12.000 km | 500 dias | Zero CO²
Começamos o planejamento desta grande aventura no começo de 2011 e em agosto iniciamos nossa volta de 12.000 km ao redor do país. Andamos 300 km por Goiás, 1600 km por Minas Gerais, cruzamos São Paulo e chegamos ao mar em Paraty – RJ. De lá subimos o litoral passando pelo Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas até Recife-PE, totalizando até agora 5450 km pedalados.
Já dormimos em um hotel desativado, cinco hostels, hotel fazenda de luxo, na melhor pousada do nordeste segundo o roteiro do charme, em quatro repúblicas de estudantes, casa de vereador, beira de estrada, posto de gasolina, no meio da natureza, lava-rápido, pasto, praia, aldeia hippie, casa no pé da serra em Tiradentes, casa à beira-mar em morro de São Paulo, dentro de um barco que já foi palco de uma mini-série e na casa de dezenas de pessoas solidárias ao projeto: tudo sem custo algum! Já pegamos carona com prefeito, já entrevistei capitão de barco que deu duas voltas ao redor do mundo, tomamos o Santo Daime em São Thomé Das Letras, conhecemos todos os museus de Ouro Preto, fomos ao Rock in Rio, conhecemos um mina de ouro, o Jardim Botânico, o MAM do rio, Inhotim, o Projeto Tamar, um festival de Jazz em Tiradentes, um em Salvador e outro no Rio, as igrejas brasileiras mais ricas em ouro e arte barroca, as praias e cachoeiras mais lindas etc…
Todas essas histórias se eternizarão em um livro, em exposições fotográficas e um documentário para percorrer os festivais de cinema brasileiros, mas por enquanto recheiam nossas vitrines virtuais e nosso site pedalarepreciso.com.br.
Acreditamos que essa aventura só seria possível em cima de uma bicicleta. O ciclista é bem visto nas estradas e muitas pessoas estão prontas a ajudá-lo se você as abordar da maneira correta. Você não tem custos para se locomover, e atravessar vários quilômetros de subidas e descidas pedalando com tudo que você precisa em seus alforjes é muito mais excitante. O cicloturismo é uma ótima maneira de fazer uma viagem para conhecer o Brasil e a si mesmo. Você tem muito tempo para pensar em sua vida, suas vontades e próximos objetivos, pois toda a viagem terá uma velocidade lenta para que o viajante possa desfrutar ao máximo o caminho e todas as situações possíveis. Além de tudo é um excelente exercício físico, sem impacto, dinâmico e ecologicamente sustentável.
Nós estamos a mais de nove meses na estrada e vivenciamos incontáveis experiências inéditas gastando muito menos do que se tivéssemos levando a mesma vida em Goiânia. Saímos com uma pequena reserva de dinheiro que já acabou e hoje conseguimos continuar nosso projeto vendendo adesivos do projeto a R$ 2,00, fazendo música e com a ajuda de várias pessoas pelo caminho com alimentação e hospedagem. Dinheiro não é o maior problema e, na verdade, se tivéssemos nossas carteiras gordas, a viagem não seria a mesma aventura. As coisas seriam bem mais fáceis e previsíveis e não teríamos tanta necessidade de nos interagir com as pessoas. Uma coisa é você chegar numa cidade que você não conhece e ficar numa pousada, comer em um restaurante, visitar os pontos turísticos e dormir. Outra coisa é você chegar cansado sem saber onde vai dormir, sem dinheiro para comer e com sua casa na bagagem. Você tem necessidade de uma alimentação mais reforçada, de repousar bem para descansar o corpo cansado e não pode “estacionar” em qualquer lugar, pois pode ser roubado facilmente.
É claro que algumas vezes passamos por situações bem desconfortáveis e aquela vontade de voltar pra casa preenche os pensamentos, mas sempre após uma situação extrema de dificuldade vem um aprendizado novo e mais força para poder enfrentar a vida da maneira que escolhemos viver. Inicialmente é mais difícil se adaptar ao ritmo de uma cicloviagem, mas com o tempo você se acostuma. Com o tempo se percebe que muita coisa que separou para levar na bagagem não tem tanta importância e então o desapego continua. Isto serve como uma metáfora para a vida. Quanto mais coisas você tem, mais pesada pode ser sua caminhada e menos liberdade de ir e vir. Foi necessário abrir mão de infinitos caminhos mais fáceis para podermos nos jogar nesta aventura sem patrocínio, e apesar de muitas pessoas acharem que o que estamos fazendo é apenas uma viagem um pouco mais longa, nós temos a certeza de que nunca mais seremos as mesmas pessoas.
Viaje mais: conheça o Brasil e a si mesmo.
Planejamento da viagem
Um dia em minha casa, o Diego me falou que queria fazer algo diferente, que estava meio cansado da vida que levava e estava pensando em dar uma volta no Brasil de bicicleta. Eu também estava meio descontente com minha vida e queria fazer uma aventura. Nós começamos a planejar esta viagem: fizemos a rota, criamos o nome, a logomarca, fizemos o site e começamos a treinar. Quando fizemos a primeira viagem de 330 km de Goiânia para Pirinópolis, Salto de Corumbá, Goiânia em três dias, percebemos que poderíamos chegar em qualquer lugar em cima da bike.
O Diego saiu do seu trampo e pegou um bom valor da rescisão. Eu tinha duas casas para vender, fora outras coisas que não me deixavam poder viajar. Arranjei uma pessoa para tomar conta das minhas coisas e saí com R$ 2.000,00 em dinheiro. Hoje, estamos com nossas contas no vermelho e ainda lutando para ver se conseguimos um patrocínio. Mas temos a certeza de que esta viagem é a melhor coisa que já fizemos nessa vida. Estamos em uma “relação conveniente”… Dormimos na mesma barraca, acordamos juntos, comemos, brigamos e fazemos as pazes. Mas é uma parceria muito boa, tanto de afinidades diversas, como a música que fazemos, os gostos e vontades, quanto nossos conhecimentos profissionais que se completam para tornar o projeto possível.
André Prado Roriz, ciclista, 27 anos, é publicitário, e Diego Pinto de Mendonça, ciclista, 27 anos, é técnico de informática. Ambos são de Goiânia, Goiás.
