Voltei à Olímpia.

Aniversário da Marylene, reunião em família, lá fomos pelos 450km que nos separam das origens.
Levei minha bike, combinei com Cláudio, super montanheiro e grande companheiro residente
por lá e na sexta saímos para trilhar.

Na saída da cidade já senti a ruptura, por ruas, concreto e asfalto que desconhecia, não era a Olímpia onde vivi.

Tomamos a terra e em um trecho da antiga boiadeira que ligava Barretos à São José do Rio Preto e daí por outros sertões à fora, passamos pelas ruínas de uma escola rural morta em seu silêncio, sem o alarido vivo e moleque de crianças que já partiram e de um boteco que na época dos tropeiros deveria ter vida intensa onde se contavam histórias que não se tem mais como resgatar. Me lembro que ainda cheguei a conhecer acampamentos de tropeiros que pousavam nas terras dos Bredas para o descanso, o preparo do arroz tropeiro, tudo juntado numa panela só sobre fogo de lenha aceso no chão, café de bule, muita prosa, muitos causos e às vezes uma viola. Outra ruptura.

Mais adiante, entre fazendas, à beira do caminho, carcaças de javalis abatidos, uma praga exótica que por falta de predadores naturais destroem lavouras, animais e ameaçam vidas. Em uma fazenda conheci uma caminhonete adaptada à caça noturna, com o assento do atirador acima da cabine e duas cadeiras abaixo e ao lado para os iluminadores e seus faróis de alta potência e alcance. Outra ruptura, eu que cheguei a ver pelas minhas andanças pelo Cachoeirinha e Turvo do meu tempo moleque, sucuris, capivaras, jacarés do papo amarelo, ariranhas e também fartura dos curimbatás, piaparas, lambaris e outros peixes, hoje dizimados pelas exóticas tilápias.

Grato Claudio pelo pedal que também foi uma profunda viagem no tempo e na memória, me ensinando que o passado que morre, reacende os valores da vida que se vive, profundamente marcados pelo que se viveu.

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