As bicicletas de equilíbrio, sem pedais, são bastante utilizadas para a inicialização de crianças no ciclismo. Mas há experiências com bicicletas com este conceito também para pessoas adultas que nunca pedalaram.

Aprender a andar de bicicleta exige conhecimentos e técnicas múltiplas. Ou seja, para andar de bicicleta é preciso aprender a pedalar, fazer curvas, manusear freios e câmbios, e assim por diante. Mas o principal aprendizado de todos – e também o mais difícil de assimilar – é o equilíbrio.

As bike balances, ou bicicletas de equilíbrio, têm em seu conceito o objetivo de dividir as etapas deste aprendizado. Estas bicicletas foram concebidas originalmente para o uso infantil. Com elas, a criança pode montar com os pés no chão, e não no pedal, o que a deixa mais segura. Com o tempo, a tendência é que a criança se impulsione e tire os pés do chão, aprendendo a se equilibrar, ao invés de se concentrar em tudo ao mesmo tempo. Aqui está a principal diferença para as bicicletas com rodinhas auxiliares, por exemplo. As bicicletas com rodinhas ensinam primeiro a pedalar, que é a parte mais fácil.

Mesmo que o conceito inicialmente tenha sido projetado para crianças – o que faz muito sentido, já que a maioria das pessoas aprende a andar de bicicleta quando criança -, o método de retirar os pedais também facilita o aprendizado de adultos que nunca tiveram a oportunidade de aprender a andar de bike.

Thiago Tiganá, voluntário do Bike Anjo BH, diz que está utilizando esta técnica com algumas pessoas que procuram o grupo. “Fazemos isso para que a pessoa se preocupe apenas com o equilíbrio sobre a bike, sem se preocupar em pedalar. Propomos tirar um pé, depois outro, para ir sentindo a bicicleta. A gente sente que o aluno fica mais seguro. Ele não tem que dividir a preocupação de se equilibrar e pedalar ao mesmo tempo”, afirma Thiago.

© Thiago Tiganá

Segundo Thiago, os resultados são ótimos. Mas é preciso garantir que o usuário possa colocar os pés no chão. Por isso, são utilizadas bicicletas dobráveis, que são menores e, em sua maioria, já vêm com os pedais dobráveis também. Desta forma, ajusta-se o selim para que o aprendiz alcance os pés no chão quando estiver sentado, e dobra-se os pedais. “Assim, os alunos que estão querendo aprender a andar de bicicleta literalmente andam, ao invés de saírem pedalando. Além disso, as bicicletas dobráveis também têm um diferencial: permitem que pessoas altas ou baixas pedalem numa mesma bike, usando apenas a regulagem de altura do canote do selim, permitindo que os pés fiquem completamente apoiados no chão, não somente nas pontas. Isso nos remete às balance bikes, ou bicicletas de equilíbrio, que são bicicletas para crianças. Nelas, as crianças se divertem empurrando com os pezinhos plantados no chão, aprendendo a se equilibrar mais cedo sobre a bicicleta. Da mesma forma, sugerimos aos nossos alunos que façam algumas voltas sobre as bicicletas dobráveis com os pedais recolhidos ou dobrados, impulsionando a bicicleta para frente com a ajuda das pernas, tentando tirar um pé ou outro do chão, ou mesmo deixar os dois pés suspensos, seja por frações de segundo, um segundo ou mais”, comenta.

A ideia do método das bicicletas de equilíbrio já era utilizada pelos voluntários do Bike Anjo em São Paulo. Conforme Thiago explica: “Em 2013, o fundador do Bike Anjo, JP Amaral, e sua esposa Evelyn, que moram em São Paulo, vieram a Belo Horizonte e participaram de uma EBA – Escola Bike Anjo. Nessa visita, eles promoveram uma mini palestra para os presentes falando sobre bicicleta, segurança no trânsito, dicas, e para nós, Bike Anjos, deram a dica de aproveitar que os pedais das bicicletas dobráveis também dobram ou são facilmente retirados, e utilizar as bikes sem os pedais em um primeiro momento”.

© Thiago Tiganá

Mesmo com a facilidade, Thiago afirma que é preciso ter cautela e respeitar o tempo de cada aluno. “Procuramos fazer tudo sem imposição, deixando que o aprendiz vá dosando o tempo que consegue tirar um dos pés ou os dois pés do chão. Começamos a perceber que isso fazia com que o aluno se acostumasse mais facilmente tanto com a bicicleta quanto com o equilíbrio, uma vez que ele tem que se preocupar somente em se equilibrar sobre a bike, deixando a questão do pedal para mais tarde. Ele focaliza primeiro em ganhar esse equilíbrio. Em seguida, sugerimos ao aprendiz que tente com os pedais na posição normal, e vemos progressos muito bons. Sabemos, claro, que o equilíbrio e o aprendizado sobre a bicicleta variam de pessoa para pessoa, e esse método tem nos ajudado bastante”, diz Thiago.

O uso das bicicletas de equilíbrio para o aprendizagem adulta é uma ótima alternativa, que ameniza o medo do aprendiz. Vale parabenizar também o incrível trabalho dos Bike Anjos, que encorajam e orientam cada vez mais pessoas a aderirem à bicicleta nas cidades.

Com o tempo, a tendência é que a criança se impulsione e tire os pés do chão, aprendendo a se equilibrar, ao invés de se concentrar em tudo ao mesmo tempo.

Bicicleta de equilíbrio

Bicicleta sem pedais, corrente, rodinhas de apoio e, geralmente, sem freios também. Seu objetivo é aprimorar o equilíbrio, noção espacial, coordenação motora e reflexo da criança, ganhando autoconfiança e facilitando a transição para uma bicicleta normal.

Bike Anjo

Grupo de ciclistas experientes e apaixonados pela bicicleta, que voluntariamente ajudam pessoas que querem aprender a pedalar na cidade com mais segurança. Assistência em melhores trajetos para se fazer, acompanhamento do ciclista iniciante em suas primeiras pedaladas, ensino da manutenção básica e de medidas de segurança são alguns dos serviços prestados por estes ciclistas.