Não são somente paisagens maravilhosas e cachoeiras incríveis que nascem da miríade de águas dos afluentes do Rio Itajaí, na região do Vale Europeu Catarinense. Se considerarmos a porção de águas cristalinas que desviam do seu curso, agregam-se ao mosto cozido com cevada e lúpulo e fermentado pela obra das leveduras, transformando-se assim nas desejadas cervejas artesanais, teremos então uma mescla de atrativos naturais e culturais sem igual em qualquer outra região brasileira.

Blumenau, erigida às margens do Rio Itajaí, é a cidade pólo de toda esta região. Podemos estranhar, portanto, o fato da Capital Nacional da Cerveja (título conquistado recentemente, em março de 2017) não fazer parte do famoso circuito de cicloturismo, embora entusiastas cicloviajantes e membros da mais forte associação ciclística local tenham participado ativamente da criação das rotas. Um motivo plausível é a dificuldade para criar caminhos seguros dentre a complexidade urbanística do município, sobretudo em seu flanco norte, onde a presença da BR 470 é ainda um fator agravante.

Se isto pesa como um obstáculo à maior presença de cicloviajantes, há de se considerar outro potencial que ressoa forte no coração de qualquer pedaleiro: o surgimento, há pouco mais de um ano, da rota turística Vale da Cerveja, criada para reforçar a identidade pioneira que a região ostenta pela grande concentração de cervejarias artesanais de alto nível. Mais do que responder a uma demanda crescente no mercado nacional, a legimitidade do produto turístico é atestada pela própria história da ocupação do território, visível tanto no Museu da Cerveja, no centro de Blumenau, quanto no centro cultural na antiga Cervejaria Feldman, na Vila Itoupava, apenas para citar dois exemplos emblemáticos.

Para transformar o Vale da Cerveja em um destino cicloturístico, valemo-nos da experiência já bem consolidada no Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, cuja roteirização de nossa autoria hoje incorpora-se à economia local com operadores próprios e grande presença de visitantes pedaleiros de todo o país. Trata-se do conceito de “roteiro margarida”, onde adotamos um ponto central de hospedagem e os roteiros diários acontecem em seu entorno, com a logística facilitada por traslados quando necessário. Desta maneira, nossa base no Vale da Cerveja é uma bela e confortável pousada em Blumenau, localizada num ponto tranquilo e ao mesmo tempo próximo da variedade de atrativos que fazem a fama do destino. O retorno das visitas e degustações à pousada é sempre feito de van, priorizando o conforto e a segurança dos participantes.

A pedalada começa bem onde convergem todas as águas da região (ou melhor, somente aquelas que não transformaram-se nas maravilhosas cervejas) – o leito do rio Itajaí Açu, nas imediações do município de Ilhota. De curva em curva, vamos nos aproximando da Capital Nacional da Cerveja – mas antes passando pela área rural de Gaspar, uma das bucólicas cidadezinhas que integram o Vale. O grand finale do primeiro dia é a Das Bier, que além de uma ampla variedade de rótulos inova por estar situada numa enorme chácara, com belos lagos e um paisagismo impecável.

O segundo dia inicia na mais alemã de todas as cidades brasileiras, Pomerode, de onde pedalamos no rumo da Vila Itoupava – cenário tanto da Container, uma moderna cervejaria com pub representante do estilo inglês, quanto da Bierland, tradicional cervejaria alemã cujo estilo Viena é um dos mais respeitados do mundo. Já no último dos 3 dias, experimentamos os ares da parte mais preservada da região. A pedalada começa nas imediações do Parque Nacional do Itajaí, na localidade da Nova Rússia. Pelos bairros mais tranquilos da parte sul, entramos em Blumenau tendo como metas a passagem pelo Museu da Cerveja e a conclusão do roteiro na Vila Germânica. No local-sede dos mais famosos eventos da região, como a Oktoberfest e o Festival Brasileiro da Cerveja, celebramos a profusão de obras primas líquidas e gastronômicas do destino: ali, há bares e restaurantes para todos os gostos.

© Fernando Angeolleto