Foram 616 km , quatro dias pedalando, mais de 20 cidades, 36h34min de pedal efetivo, 10.458 m de altimetria acumulada,um pneu furado e três raios quebrados.

© Claudio de Mello

Éramos nove malucos, Jean Baretta “o Monstro”, Tomaz Litz “o Trator”, Altair Jalasco “a Moto”, Sylvio Munhoz “o Ranzinza”, Jean Spitzner “o Kem”, Jaciel Grein “o Macaulay Culkin”, Marcio Muhlbauer “o Lord”, Henrique Rocha mais conhecido por “megafone” e eu. A vontade de extrapolar alguns limites físicos e psicológicos pedalando nos uniu em mais um desafiador Longão! Após muito planejamento, reuniões e decisões, apenas os últimos seis seguiram com o projeto. Cada um com seus motivos, trabalho, saúde ou qualquer outra coisa. Ficamos tristes, mas não poderíamos deixar de lado nosso sonho e seguimos em frente.

Pedalamos por várias cidades de Santa Catarina, algumas por suas cercanias, outras pelo interior. Conhecemos suas montanhas, rios, matas, belos campos, plantações, casas, casebres, fazendas, pontos turísticos, serras e mais serras, algumas de tamanha envergadura que pedalar foi quase impossível, devido à altimetria e condições da estrada.

Nosso ponto de partida foi São Bento do Sul. Saímos às quatro da madrugada. Celebramos o amanhecer do novo dia com o espetáculo do sol nascendo. Imagens divinas! Ver o sol nascer é magnífico e assistir isso em cima da bike acompanhado de amigos não tem preço. Pedalamos 201 km com 3.364 m de altimetria, até a cidade de Timbó Grande onde pernoitamos. Fomos recebidos com alegria pelo pessoal do hotel e qualificados como malucos e corajosos. Abriram o restaurante para que pudéssemos jantar à vontade. Batemos nosso recorde de quilometragem pedalando em um mesmo dia!

© Claudio de Mello

Parece moleza? Foi não! Foi sim sensacional! Preparamo-nos muito, física e psicologicamente, para vencer todas as dificuldades e fomos agraciados pelo belo dia de clima ameno.

No pedal o bom humor de todos foi predominante, e foram muitas conversas, palavras de incentivo, gritos de força, como aqueles das artes marciais, pra acordar o corpo e a mente. Em cada pit stop um relato para os amigos que estavam na torcida e lembrando sempre daqueles que não puderam ir.

Nossa animação continuou forte no segundo dia. Mas foi duro sentar no selim com a “poupança doída”! Nosso centrado Jaciel disse que logo acostumaríamos. Esse conhece! Pedalou muito por aí e tinha razão. Santa Hipoglós, Batman!

Novamente pedalamos por belas estradinhas de várias cidades, sempre pela área rural. Novamente, lidamos com trechos mais duros e desconfortáveis, desafiadores mesmo, com duas baitas serras no caminho. Neste dia percorremos “apenas” 112 km, uma baba! Em 07 h 31 min tivemos um ganho de elevação de 2.290 m. Está feliz agora?

© Claudio de Mello

Precisamos de muitos “carb ups”e malto no corpinho, para vencer as fortes e íngremes subidas das serras da Mula e do Amador. As danadas parecem estar grudadas uma na outra. Foi de estralar as coxas, romper os ligamentos dos joelhos para fazer as bikes flutuarem por cima das “pedraiadas” e chegar ao topo. Que beleza! Maior loucura chegar ao final e escutar o Kem Spitzner gritar: “Acabouuuuuuuu!”

“Acabou? Nada amigos”! Era nosso “Macaulay Culkin” se encarregando de dar as “boas” notícias, sempre com aquele sorriso no rosto e uma calma irritante. Mais “morrebas” e muitas subidas pela frente. Enfrentamos butucas e outros zumbidores, sim, muito zumbido na orelha, que chegavam a derrubar neguinho da bike quando largavam a mão do guidão pra espantar os carniceiros, que nos acompanhavam nas subidas. A boa notícia é que vencemos mais essa etapa sem nenhum acidente, nem pneu furado, nada mesmo.

Nesse dia, almoçamos em Caçador, com um raio quebrado da bike do inoxidável Rochinha. O pedal da tarde foi tranquilo, velocidade e estradas mais ou menos nos conduziram até nosso destino em Treze Tílias. Nosso hotel era simples, mas com pessoas maravilhosas atendendo, inclusive muitos ciclistas da cidade trabalhavam lá.

Em nosso pedal, passamos por mais ou menos sete cidades e enfrentamos algumas subidas que só havíamos conhecido como descida no dia anterior. Adoramos descer, é claro! Foram 182 km em 10 h 21 min com altimetria acumulada de 2.974 m. Bom né? Resolvemos pedalar pelo asfalto, pois nossos “bumbuns” estavam esgotados de tanta pedra e sacolejar em estradinhas não seria de bom grado. Todos toparam e lá fomos nós! Foi uma eternidade para chegar a Monte Castelo. Subidas e descidas de roldão. A noite foi chegando e buracos, pedras, vidros quebrados e motoristas malucos espreitavam o caminho causando apreensão. Descer a serra do Espigão foi alucinante! Adrenalina pura! Alguns chegaram a 75 km/h! A ausência de acostamento e o intenso fluxo de veículos foram detalhes a mais.

© Claudio de Mello

Ao chegarmos à residência da Dona Tereza, mãe do Jaciel, já eram quase 22 h. Fomos recebidos pelo nosso “apoio de hotel” com muita alegria, cerveja gelada e carne para ser assada. Este quarto e último dia seria muito tranquilo! Tranquilo? Pode até ser! O cansaço, as dores, o sol que teimou em nos acompanhar e o vento contra foram algumas das adversidades vencidas por estes valentes. Pedalamos “apenas” 120 km em 06 h 36 min com altimetria acumulada de 1.830 m. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena!

Mapa do trajeto

Os momentos que foram vividos por essas seis almas somente a elas pertencem. Cada um viu, sentiu e contará do seu jeito esta inenarrável viagem.

Até a próxima!