RAÍZES COMUNS ENTRE CICLOTURISMO E AGROECOLOGIA FAMILIAR
Já pensou sobre o que há em comum entre Cicloturismo e Agroecologia? São dois conceitos fundamentais às necessidades humanas, como a de nos movermos de um lugar a outro e estarmos constantemente bem nutridos. Simples assim! É certo que existem diversas formas de realizar ambos. Porém, as mais sustentáveis em que podemos experimentá-los é sobre as duas rodas da bicicleta e consumindo alimentos de base familiar agroecológica, principalmente, quando produzidos em sistemas agroflorestais (SAF).
Fica fácil perceber os paralelos entre Cicloturismo e Agroecologia como áreas complementares no que se refere à sustentabilidade. Ambos representam experiências humanas ambientalmente sustentáveis, economicamente viáveis e socialmente justas. Comento brevemente sobre alguns porquês.
O Cicloturismo e o saber fazer agroecológico são formas de deslocamento e produção de alimentos, respectivamente, com geração de mínimo impacto ou até de impacto positivo em relação aos recursos ambientais (principalmente o fazer agroecológico agroflorestal), porque otimizam ao máximo os recursos ecológicos locais com mínima dependência de mercados ou insumos externos. A comunidade rural abastece as comunidades urbanas próximas, e assim entramos na dimensão socialmente justa da sustentabilidade.
Consumir alimentos agroecológicos locais beneficia pequenos agricultores familiares que são a base da produção em diversidade. Principalmente quando manejada em Sistemas Agroflorestais (agroflorestas), é possível conciliar em um mesmo ambiente a produção de hortaliças, diversos grãos, árvores frutíferas, madeireiras, ornamentais e que servem de insumos para feiras locais e beneficiamento em agroindústrias, também, familiares.
Adotar o consumo destes alimentos significa dar oportunidade de renda ao pequeno produtor rural familiar que provê nada menos do que 70% do alimento que chega à mesa das famílias urbanas.
© Projeto Via Ecológica Serra dos Tapes-RS © Projeto Via Ecológica Serra dos Tapes-RS
A diversificação da produção em Sistemas Agroflorestais também é positiva para a fertilidade do solo e diversificação de renda às famílias agricultoras, uma vez que geram experiências cicloturísticas extremamente ricas. É o caso da região da Serra dos Tapes no Rio Grande do Sul, que oferece roteiros cicloturísticos de experiência agroecológica. Lembrando que a Revista Bicicleta foi a primeira publicação a falar sobre esta relação no país.
Estas culturas de produção representam atrativos oportunos ao cicloturista urbano em busca de retomar conhecimentos sobre natureza e meio ambiente. Saberes deixados pra trás em detrimento do estilo de vida majoritariamente urbano e acelerado. Com isso, normalizou-se o hábito alimentar baseado no “fast-food”, sabidamente prejudicial à qualidade de vida das pessoas. No entanto, a cultura do slow food e do movimento de cicloturistas silenciosos podem reconectar o ser humano às suas raízes socioambientais e indicar caminhos possíveis de retomada de estilos de vida mais saudáveis, promissores e sustentáveis em amplos aspectos e dimensões.
Alimentar-se de produtos locais estimula a dimensão economicamente viável da sustentabilidade e oferece a oportunidade de estímulo às oportunidades do viver do e no campo. Isto aponta horizontes interessantes para a geração atual e para novas gerações rurais, as quais poderão ver oportunidades não vislumbradas por seus antepassados.
São os novos rurais, as novas possibilidades dentro dos mesmos espaços. Contam com os mesmos recursos disponíveis. O que muda, mesmo, é o modo de perceber e se integrar a este espaço como parte indissociável dele. É mudar a perspectiva. É mudar a si próprio. É incrivelmente sustentável!
Leandro Karam
(Pedal Curticeira/Projeto Via Ecológica Serra dos Tapes-RS)
@pedalcurticeira / @serradostapes