Salesópolis, trilha noturna

Carreguei as baterias. Farol, lanterna auxiliar, manguitos, corta vento, abrigo de frio e chuva.

A lua de Salesópolis nos esperava, e a chuva, respeitando nossos anseios e medos, fugiu.

O sol, com toda a sua pompa e cores foi se escondendo humildemente, respeitosamente, pra não incomodar a lua. Hora do Ângelus, enquanto todos se aquietavam nós acelerávamos e dilatávamos nossos corações, nossas pupilas, contrapondo à quietude e a mansidão da noite.

“Lua bonita, se tu não fosses casada

eu preparava uma escada

pra ir no céu te buscar”…*

Percepções, lembranças afloram, o emocional divaga.

 …“deixa São Jorge no seu jubaio amuntado

e vem cá para o meu lado pra gente viver sem dor”…*

A lua célere correndo arisca entre os vãos da mata.

O subidão judia, a escuridão não nos permite ver o seu final, a lua serena, encoraja.

“Noite alta, céu risonho

a quietude é quase um sonho

o luar cai sobre a mata

qual uma chuva de prata

de raríssimo esplendor”…**

Percepções, lembranças, conotações. Aos 15 anos, na estrada do Ribeiro, o mesmo céu, a mesma lua, a mesma noite e os mesmos mistérios, sem farol, sem manguitos, sem abrigo, ao abrigo da noite, da crença e dos sonhos.

Percepções, lembranças, conotações, a lua, sua poesia, seu romance, seus mistérios, as serenatas em Olímpia, Conservatória, frestas de janelas.

…“A noite estava assim enluarada, quando a voz

já bem cansada eu ouvi do trovador

Nos versos que vibravam de harmonia, ele em

lágrimas dizia da saudade de um amor”…***

Chegamos em paz, na paz da igreja matriz de Salesópolis. Relaxei, liguei pra dizer com Marylene, preocupada e sem dormir, enquanto eu não chegasse.

…“e chegando o dia certo

numa noite iluminada

a lua chegou bem perto

pra juntar num fim de festa

meu sonhar ao seu afeto”… ****

Grato Paulinho e amigos do luar.

Quero mais.

*      Lua Bonita/Zé do Norte

**    Noite cheia de estrelas/Cândido das Neves

***  Última estrofe/Cândido das Neves

**** Marylene/Otoni Gali Rosa

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