Em janeiro, eu e minha esposa, Pâmela, viajamos para nossa lua de mel em Montevidéu, no Uruguai. Nova Petrópolis – RS estava no caminho para o aeroporto e aproveitamos para conhecer esta pequena e agradável cidade também. Como não podia faltar uma pedalada, optamos por nos hospedar em hotéis que oferecem bicicletas para alugar. De bike, conhecemos alguns pontos turísticos das duas cidades, além de especificidades que só poderiam ser vistas com este meio de transporte.

Nossa viagem foi curta, porém, bastante proveitosa. Pernoitamos em Nova Petrópolis – RS, a caminho do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, de onde partiríamos para Montevidéu, nosso destino final. Aproveitamos para fazer um passeio de bicicleta nas duas cidades, conhecendo os pontos turísticos e também alguns costumes e curiosidades da sua gente.

Nova Petrópolis

Nova Petrópolis
População:
19,4 mil habitantes
Ano de fundação:
1954
Origem:
imigrantes alemães
Economia:
agropecuária, fruticultura e turismo
Significado do nome:
“Nova cidade de Pedro”, em alusão à cidade de Petrópolis, local de férias da família imperial de D. Pedro II.

Esta cidade gaúcha tem origem com a fundação da Colônia Provincial de Nova Petrópolis, em 1858 por imigrantes alemães, dos quais a maioria dos seus habitantes descende, mas sua emancipação tal como é hoje se deu em 15 de dezembro de 1954. A cultura germânica está presente por toda a parte. Ao passear pelas ruas, era comum ouvirmos as pessoas conversando em alemão. O nome Nova Petrópolis significa “nova cidade de Pedro”, em homenagem a D. Pedro II, e em analogia à cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, local de férias da família imperial da corte. A cidade se localiza na Serra Gaúcha, possui pouco mais de 19 mil habitantes e fica a 30 km da famosa Gramado, e a cerca de 90 km de Porto Alegre.

Os hotéis em que nos hospedamos foram escolhidos por um diferencial: o oferecimento de bicicletas para alugar. Em Nova Petrópolis, a Pousada Mika’s disponibilizou gratuitamente duas bicicletas. São bicicletas do estilo “barra forte”, com freios no contrapedal, sem marchas. Para alguns podem parecer desprezíveis, mas não para nós, que simplesmente queríamos dar uma volta de bike para conhecer a cidade. Foi suficiente para o nosso propósito: um breve passeio de contemplação, sem compromisso de tempo ou quilometragem, apenas pelo prazer de pedalar.

© Pâmela Suélen Padilha Schörner

Nova Petrópolis é conhecida como o Jardim da Serra Gaúcha, e merece o título. A Praça da República, mais conhecida como Praça das Flores, no centro da cidade, é linda. O curioso é saber que já em 1858, quando a colônia foi fundada, o local desta praça já havia sido definido. Lá há um Labirinto Verde formado por ciprestes cortados em forma de cerca viva que formam os corredores, um monumento em homenagem ao Cooperativismo, que é muito forte na região, a Casa do Artesão, que funciona como uma Central de Informações ao turista, e muita, muita flor. As árvores e os canteiros floridos criam um ambiente extremamente agradável.

Serrote alemão utilizado como instrumento musical. © Pâmela Suélen Padilha Schörner

O ponto turístico mais importante de Nova Petrópolis é o Parque Aldeia do Imigrante. Fundado em 1985, ocupa uma área de aproximadamente dez hectares, a maior parte de mata nativa, no centro da cidade.

A ideia do parque surgiu em 1974, quando aconteceram comemorações aos 150 anos de imigração alemã no Rio Grande do Sul, e se percebeu a riqueza histórica que havia na cidade. Ao mesmo tempo, naquela época existia grande preocupação com as construções com técnica enxaimel, que estavam sendo derrubadas para dar lugar a novas construções. Por isso, vários prédios de diversas regiões do interior de Nova Petrópolis foram fotografados, desmontados e reerguidos dentro do parque, formando a Aldeia Histórica.

Roupas típicas de diversas épocas. © Pâmela Suélen Padilha Schörner

Entre as construções da Aldeia Histórica está, entre outros, a casa de um professor, uma capela e em um dos prédios foi montado o Museu Histórico Municipal, que abriga várias curiosidades. Você pode ver de perto, por exemplo, um serrote alemão utilizado como instrumento musical e roupas típicas de diversas épocas, inclusive um vestido de casamento preto, cor escolhida porque a noiva enfrentava longos trajetos a cavalo até chegar à igreja, e os vestidos claros sujavam muito. Além disso, como as comunidades eram muito pobres, a roupa preta tinha uma vantagem econômica, já que poderia ser aproveitada em algum velório, posteriormente. Dentre várias relíquias que mostram peculiaridades da imigração germânica, o museu possui também um triciclo feito de madeira, provavelmente um dos brinquedos mais queridos dos pequenos.

Andar de bicicleta por Nova Petrópolis foi muito agradável, embora não haja ciclovias e ciclofaixas na cidade, e poucos comércios possuem local apropriado para estacionamento das magrelas. Os brigadistas, como são chamados os policiais no Rio Grande do Sul, nos orientaram a pedalar nas calçadas, mas pedalamos na borda da pista e os motoristas foram muito atenciosos e respeitosos. Há vários trevos dentro da rua principal, e em alguns casos, os motoristas paravam no meio do trevo e nos sinalizavam, dando a preferência para que seguíssemos, mesmo que com isso interrompessem o trânsito dos carros. Vale dizer que o movimento de automóveis não é grande.

um passeio sem compromisso de tempo ou quilometragem, apenas pelo prazer de pedalar.

Centro da cidade. © Pâmela Suélen Padilha Schörner

Com mais tempo – e com bicicletas MTB’s – seria possível pedalar pelas estradinhas do interior e conhecer o Morro Malakoff, um dos desafios preferidos do pessoal do MTB que visita a cidade. Segundo os moradores, a prefeitura incentiva práticas esportivas e organiza várias atividades durante o chamado “Verão no Jardim da Serra Gaúcha”, inclusive passeios ciclísticos e disputas de maratona e downhill.

Montevidéu

O Uruguai é pequeno em extensão, só ganha do Suriname na América do Sul. Apesar do tamanho, possui alguns “títulos” invejáveis: na América Latina, é um dos melhores em qualidade de vida/desenvolvimento humano, segundo menos corrupto e um dos países economicamente mais desenvolvidos.

© Pâmela Suélen Padilha Schörner

Montevidéu, a capital deste país, é considerada uma das mais seguras do mundo. Possui cerca de 1,8 milhão de habitantes, quase a metade de todo o país. Realmente, há a sensação de segurança em praticamente todos os lugares que visitamos. Mas não facilite: a Ciudad Vieja, em especial nas proximidades do Mercado Del Puerto, fora da movimentada rua Sarandí, apresenta alguns casos de furtos. A cidade tem tudo que uma capital deve ter, embora com ares de cidade pequena. O trânsito, por exemplo, não é congestionado como as capitais brasileiras, embora os motoristas pareçam ser um pouco impacientes.

Quando pesquisamos onde nos hospedar, o bairro de Pocitos nos chamou a atenção. Em um dos blogs pesquisados, o autor o apresentava como um “comercial de margarina”. As pessoas felizes, praticando exercícios e se banhando nas praias do Rio da Prata, são dignos desses comerciais. A invasão brasileira neste lugar é impressionante. Os hotéis parecem pequenos condomínios brasileiros em pleno Uruguai. Segundo a equipe hoteleira, este é o fruto de um trabalho de fortalecimento do turismo uruguaio, que há mais de três anos vem apresentando aos vizinhos latinos o potencial de lazer com qualidade de vida que o país tem.

© Pâmela Suélen Padilha Schörner

Novamente, optamos por um hotel que oferece bicicletas, o Palm Beach Plaza. São quatro bicicletas Trek à disposição, com bons acessórios, como amortecedores dianteiros e câmbio, ao preço de cinco dólares por hora. Com elas, passeamos pelo bairro de Pocitos até Punta Carretas. Já na saída do hotel, a Plaza Tomás Gomensoro garante uma vista linda do Rio da Prata.

O local possui várias opções de alimentação, o que facilmente poderia se apresentar como um tour gastronômico, especialmente quando se conhece a fama da carne e do doce de leite uruguaio. Podemos indicar os deliciosos sorvetes de doce de leite da rede La Cigale, presentes também na Ciudad Vieja. O Fellini Risto Baretto, que possui uma grande variedade de massas, peixes e carnes, tem um atendimento e ambiente de primeira. Os chivitos também são muito famosos por lá: equivale ao nosso x-salada, porém, ao invés de hambúrguer vem com um generoso corte de carne. No Shopping Punta Carretas, que possui bicicletário com vigia, uma opção de alimentação é o El Fogón, que como em vários estabelecimentos, assa a carne em uma estrutura inclinada que pode ser vista pelos consumidores do balcão. Por fim, o café Oro Del Rhin, junto à livraria Yenny, é um local especialíssimo para curtir o fim do dia, com vista privilegiada para a praia. Come-se muito bem, mas paga-se também. Pode-se dizer que a comida e bebida são caras em Montevidéu, talvez por ser um destino turístico cada vez mais procurado.

© Pâmela Suélen Padilha Schörner

As famosas ramblas, avenidas à beira do Rio da Prata, margeiam praticamente toda a cidade. Foram declaradas Monumento Histórico Nacional, mostrando sua importância na composição da identidade dos montevideanos. A praia de Pocitos é uma das mais concorridas de Montevidéu, e é possível ver muitas bicicletas circulando por lá. Há pessoas pedalando para se exercitar, outros com alforjes que davam a impressão de estarem realizando uma viagem mais longa, e também algumas speeds passavam à margem da rodovia.

© Pâmela Suélen Padilha Schörner

De Pocitos até o centro são aproximadamente cinco quilômetros. Um dos principais pontos turísticos é a Praça da Independência, que possui a estátua do herói nacional José Gervasio Artigas. Um mausoléu subterrâneo pode ser acessado por escadas ao lado da estátua, onde se encontram os restos mortais de Artigas. Da praça é possível ver várias construções ícones da cidade: a leste, a Puerta de la Ciudadela, onde se inicia a Rua Sarandí, que leva ao Mercado del Puerto através da Ciudad Vieja; ao sul, a sede do poder executivo, chamada de Torre Executiva, que possui um lounge com alguns itens expostos, e o Palácio Estévez, onde visitamos um museu com objetos de vários presidentes anteriores, desde a roupa utilizada até mobiliários da época. A oeste fica a Avenida 18 de Julio, que é uma via comercial. Lá presenciamos uma cena muito legal: um jovem entregador com uma bike dobrável, atendendo os prédios locais.

O Teatro Solís fica bem próximo à praça, e uma visita guiada por ele é imperdível. Tudo nele é fantástico. A parte central foi construída em 1856, e está totalmente conservada. Durante a visita, intervenções artísticas são realizadas nos diferentes ambientes. A sala principal, no coração do teatro, possui detalhes típicos de teatros líricos. Possui capacidade para 1.250 pessoas, com assentos na parte central, em anéis e em camarotes, inclusive um especial reservado para o presidente. Uma curiosidade que o guia nos contou é que há assentos em destaque, bem próximos do palco, que em épocas passadas eram os preferidos das moças solteiras. A intenção delas não era ver o espetáculo mais de perto, mas sim chamar a atenção de algum pretendente. Há outra sala menor que também é utilizada para espetáculos, onde assistimos a uma peça. A cultura é um item muito valorizado na cidade: o local estava lotado.

© Pâmela Suélen Padilha Schörner

Do Teatro Solís, seguimos para a Ciudad Vieja, através da Rua Sarandí, inacessível para carros. Ciudad Vieja é o bairro mais antigo de Montevidéu, com vários prédios históricos. Seguimos até o Mercado Del Puerto, onde se encontram restaurantes tradicionais da cidade. Lá, almoçamos uma das melhores carnes do mundo no El Palanque.

Ao andar por Montevidéu, cruzamos com várias pessoas carregando garrafas térmicas e cuias de chimarrão, demonstrando que este é um costume local. Também percebemos a presença de muitos idosos que se reúnem nas praças e nos restaurantes para conversar, ler um livro ou simplesmente apreciar a cidade. Também presenciamos idosos bastante limitados fisicamente realizando atividades sozinhos, como compras no supermercado. Isso nos deu a sensação de que a população idosa lá é bastante ativa, e parece ser bem recebida pela cidade. Mas como houve um incremento turístico, esse “pequeno paraíso” têm sido cada vez mais alvo de malandros, que se aproveitam dos mais frágeis, como os idosos e mulheres, para furtos, ameaçando o status de “capital segura” atribuída à Montevidéu.

© Pâmela Suélen Padilha Schörner

Outro detalhe agradável para quem pedala nas ruas de lá são as grandes árvores que formam um verdadeiro túnel, capaz de amenizar com suas sombras o forte calor de janeiro. Essa mistura do verde nas ruas com as largas e confortáveis ramblas na orla são um convite para um gostoso passeio de bicicleta.

Montevidéu foi um destino muito acertado para a lua de mel. Mesmo com pouco tempo disponível, é possível visitar praticamente todos os pontos turísticos sem deixar nenhuma atração importante de fora. Se você optar por visitar a capital do Uruguai, mesmo que o seu hotel não ofereça aluguel de bicicletas, há bicicletarias que as emprestam e com as quais é possível sentir o prazer de pedalar em meio a este lugar que une história, cultura, boa gastronomia e ricas belezas naturais.

A cultura é um item muito valorizado na cidade.

Montevidéu
(em espanhol, Montevideo)
População:
1,8 milhão de habitantes na região metropolitana
Ano de fundação:
1726
Origem:
imigrantes espanhóis
Economia:
produtos agrícolas, finanças, indústrias e turismo
Significado do nome:
há duas versões. Uma delas se baseia no fato de portugueses da expedição de Fernão de Magalhães batizarem um monte de “monte visível”, na época escrito como “monte vidio”. Outra versão reza que no Rio da Prata é possível avistar um monte na região da capital uruguaia de este a oeste, que em documentos históricos ficou registrado como “Monte Vi de Este a Oeste”, abreviado, “Monte VI-D-E-O”.