Suportes para transporte da bicicleta

@Thule Divulgação

Finalizando uma viagem de bicicleta de três meses pelos Atlas e Saara marroquinos, em 2003, Antonio Olinto estava decidido a voltar para o Brasil e comprar um novo motor-home. Foi quando um amigo lhe mostrou um tipo de suporte diferente, que acoplava na bola de engate do carro. “Nunca havia visto antes e achei bem interessante”, confessa Olinto. O modelo já era comum na Europa, mas o seu uso ainda é tímido no Brasil. O motor-home já viajou para Porto Alegre, Jalapão e Lençóis Maranhenses, em busca de roteiros para guias de cicloturismo, e continua com o suporte e as bikes atrás. 

Mas nem sempre o final é assim, feliz. A jornalista Giuliana Morrone, da TV Globo, conta que um suporte traseiro foi o motivo para o fim de um casamento. “Juntei-me a um grupo de amigos que andava de mountain bike aos fins de semana, na Bahia. Em uma das nossas saídas, um casal que nos acompanhava no passeio (ele, de bicicleta, ela, de carro dando apoio) chegou a um restaurante, fez os pedidos e, enquanto a peixada baiana não chegava, a mulher decidiu estacionar o carro em uma vaga na sombra. Engatou a ré, não viu uma árvore e… Bateu a traseira do carro, partindo a bicicleta do marido em dois. Foi o fim do casamento e do grupo”, conta.

Usar um suporte externo no carro facilita o transporte das bikes, mas exige redobrada atenção. Wagner Figueiredo, mais conhecido como Guiné, colunista do site Pedal.com e colaborador da revista, relata que sempre usou rack de bike no carro, dos mais variados modelos e, além disso, também vendeu racks por mais de 15 anos. “A primeira pergunta que eu fazia para o cliente era: quanto custa a pintura ou retoque do seu carro?”, revela. Conheça os principais modelos disponíveis no mercado, legislação e dicas para ajudar na escolha do melhor suporte para você.

Modelos

Há vários modelos de suporte disponíveis no mercado, com capacidades de até quatro bicicletas, que podem ser acoplados ao veículo de diferentes formas. “Existem suportes que ficam no teto do carro, suportes para engate, para tampa do porta-malas com ou sem estepe e para caçamba de pick-ups. Há uma diversificação grande de marcas disponíveis também”, relata Priscila Misutsu, da Webracks, loja virtual de racks. 

Suporte traseiro. Segundo Guiné, “o bom rack traseiro deve fixar na junção para-lama x lataria. O rack fica apoiado na parte inferior e fixado sobre a base do vidro ou até mesmo na lataria (se o carro for um sedã). Desta forma, as hastes seguram as bicicletas e ficam perpendiculares ao solo, ou cerca de 15 a 30 graus para cima”. Mas cuidado com o rack que tem o apoio central sobre o vidro, pois dependendo do peso, este pode espedaçar.

No suporte traseiro é mais fácil manipular as bikes, evitando pequenos acidentes, como amassados na lataria do carro ou arranhões na pintura da bike, já que para carregar e descarregar a magrela, o suporte está a uma altura ideal com relação a pessoa. A facilidade de instalar está relacionada também à distribuição das tiras e travas nos pontos de fixação. O ideal é que o rack traseiro tenha duas tiras superiores, duas inferiores e, principalmente, duas laterais, que evitam que o rack balance.

Um dos pontos negativos deste suporte é que, em alguns casos, a bicicleta fica há uma altura pequena do chão e quando o carro precisa passar por algum obstáculo, como um solavanco, buraco ou subir a calçada para entrar em um estacionamento ou garagem, a bicicleta pode arrastar. Outra questão que deve ser analisada no uso deste suporte é a não visibilidade da placa e das luzes, e a maior exposição em caso de uma colisão. Marcio Ravelli destaca que “os suportes traseiros são mais práticos na hora de colocar a bike, mas fica muito exposto no trânsito, por exemplo, para estacionamento com manobras, e mais visível para roubo”.

Edgardo Jorge Sanrame relata que, apesar de “puxar um pouco nas curvas”, prefere usar o suporte de teto. “É melhor, porque o traseiro impede a visão pelo retrovisor”, argumenta, apontando outra desvantagem deste modelo de suporte.

Suporte de teto. Com o uso deste suporte, a bicicleta fica sobre o teto de forma perpendicular. Com isso, fica resolvido o problema da não visibilidade da placa e das luzes traseiras. Outra vantagem é que a porta traseira fica liberada. Alguns modelos de carros quatro portas já possuem duas barras laterais no teto, as chamadas longarinas. Neste caso, é preciso ainda instalar travessas e a calha para acomodar as bicicletas. Mas se esse não for o seu caso, a instalação de todo o kit é obrigatório e deve ser feita por um especialista. No caso do uso desse suporte, outra vantagem é que as bikes ficam protegidas em caso de uma colisão traseira. “Os suportes mais procurados são para transportar a bike no teto, em que não é preciso tirar a roda dianteira”, afirmou o pessoal da fabricante Eqmax.

Uma das dúvidas mais frequentes dos usuários do suporte de teto é o fato do Contran estabelecer a altura máxima de cargas além do suporte em 50 cm. Essa legislação continua em vigor e se aplica a todas as cargas, mas a Resolução 349/2010 exclui a bicicleta desta regra, ou seja, o limite não se aplica ao transporte de bicicleta. Então o uso é legal: só fique atento quando for entrar na garagem ou passar sob coberturas baixas, pois é comum acontecerem acidentes assim.

A desvantagem desse rack é que é um pouco mais difícil de colocar a bike, principalmente para os mais baixinhos, o que pode resultar em riscos no carro. Além disso, se a magrela estiver muito suja, seja de barro ou excesso de óleo, vai sujar o teto do veículo também. Claudia Franco é usuária de um suporte de teto e fala sobre as vantagens e desvantagens. “Este suporte é ótimo, pois não ocupa espaço das laterais do carro e nem impede a visualização da placa. Porém, para mulheres e pessoas de baixa estatura, a colocação da bike no teto do carro é bastante dificultosa. É preciso ficar muito atento à questão da altura (carro + bike), pois não é possível entrar em qualquer lugar com as bikes no teto do carro”. Marcio Ravelli argumenta que “o rack de teto protege mais em colisões traseiras, por exemplo, mas tem que se tomar cuidado com os galhos, fios, garagens, etc. Mesmo assim, é o meu rack preferido, pois como tenho pick-up, coloco o rack na parte da caçamba e o conjunto fica baixo”.

Suporte acoplado ao engate (reboque). No caso deste suporte, também conhecido como suporte atrelado, é necessário verificar junto ao Detran se o seu veículo possui capacidade de tração e pode usar engate. 

Como a bike fica afastada do carro neste tipo de suporte, a chance de riscar a lataria diminui. Outra vantagem é que o engate pode ser utilizado não só para as bikes, mas para vários outros reboques, desde que o Detran considere o carro apto para isso. As desvantagens são porta-malas impedido, placas e luzes encobertas e bikes mais vulneráveis em caso de colisão traseira.

Este é o suporte utilizado por Antonio Olinto em seu motor-home. “Acho ele robusto e prático, não ofende a lataria do carro, é fácil de colocar e tirar as bikes e a altura de colocação é cômoda, como se estivesse colocando a bike em uma bancada. Em uma das adaptações que fiz tive que mudar a placa do motor-home de lugar, o que facilitou o uso desse suporte. Tive, também, que buscar uma forma perfeita para que as bikes não cobrissem as lanternas do carro”.

Claudia Franco revela que já utilizou os três tipos de suportes acima. Atualmente utiliza o rack de teto, mas “o suporte que prefiro é o de engate na traseira do carro. Acho que ele é o mais confortável, principalmente para as mulheres, pois não é necessário elevar a bicicleta acima da altura da cabeça, o que facilita a colocação”.

Bicicleta dentro do carro. Há legislação que impede o transporte de pessoas em local reservado ao transporte de cargas, mas não fala nada sobre o transporte de cargas em local previsto para pessoas. Em outras palavras, não é ilegal transportar a bicicleta dentro do carro, no porta-malas ou mesmo no banco, que seria local previsto para a acomodação de passageiros. Tonico Ferreira, repórter da TV Globo, diz que não usa suporte externo. “Já vi amigo entrar com a bicicleta na garagem do prédio sem se dar conta de que a bike estava em cima, desastre. Também já vi bicicleta de amigo voar na estrada, apavorante. E quando você tem uma bike atrás e precisa pegar algo que ficou no porta-malas e tem que desmontar tudo? E se depois da trilha você vai tomar uma cerveja e tem que tirar a bike para ela não ser roubada? E onde guardar o suporte?”, pondera, defendendo o transporte da bike dentro do carro. “Com jeitinho, a gente acha espaço para uma bicicleta desmontada em quase todos os carros com bancos traseiros abaixados”.

O que é necessário verificar neste caso é a questão da segurança. Prenda bem a bicicleta de forma que ela não fique se movendo em curvas ou mudanças bruscas de velocidade, pois isso pode tirar a sua atenção e provocar acidentes, além de prejudicar o estofamento e a pintura, tanto do veículo como da bicicleta. Para quem quiser economizar com o suporte, essa pode ser uma solução. O contra é que o espaço interior do carro fica bastante limitado, pois geralmente é preciso inclinar o banco traseiro, e pode ser chato ficar montando e desmontando a bike toda vez que tiver que viajar. “Não gosto de transportar a bike dentro do veículo”, revela Claudia Franco. “Ocupa espaço e suja demais o interior do carro. Sempre vou aos treinos e corridas com amigas e vamos todas em um único automóvel. No meu suporte consigo carregar três bikes no teto. Fico com os bancos livres para as pessoas que me acompanham”, finaliza.

Para Ravelli, “a maior dificuldade de um biker em transportar sua bicicleta é a segurança. Muitos racks utilizam um cadeado acoplado ao conjunto, isso traz confiabilidade. Agora, se o biker não quiser ter problema algum vai ter que levar a bike dentro do carro”. Segundo o professor Sergio Augusto Affonso, “você pode utilizar um cobertor para envolver a bicicleta. Ela fica segura e também evita estragos na lataria e outros problemas”.

Conheça o carro

Procure conhecer bem o carro antes de pegar estrada. Não exagere na velocidade; em alguns manuais de racks é sugerida uma velocidade máxima que, se não respeitada, pode provocar acidentes ou diminuir a eficiência dos acessórios. Conhecer o carro antecipadamente ajuda na escolha do tipo de suporte que você vai utilizar. “Antes de comprar um rack traseiro, analise o fator acomodação”, indica Guiné. “No caso deste tipo de rack, mesmo que ele venha com a indicação de ser universal, nem todos os modelos ficam 100% no seu carro. Cada carro tem um design próprio. E no caso do rack de teto, tem que conjugar perfeitamente com o rack do carro. Além disso, alguns carros limitam o peso do rack”, finaliza.
Legislação

O transporte de bicicleta na parte externa dos veículos classificados nas espécies automóveis, caminhonete, camioneta e utilitário é permitido e regulamentado pelo Contran – Conselho Nacional de Trânsito. A Resolução 349 de 17 de maio de 2010 dispõe sobre o transporte eventual de cargas ou de bicicletas nos veículos. Ela foi adotada considerando a conveniência de atualizar as normas que tratam do transporte de bicicletas em veículos particulares e considerando as vantagens proporcionadas pelo uso da bicicleta ao meio ambiente, à mobilidade e à economia de combustível. Veja as principais exigências desta Resolução:

Modo de fixação

É permitido transportar a bicicleta na parte posterior externa ou sobre o teto do veículo, desde que fixada em dispositivo apropriado, móvel ou fixo, aplicado diretamente ao veículo ou acoplado ao gancho do reboque. A bicicleta deve ser fixada de forma que não coloque em perigo as pessoas e nem cause prejuízo a propriedades públicas ou privadas, fatos que podem acontecer se a bicicleta cair enquanto o carro estiver em movimento, por exemplo, e provocar um acidente. A bicicleta não pode atrapalhar a visibilidade frontal do condutor, nem a estabilidade e condução do veículo. A estrutura de fixação não deve provocar ruídos ou poeira, ocultar as luzes de freio, as setas indicadoras de direção e os dispositivos refletores.

Placa

Quando a placa traseira estiver encoberta é obrigatório o uso da segunda placa, que deve ser fixada em local visível ao lado direito da traseira do veículo, podendo ser no para-choque ou na carroceria, sendo permitida a utilização de suportes adaptadores. Segundo a Resolução 349, artigo 4º, §2º, “a segunda placa de identificação será lacrada na parte estrutural do veículo em que estiver instalada (para-choque ou carroceria)”. Esta segunda placa deve ser solicitada no Detran – Departamento Estadual de Trânsito ou despachante, e cada estado tem procedimentos distintos.

Conforme Renato Duarte, da empresa Thule, “as principais reclamações dos nossos clientes são referentes à lei brasileira, que não é clara e solicita alterações inadequadas para o transporte de bicicletas na traseira do carro. Porém, a mesma lei deixa espaço para se utilizar suportes adaptadores e é nisso que nos baseamos para manter os produtos na legalidade. Estamos trabalhando para mudar isso e facilitar ainda mais para nossos consumidores”.

As empresas reclamam que a interpretação da lei sobre a segunda placa é confusa e isso gera inconsistências na orientação aos clientes. “Conversamos com o responsável pelo Detran de Curitiba e a informação que recebemos foi de que os policiais são orientados a usar o bom censo nesses casos”, relata Angela S. Zielinski, da Altmayer, empresa catarinense que fabrica suportes de bike para carro. “Eles devem, por exemplo, ver se o transportador está realmente tentando esconder a placa de propósito. A legislação permite o uso do adaptador para placas e sinalização, dentro de algumas especificações”, finaliza.

Em consulta ao Contran, a informação repassada pelos técnicos é de que os suportes com adaptadores são legais, desde que sigam a exigência de estarem no lado direito da traseira do veículo, e com a segunda placa lacrada. Infelizmente, quando contatamos o Detran de diversos estados, as orientações foram confusas e contraditórias.

Dimensões

Para as cargas, existe um limite de altura máxima de 50 cm, comprimento não superior ao comprimento da carroceria e largura máxima igual à parte superior da carroceria. Mas o limite de altura não se aplica quando a carga for a bicicleta, conforme § 2º do artigo 8º da resolução 349/2010 do Contran. A bicicleta não pode exceder a largura máxima do veículo nem ultrapassar as dimensões autorizadas na Resolução 210/2006. Também não pode sobressair ou se projetar além do veículo pela frente. Todos os acessórios, como cabos, correntes, lonas, grades e redes usados para acondicionar, proteger ou fixar a carga devem seguir todas essas orientações.

Dispositivo para transporte (suporte e acessórios): o fabricante deve fornecer instruções precisas sobre a forma de instalação, permanente ou temporária, modo de fixação da bicicleta ao dispositivo, quantidade máxima de bicicletas transportadas e cuidados de segurança durante o transporte visando a segurança do trânsito, do veículo, dos passageiros e de terceiros.