da ponte da Cidade Jardim, em São Paulo-SP, chamado Cross Center, havia uma pista de motocross e que a Monark estava iniciando um trabalho com o lançamento de sua primeira bicicleta para bicicross, a Monark BMX tanquinho. No início era só a primeira reta de largada e uma rampa, só depois que efetivamente a pista foi concluída.

No local, a Monark disponibilizava algumas bikes para testar, tudo ao comando do Sr. Orlando Camacho, primeiro técnico de BMX. Eu fui até o local com meus amigos para ver o que realmente era aquilo. Logo conhecemos o Sr. Orlando, que nos ofereceu um teste com as novas bikes. Como já tínhamos brincado de saltar com bicicletas, não foi difícil se adaptar e mostrar alguma habilidade ao técnico, o que rendeu um convite para integrar a equipe Monark.

O projeto da equipe era fazer apresentações de salto em eventos de bairros, mas chegamos a ir até o Rio de Janeiro e fazer uma apresentação no Parque Quinta da Boa Vista. Na ocasião, a equipe dispunha de uma rampa de madeira e colchões de tatame para amortecer a aterrissagem, pois não tínhamos uma rampa de recepção como é hoje. Era casca grossa aterrissar no plano, tinha vários capotes. Na apresentação, em certo momento o técnico Camacho deitava embaixo da rampa para que nós pulássemos sobre ele, fazendo a galera delirar. Bons momentos.

Foto tirada em 1983, na USP, em São Paulo, para a Revista Fluir, que no início abria espaço para vários esportes além do Surf, seu foco principal.

Com a presença de mais adeptos nesta nova modalidade esportiva, começaram a surgir os primeiros campeonatos. Em 1980, a Monark lançou o Campeonato Monark de BMX, o primeiro da América Latina. A partir desse momento, o esporte só evoluiu, ganhando visibilidade e cada vez mais atletas. Com isso, surgiram várias equipes, novas marcas de bicicletas e equipamentos.

Já sabíamos que nos Estados Unidos o esporte estava mais adiantado e para conseguir alguma informação, comecei a comprar revistas importadas que na ocasião só encontrava no aeroporto. Mesmo não sabendo nada de inglês, tentava decifrar qualquer coisa nas fotos para tentar evoluir aqui no Brasil também.

Depois da experiência inicial com a equipe Monark, queríamos evoluir mais e alguns atletas decidiram sair e andar por conta própria ou entrar para as novas equipes que estavam surgindo. Sem equipe e sem bike, tive que trabalhar e dar o dinheiro para a minha mãe guardar até que consegui comprar minha própria bike, uma Caloi Cross que aos poucos tive que ir reforçando, pois não aguentava os saltos.

Algum tempo depois, fiquei sabendo do surgimento de uma nova loja, a Mobycenter, que ficava ao lado do Shopping Ibirapuera. Era a primeira loja especializada em BMX. Acabei arrumando um emprego lá para ficar mais perto das novidades. Junto com o proprietário, Sr. Antonio Celso Fortino, hoje dono da Prox, iniciamos a equipe oficial mobycenter. Tínhamos o patrocínio da Kibon (marca de sorvete), uma estrutura de carreta para as bikes, tendas, cavaletes para as bicicletas e até faixa com os nomes dos atletas. Com isso, achávamos que éramos os pilotos mais profissionais do mundo, uma sensação incrível. Foi nesta equipe que pude andar pela primeira vez em uma bike importada: primeiro era uma RedLine e depois de um tempo andei em uma GT.

O profissionalismo começava a surgir e com isso o condicionamento físico passou a ser minha prioridade. Entrei em uma academia para fazer musculação, nutricionista e tudo mais que pudesse ajudar no desenvolvimento, e o resultado veio em forma de conquistas importantes a nível nacional como o Campeonato Monark, Campeonato Caloi Cross, Campeonato Paulista, Copa Brasil, e Campeonato Brasileiro. A evolução era minha meta na época, e como já havia conquistado todos os campeonatos aqui no Brasil, passei a me programar para ir além e tentar andar com os gringos nos Estados Unidos.

Em Venice Beach, na Califórnia, fazendo uma apresentação na praia com uma rampa de madeira, em 1987. Neste local a galera do BMX se encontrava para as “primeiras aventuras do street BMX”.

Em determinado momento recebi a notícia do fechamento da loja Mobycenter e acabei fazendo um acordo com o proprietário: meu acerto de contas seria uma passagem para os Estados Unidos. Com a demora para concluir meu sonho de competir lá, trabalhei por um tempo como técnico para uma equipe de BMX, a Equipe Preço Certo, o que foi uma grande experiência em minha carreira.

Finalmente, em 1985, fui para os Estados Unidos, mas no começo tive que trabalhar muito para pagar as contas. Aos poucos, fui me adaptando e juntando uma grana e logo em seguida consegui adquirir uma Hutchinson usada. Com ela em mãos, comecei a andar na pista mais próxima de onde morava. Era um complexo esportivo para várias modalidades e havia uma maravilhosa pista onde pude finalmente estrear em uma competição. Para minha surpresa, fiquei em quinto lugar e ganhei um prêmio de 50 dólares.

Foi nesta pista também que tive a oportunidade de fazer meu primeiro contato com os atletas profissionais que eu costumava ver nas revistas (Tommy Braker, da equipe GT, e Scott Clark, da equipe RedLine). Foi aí que senti que precisava melhorar meu equipamento. Juntei uma grana e como já havia andado no Brasil de GT, fiz contato com a fábrica e pedi a um amigo meu para me levar até Huntington Beach, onde era a sua sede.

Quando cheguei, fui recebido pelo proprietário, Sr. Gary Turner (iniciais que dão nome à marca GT). Entreguei uma revista que se chamava Bicicross com uma foto minha na capa, com a GT que eu possuía no Brasil. Em seguida, fomos ao depósito escolher a dedo como eu queria montar minha nova bike. Aquela situação foi um sonho para mim, mas a surpresa maior veio quando fui pagar a bicicleta e o Sr. Gary Turner me deu ela de presente, em reconhecimento ao material que eu havia lhe entregue. Foi um delírio total: ter um equipamento dos melhores e voltar para casa com o dinheiro no bolso.

Fiz mais algumas competições, mas como precisava trabalhar para me sustentar, não tive condições de evoluir e aos poucos fui deixando as competições, embora sempre pedalando, até que vi surgir o Mountain Bike e ele entrou para a minha vida, mas aí são histórias para outra matéria. Agradeço a todos os que fizeram parte da minha trajetória.

Na pista de Ascot, na minha primeira competição nos EUA. Foi aí que tive meu primeiro contato com pilotos profissionais que eu costumava ver em revistas. Nessa foto, estou ao lado do piloto oficial da GT, Tommy Brankis. Fiquei em quinto lugar nessa prova e ganhei US$ 50,00.

Meu primeiro registro saltando ao lado do técnico Orlando Camacho, em 1979, na primeira pista de BMX da América Latina, ainda inacabada. Tinha apenas a primeira rampa.

Em 1987, na pista de Orange Country, fazendo a largada da prova em que eu ganhei o meu primeiro troféu em competições internacionais (o segundo lugar).

Pista de BMX do Ibirapuera, onde hoje é o Parque das Bicicletas. Na foto, a cerimônia de abertura do Campeonato Brasileiro de 1984, em que os estados montavam suas seleções. Sou o porta-bandeiras da seleção paulista.

Foto impressa em uma capa de livro de inglês. Fiquei sabendo só um tempo depois que já havia saído e não recebi nada de direitos de imagem. Foto de 1983.

Ao lado do fundador da marca GT, que me presenteou com uma bike quando eu lhe entreguei um exemplar de uma revista cuja capa estava eu competindo no Brasil com uma bicicleta GT. Um delírio.

Em 1982, já em uma equipe independente, andando com uma Caloi Cross toda reforçada, para aguentar o tranco. Foto tirada na pista da Monark, já reformada com a placa com os dizeres PISTA DE BMX.

Primeira loja em que trabalhei, a Mobycenter, em 1983, que se tornou na época referência no BMX.

Foto feita para uma matéria em uma revista em 1983. Eles queriam fazer um comparativo do BMX com o Motocross. Com a bike, eu saltei mais alto que a moto, mas na hora de inverter os papéis não consegui fazer o salto com a moto no mesmo tempo, pois não tinha muita habilidade e era a primeira vez que eu pilotava uma Motocross: estava morrendo de medo.

Diploma do meu primeiro título de campeão do ranking paulista de BMX, em 1983.

Pista de BMX da Monark, em uma das etapas do Campeonato Monark de BMX em que fui campeão, em 1983. Ao meu lado, no “segundo lugar”, está o junior que anos mais tarde foi um dos fundadores da marca de quadros JNA.


Dados profissionais

Trabalhou de 2006 a 2011 na Confederação Brasileira de Ciclismo como técnico da Seleção Brasileira de MTB.
Sócio-diretor da Associação Sampa Bikers (onde organizou vários eventos, como o MTB 12 Horas, Power Biker e Campeonato Brasileiro XCO 2011).
Construtor de circuitos de XC (Foi coordenador técnico da modalidade MTB para os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro e idealizador do circuito de Cross-Country para os Jogos em 2007).
Técnico do MTB nas Olimpíadas de Pequim 2008.
Organizador da feira Bike Expo Brasil.
Personal Mountain Biker.

Edu Ramires é atleta master categoria 45/49, com patrocínio de Houston / Sampa Bikers, co-patrocínio de Centauro / ASW. Apoio: Vzan / Curtlo / Maxxis / Cateye / Prowell / NorthWave / GU / Park Toll


Histórico de resultados

  • BICAMPEÃO CAMPEONATO MONARK BMX 82/83
  • BICAMPEÃO CAMPEONATO CALOI BMX 82/83
  • BICAMPEÃO PAULISTA BMX 82/83
  • BICAMPEÃO RANKING PAULISTA 82/83
  • TRICAMPEÃO COPA BRASIL BMX 82/83/84
  • BICAMPEÃO BRASILEIRO BMX 83/84
  • 10º lugar CAMPEONATO NATIONAL ABA 86
  • 2º LUGAR CAMPEONATO CALIFORNIA BMX FESTIVAL 86.
    No ano de 1987 parei de competir e só retornei em 1988, já me aventurando no Mountain Bike.

Dados pessoais

Nome: Eduardo Ramires
Nascimento: 15 / novembro / 1963
Onde Mora: São Paulo / Capital
Filhos: 1 filha (Mariana Ramires)
Comida: Pizza
Hobby: Passear com meus dois Labradores (Malu e Nene)
Ídolos: Ned Overand (MTB) e Ayrton Senna (F1)