Manual orienta operadoras em protocolos sanitários e garante segurança nas viagens de aventura.

A Abeta (Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura) acaba de lançar o Manual de Boas Práticas Sanitárias no Turismo de Natureza, que engloba, dentre as diversas atividades ecoturísticas, o cicloturismo. 

Fernando Angeoletto, proprietário da operadora de cicloviagens Caminhos do Sertão e diretor de Comunicação da Abeta, explica que a entidade, que reúne mais de 105 empresas do segmento, passou a adotar, já no final de março, uma estratégia de crise entre seus associados para enfrentar a COVID-19.

Foram criados grupos temáticos de trabalho, sendo um deles o de práticas sanitárias, que culminou na criação do Manual, cujo conteúdo contou com a participação de 50 empresários do ramo de turismo de aventura de todo o Brasil. A primeira versão do documento foi divulgada logo no início de junho e, dois meses depois, foi produzido o material de atividades específicas, entre elas o cicloturismo.

© Seledon

“O que muda é incluir, nos riscos do turismo de aventura, a questão sanitária advinda da COVID-19. Isso envolve desde o início da comunicação do operador com o cliente para averiguar o seu histórico de saúde e informar a necessidade do uso da máscara pelo participante que, num primeiro momento, pode se sentir refratário por ser o passeio em local aberto. Porém, nosso papel será cobrar o uso não só pelo risco de contágio dos participantes, como das comunidades que a gente visita. Inclui também averiguar os locais de pernoite, o transporte e as refeições com mais cuidados de higiene. São fatores que temos que incorporar nas práticas de nossas equipes. Trata-se de um cuidado compartilhado. Saúde é um pacto coletivo. No caso específico do cicloturismo, é necessário ainda agregar a higienização das superfícies de contato da bike e do transporte nos reboques também”, analisa Angeoletto.

Edgardo de Lima Pelaez, da Rota Sul Adventure, sediada em Porto Alegre, que também faz parte da Abeta, explica que o Manual é uma sugestão de protocolos sanitários para as operadoras, já que cada uma tem uma realidade diferente. “Em clima úmido, as máscaras ficam molhadas mais rapidamente, daí a necessidade da troca constante, ao contrário de quem pedala, por exemplo, na Chapada dos Veadeiros, onde o clima é mais seco. A implementação das medidas nao é difícil”, explica.

A insegurança do cicloviajante

O principal desafio para o cicloturismo, segundo Fernando Angeoletto, é o que toda a sociedade está enfrentando: a incerteza do controle do contágio, o que dificulta estabelecer compromissos e agenda caso os municípios tenham que fazer novas restrições sanitárias. “Isso gera insegurança nos clientes que dependem de voos e transporte interestadual, por exemplo. Por isso a importância de incorporarmos protocolos que gerem confiança e credibilidade. O Manual baseia-se no conhecimento científico e também nas corresponsabilidades que envolvem a atividade do cicloturismo. Ainda não existe uma fiscalização uniforme, depende de cada município, mas acreditamos que as operações serão bem seguras”, avalia.

Celso Pacheco, operador da Rota Cicloturismo, em Santa Catarina, informa ao ciclista inseguro de viajar durante a pandemia que os riscos são reduzidos porque funcionários de hoteis e restaurantes da região estão precavidos e tomando as medidas necessárias para evitar o contágio. “Informamos aos clientes sobre todos os riscos no deslocamento de suas cidades até o local da cicloviagem, e sugerimos que, de preferência, realize antes o teste da COVID-19. O desafio das operadoras é a organização da pedalada com cuidados na alimentação e pontos de parada, na hora de servir o lanche; tudo isso está mudando nosso modo de operar”, garante.

O ponto positivo da cicloviagem é não ser um turismo de aglomerações, mas de contato com a natureza. “Temos a vantagem de poder contribuir para reduzir esse nível de enclausuramento, gerador de estresse”, destaca Angeoletto.

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Os cuidados durante a cicloviagem

Além de todos os protocolos de higiene e distanciamento previstos no Manual, alguns detalhes da nova forma de cicloviajar durante a pandemia também estão na mira das operadoras. “Testamos alguns tipos de máscaras e verificamos que elas requerem um esforço físico maior do ciclista, levando-o a concluir o trajeto em mais tempo. Dessa forma, idealizamos mais paradas técnicas para respirar e tomar água, além de trabalharmos com grupos menores. Antes da pandemia, nossos grupos eram de 18 a 30 pessoas. Agora, vamos reduzir para entre 10 e 12, uma mudança significativa”, informa Edgardo Pelaez, que enfatiza também o cuidado com a bicicleta. Se antes o foco era na lubrificação e regulagem, agora vai ser na higienização dos pontos de contato. “As bikes das empresas já serão entregues higienizadas ao cliente e daremos todo o suporte para a higienização constante, como nos hotéis ou quando ela passa por uma regulagem do mecânico”, explica.

O proprietário da Seledon Turismo, atuante no Vale Europeu (SC), Maicon Mohr, afirma que a empresa já vinha adotando protocolos sanitários provenientes dos decretos municipais e do estado durante uma cicloviagem em julho, quando a pandemia se intensificou em Santa Catarina, e elogiou a proatividade da Abeta. Ele salienta a importância do engajamento e da responsabilidade do cicloturista no cumprimento dos protocolos, como o uso da máscara e o distanciamento social. “Na hora do lanche, as pessoas se dividem em grupos da mesma família para poderem retirar a máscara com segurança. A equipe prepara a refeição com todos os protocolos de higiene, e também mantendo a distância e o uso de máscara”, relata.

O que é importante observar

Todas as operadoras entrevistadas foram unânimes em afirmar a importância de o cliente procurar empresas que cumpram os protocolos de segurança sanitária. “No site da Abeta é possível encontrar as empresas sérias, preocupadas com a segurança sanitária e operacional, o que não deveria ser um diferencial, mas obrigação”, afirma Edgardo.

Celso Pacheco também ressalta que pesquisar previamente a operadora e conhecer os cuidados que esteja tomando em tempos de pandemia é fundamental para uma viagem segura. “Mas caso o cicloturista seja autônomo, deve pesquisar os locais de parada e onde fizer contato”, sublinha.

O principal desafio é que os ciclistas se sintam seguros em retomar as viagens. “Estamos preparados para recebê-los com a máxima segurança. As hospedagens da mesma forma. O desafio é fazê-los acreditar nessa segurança. A sugestão é que o cicloturista converse com o operador local para perguntar como está a pandemia na região, que medidas de proteção a empresa oferece, se já realizou atividades com essas medidas, se está seguindo as normas do manual da Abeta ou outras, e, se as dúvidas permanecerem, que ligue para os locais de hospedagem e pergunte qual a situação naquela região e que medidas de segurança estão sendo tomadas. Acima de tudo, é importante que as pessoas conversem sobre a realidade do local para onde estão se preparando para viajar”, enfatiza Maicon Mohr.

Edgardo Pelaez acredita que, em princípio, será necessário vencer o medo das pessoas de saírem de casa. No entanto, quando se sentirem mais seguras, ele crê que a procura será grande e as empresas precisarão ter seus protocolos bem estudados, especialmente as responsabilidades de condutores no atendimento rápido e seguro. “As empresas que não treinarem seus colaboradorres vão sair perdendo. O fundamental é o treinamento e o conhecimento das regras e protocolos”, diz.

E, para animar os indecisos, ele dá o recado: “Viver a vida ao ar livre traz inúmeros benefícios para a saúde física e psicológica. Eu, como educador físico, posso dizer que as atividades em contato com a natureza aumentam a imunidade, reduzem o colesterol, auxiliam no tratamento de doenças como diabetes, deixam as pessoas mais felizes, desde que as atividades não sejam extenuantes e sigam todos os protocolos de segurança”.

O Manual da Abeta está disponível para download em

http://abeta.tur.br/download/manual-de-boas-praticas-sanitarias-turismo-de-natureza/

Por Ana Cristina Sampaio (Instagram @anacris_sampaio)