Dubrovnik, uma travessia de bicicleta desde a capital da Eslovênia até a “pérola do Adriático”, na Croácia. A ideia surgiu da necessidade, como proprietário da Larbtur Viagens e Turismo, em adquirir conhecimento sobre o destino turístico do Mar Adriático, aliado ao desafio esportivo de uma cicloviagem de mais de 500 km. Além disso, não seria nada mal conhecer pessoalmente o escritório do nosso parceiro comercial Happy Tours Slovenia.

Após reunião com meus amigos e parceiros Rok Bulc, Nando Cabral e Aleksandra Jezersek, fui conhecer a bela e simpática cidade de Bled. A cidade fica na costa do lindo Lago Bled, onde há uma ilha no meio e um impressionante castelo medieval – o mais antigo castelo da Eslovênia – no topo de um penhasco íngreme com vista para o lago. À noite, fiz um passeio ao redor da cidade velha de Ljubljana.

Na manhã seguinte me encontrei com Rok no hotel. Era hora de iniciar a aventura. Fomos a um posto de gasolina para encher os pneus da bicicleta e depois pegar a estrada! Mas com menos de 6 km rodados minha roda traseira furou e, após trocar a câmera, quebramos a válvula ao bombear o pneu com excesso de vontade. “Pois é… isso vai ser uma aventura e tanto”, pensei.

Bled, seu lindo lago e seu impressionante castelo medieval – o mais antigo da Eslovênia. © fesus / 123RF.COM

Nós seguimos em direção a Postojna por estradas secundárias. A temperatura estava perfeita para pedalar, a vista é muito bonita, e subimos com tranquilidade. Fomos direto para a caverna de Postojna, que é a mais conhecida do mundo e maior atração turística da Eslovênia. Um trem elétrico transporta os surpresos visitantes em passagens subterrâneas por entre incríveis formações rochosas. Depois da caverna, fomos para o Castelo de Predjama. Uau! O castelo é incrível! Definitivamente, é uma atração para não se perder. Foi a minha atração favorita na Eslovênia. Nove quilômetros de distância das cavernas, o castelo está empoleirado em um penhasco vertical e foi mencionado pela primeira vez no ano de 1274. O castelo era frio, úmido, nada acolhedor, mas seguro para seus habitantes. Na Idade Média, a segurança estava acima de tudo. O castelo teve muitos proprietários ao longo dos séculos. O mais famoso foi o cavaleiro Erazem Lueger no século XV, uma espécie de Robin Hood local, que ficou cercado em sua fortaleza por um ano e um dia devido a uma ordem do imperador austríaco Fredrick III para capturá-lo e matá-lo. Depois de visitar o castelo, Rok pegou o trem de volta para Ljubljana e eu pernoitei em Postojna. Rodamos um total de 78 km com elevação cumulativa de 1.227 m.

A caverna de Postojna, a mais conhecida do mundo. © Luiz Eduardo Barcellos

Quando acordei no dia seguinte eu sabia que esta segunda fase seria difícil. Eu estava sozinho e quando parti de Postojna chovia e fazia frio. A chuva se foi depois de 10 km, e o frio não incomodava enquanto estava pedalando até a fronteira da Eslovênia com a Croácia, passando por montanhas, rodeado por bosques e florestas. Depois de passar o controle de passaporte, já em território croata, rumei ao sul para Rijeka pela estrada estadual D8 que tem pouco tráfego, pois corre paralela à autoestrada A7. Ver o mar ao longe deixa você mais motivado e, após uma longa descida, eu estava de frente para o maravilhoso Mar Adriático. Antes de ir para Rijeka, não podia deixar de visitar Opatija, local onde a antiga família imperial austríaca costumava passar vários meses do ano. Depois do almoço fui para Rijeka, concluindo assim o segundo estágio com um total de 76,4 km e ganho de elevação acumulado de 771 m. De Rijeka, tive um transporte para apanhar o ferry para a ilha de Pag, onde começaria o próximo estágio.

© Luiz Eduardo Barcellos
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A ilha de Pag é um destino fantástico. Praias espetaculares, charmosas cidadezinhas e excelentes rotas de ciclismo. Além disso, há várias atividades como vela, snorkling, kitesurf ou apenas ficar relax na praia. O ambiente convida os visitantes para atividades outdoor. Sem falar nas festas e raves selvagens que acontecem durante as férias de verão do continente europeu. Foi onde vi mais ciclistas. Comecei esta fase em Novalja, pedalei praticamente toda a ilha de Pag, até chegar em Zadar. O tempo estava ótimo, foram vistas deslumbrantes e uma atmosfera amigável. O fluxo de carros na estrada estava tranquilo, pois a alta temporada já havia acabado. Minha primeira parada foi na cidade de Pag, que vi pela primeira vez do topo de uma colina. O centro de Pag oferece um ambiente agradável para almoçar e tomar uns drinks apreciando a bela vista do Mar Adriático. Mas eu ainda tinha um longo caminho para chegar a meu destino, então enchi minha garrafa d’água e segui em frente. Parei para almoçar a menos de 6 km de Zadar. Eu estava faminto e exausto. Rodei um total de 80,9 km com uma altimetria acumulada de 896 m.

Neum, a única cidade costeira da Bósnia-Herzegovina.© nightman1965 / 123RF.COM

No dia seguinte o tempo estava péssimo. Deixei Zadar sob chuva forte. Parei com apenas 5 km rodados e me abriguei numa pequena construção tipo borracheiro de beira de estrada, onde dentro só havia um cachorro. Pensei se não seria melhor voltar e pegar um ônibus… Finalmente parei para almoçar em Pirovac, cerca de 50 km de Zadar, onde conheci um casal da Bélgica que estava em uma cicloviagem com duração de um ano. Quando eu vi o volume de bagagem deles prometi a mim mesmo que não reclamaria mais da minha. Chegamos a Sibenik juntos, o tempo estava muito melhor do que de manhã. Fiquei impressionado com a beleza da Catedral de Saint James, nomeada Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. Para aqueles que planejam visitar a Croácia, Sibenik é uma cidade que merece uma visita. Além da Catedral, a fortaleza de Saint Michael e o Parque Nacional Krka são outras excelentes atrações. Nesta fase, foram 72 km de distância e 445 m de elevação acumulada.

Ljubljana, capital da Eslovênia.© sykwong / 123RF.COM
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Acordei animado para a próxima fase; eu estava ansioso para chegar a Trogir. Havia muitas subidas, mas a estrada estava vazia e o tempo estava bom. Meu amigo Rok estava certo, Trogir é uma joia. Da próxima vez vou passar uns dias lá para apreciar essa extraordinária cidade medieval com calma. Almocei uma macarronada com frutos do mar acompanhado por um excelente vinho branco croata! Depois do almoço peguei a estrada novamente. Próxima parada: Split. A chegada foi um tanto confusa com trânsito intenso e muitos caminhões. Finalmente cheguei ao espetacular Palácio de Diocleciano (datado do fim do século III / início do século IV) completando um total de 78 km e 757 m de altimetria. Bem… Depois de uma longa viagem, tive tempo suficiente para algumas cervejas antes de entrar no ferry para Stari Grad (Ilha de Hvar).

Mas com menos de 6 km rodados minha roda traseira furou e, após trocar a câmera, quebramos a válvula ao bombear o pneu com excesso de vontade. “Pois é… isso vai ser uma aventura e tanto”, pensei.

Após cinco dias consecutivos de pedal, eu não via a hora de tirar um dia de descanso para recuperar minha musculatura. Não poderia ter escolhido melhor lugar: Hvar Town. A cidade é acolhedora, as praias são lindas, opções variadas de passeios de barco e de bicicleta, visual espetacular da Fortaleza de Hvar…

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Hvar possui praias belíssimas.© Rostislav SedlaiÄek / 123RF.COM

Dia seguinte era hora de encarar o que tudo indicava ser a etapa mais difícil. Eu iria atravessar toda a Ilha de Hvar, percorrendo 80 km pelas montanhas (apesar de ser uma ilha, foram 1.808 m de altimetria) desde Hvar Town até Sucuraj, onde iria atravessar de ferry de volta para o continente e pegar um transporte até Neum (a única cidade costeira da Bósnia-Herzegovina). A ideia inicial era atravessar de Hvar para Kórcula, mas tive que me adaptar à situação, pois não havia mais ferry devido ao término da alta temporada (somente catamarãs, que não permitem o transporte de bicicleta). Sem sombra de dúvidas foi o estágio mais difícil. Mas também foi o trajeto mais legal. A ilha é linda, com diversas baías de água azul turquesa, e a estrada após Stari Grad estava vazia. Passei pela região das vinícolas com seus vinhedos, olivais e campos de lavanda.

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Com a conclusão do estágio anterior, entrei na reta final de minha expedição turística. Saí de Neum com tempo bom e segui para Ston para visitar a famosa muralha da cidade. Posteriormente segui para Slano onde faria o último pernoite antes de seguir para Dubrovnik. Ao chegar à pequena cidade, estava no alto da colina procurando a pousada quando um habitante, percebendo que eu estava perdido, me ofereceu ajuda e um copo de vinho de sua produção local. Era exatamente o que eu estava precisando! Foram 49 km de distância e 1.099 m de altimetria.

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Finalmente chegara o último estágio! Eu estava completamente animado e motivado para concluir minha solitária aventura. Mas estava com medo! O tempo havia virado novamente. Não chovia muito, mas o vento estava muito forte. Bem que o motorista que me levou de Sucuraj para Neum me avisou: “cuidado na estrada no sábado, pois a previsão é de tempestade”. Pensei: “Ah não! Não posso desistir agora. Falta pouco… menos de 40 km”. Na verdade faltavam 36,8 km e 1.060 m elevação acumulada. Respirei fundo e pus o pé na estrada. Fortes rajadas de vento contra e de lado, a depender das curvas da estrada, me faziam segurar o guidão com muita força para não perder o controle da bike. Tinha que manter também o controle mental, não adiantava ficar ansioso querendo chegar logo. Paciência! Mesmo nas descidas eu não conseguia ganhar muita velocidade, pois o vento me segurava. E assim fui, lutando contra os fantasmas dentro da minha cabeça e contra o “Yugo” (o forte vento sudeste) até a fantástica cidade de Dubrovnik, “a Pérola do Adriático”! Foram 549 km com altimetria acumulada de 8.063 m em nove dias, sendo oito dias pedalados e um day off, para concluir com sucesso a expedição.

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Dubrovnik, a pérola do Adriático.© Sorin Colac / 123RF.COM

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