E vamos juntos “Viajando de Bicicleta Mundo Afora”

© Vera Marques

Com grande alegria, transcrevemos a entrevista gentilmente concedida por nossa amiga cicloviajante, Vera Marques, onde ela conta a respeito da elaboração e lançamento de seu segundo livro “Viajando de Bicicleta Mundo Afora”.

São inúmeras as matérias que já publicamos sobre suas cicloviagens, sempre agregando muito conhecimento e simplicidade. Nós, da Revista Bicicleta, agradecemos à Vera pela partilha que nos oferece com este livro e por ter, de maneira tão bacana, aceito conversar com a gente.

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Vera Marques nasceu na pequena Echaporã – SP. É casada há 41 anos, mãe de três filhos, e seu marido também é seu companheiro de viagens de bicicleta. É mestre em Psicologia Clínica, especialista em Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar. Apaixonada por viagens e curiosa pelas coisas do mundo, decidiu viajar de bicicleta depois de se aposentar aos 58 anos de idade. Começou viajando pelo Brasil e logo percebeu que a bicicleta poderia levá-la cada vez mais longe. Esteve em lugares onde sempre desejou e em outros que jamais imaginou conhecer. Conhece hoje 5 continentes e 20 países devidamente explorados e sempre pedalando.


Entrevista

© Vera Marques

Therbio Felipe – 2022 chega com uma novidade muito especial e aguardada por muita gente: seu livro “Viajando de bicicleta Mundo Afora” traz os relatos da trajetória cicloviajante por mais de 20 países em cinco continentes. Vera, que sentimentos ressurgem ao revisitar suas cicloviagens através de culturas e paisagens históricas?

Vera MarquesSinceramente, levei um susto. Porque quando você começa a arrumar tudo e se dá conta que havia muitas anotações em meu diário de viagem, muitas memórias dos lugares, pessoas e paisagens, sobre a relação dos lugares com a história da humanidade, das guerras, enfim, acaba sendo algo com grande peso. Vale salientar que estes conteúdos que comento se encontram com facilidade de acesso e riqueza de detalhes, em países europeus.

E foi aí que percebi o quanto eu tinha vivido, o quanto tinha vivenciado situações únicas. Se eu tivesse ficado em casa ou pego um avião ou trem para visitar apenas um lugar turístico, não teria tantas vivências. Num primeiro momento, tive a chance de parar e pensar que vivi muita coisa.

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Pensei sobre o quanto foi bom ter encontrado pessoas no meio do caminho que me atenderam com tanta boa vontade, gente que chegou a desviar seu itinerário para poder colaborar comigo. Que alegria perceber que ainda existem pessoas capazes de fazer o bem pelo bem. Isto faz parte deste sentimento de ter muita coisa aprendida.

Ao revisitar minhas viagens dei-me conta que estava de coração aberto para visitar aqueles países, livre de qualquer prejulgamento ou preconceito. Lembro de meus próprios relatos, tudo com muita e profunda aprendizagem.

Por exemplo, é revelador quando a gente percebe o quanto se aprende com a história. Um dos lugares que marcaram demais em minhas viagens foi na Itália, quando fui fazer os Montes Apeninos, rota por onde passaram os pracinhas brasileiros da FEB na Segunda Guerra Mundial.

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É maravilhoso chegar em uma cidade, como Montese, onde nossos soldados tiveram importante atuação no front, e perceber que os italianos os relembram e prestam homenagem a eles até hoje. Por outro lado, é bastante triste notar que o mesmo não é feito no Brasil. Então, nossos soldados são venerados numa cidadezinha do interior da Itália e ter presenciado isso foi uma emoção indescritível.

Antes de viajar de bicicleta, eu havia viajado de trem. E constatei que não há nenhum meio de transporte que inspira uma observação mais pormenorizada do que a bicicleta. Como somos bem acolhidos pelo fato de estar de bicicleta.

Este foi o sentimento que mais me marcou. Que bom que eu tive a oportunidade de vivenciar tantas histórias, de dar-me conta que sou capaz de enfrentar adversidades sozinha, de me virar em países muito diferentes entre si. Afinal, não existe apenas a língua falada, mas há também a gestualidade, quando o domínio de certo idioma nos é limitado. Foi muito gratificante revisitar tudo o que tenho vivido.

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Therbio Felipe – Como surgiu a ideia do livro, Vera? Já era um sonho antigo ou algo que veio à mente nos últimos tempos? Como fazemos para encontrar?

Vera MarquesA ideia do livro aconteceu nos seis primeiros meses da pandemia, quando ficamos, por primeira vez, bastante isolados com o distanciamento social obrigatório.

Tirei, então, um tempo para organizar minhas fotos e diários, e me veio o pensamento de escrever sobre as histórias, como eu me sentia viajando, coisas que não estão no blog. Tive uma vontade muito grande de escrever porque talvez viesse a inspirar alguém a pensar em fazer uma viagem deste tipo, de bike.

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Queria demonstrar que uma cicloviagem não é só perrengue e dificuldades como às vezes encontramos em outros livros. Tentei fazer um livro leve, onde eu contasse o meu dia-a-dia, como eram os caminhos que eu percorria, como eram as pessoas que eu encontrava.

A ideia do livro aconteceu assim, tentando colocar no papel estas experiências, pensando que, se uma pessoa tiver vontade de fazer uma cicloviagem, ou até mesmo alguém que tenha, como eu, começado a viajar de bicicleta com 58 anos, quem sabe possa se inspirar naquilo que vivi. Hoje, estou com 63 e continuo viajando sozinha de bike, porque nunca é tarde!

Quis compartilhar o que vivi para que outras pessoas pudessem se estimular ainda mais a correr atrás dos seus sonhos e da liberdade.

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Therbio Felipe – O que podemos esperar do livro? O que você escolheu para apresentar nesta reunião de histórias sobre bicicletas, paisagens e pessoas?

Vera MarquesEscrevi este livro de maneira tranquila e despretensiosa. Procurei escrever de forma cativante, apresentando histórias do meu dia-a-dia, além de mapas dos percursos e algumas fotos que ilustram estes momentos de encontros com as paisagens e com as pessoas.

Busquei compartilhar no livro fragmentos de tantos caminhos e as minhas histórias com as pessoas destes lugares.

Coisas como o dia de chuva que fui abrigada por um jovem que me ofereceu banho e comida, mesmo num momento delicado e incerto, em que a Inglaterra estava se separando da Comunidade Europeia. O pai do jovem era imigrante e a família estava cheia de preocupações, mas mesmo assim me acolheram. Sim, tem muita gente boa pelos caminhos.

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Enfim, no livro está claro o quanto procuro ser uma cicloviajante discreta, me misturando com os personagens locais. Até hoje, nunca fui abordada de forma maliciosa ou sofri algum assalto. Tudo isso vai sendo apresentado no livro de maneira despretensiosa e tranquila.

Therbio Felipe – De 2014 para cá, você passou a viajar de bike de forma autônoma e, em grande parte das vezes, sozinha. O que tem mudado na Vera de 2014 para a de 2022? Como o livro ganha um papel importante neste momento como forma de registro destas transformações?

Vera Marques – A primeira coisa, penso eu, é o desapego. Começa pela bagagem, levando o mínimo necessário. Minha bagagem não pesa mais que 12kg, exceto na Patagônia, por conta de ser um lugar que exige que se leve mais itens e suprimentos.

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Creio que eu esteja me tornando uma pessoa minimalista, precisando de cada vez menos. Dá para viver com pouco, ainda que isso seja subjetivo.

Penso que o livro, talvez, possa ganhar um papel importante neste momento porque acredito que consegui juntar muitas de minhas histórias num mesmo lugar, e é notável perceber que as transformações em mim precisaram, também, ir devagar como a bicicleta.

Sempre falo: quanto mais lento você pedala, mais você observa e se transforma. São pequenos detalhes vistos, observados e absorvidos. No final, a gente se dá conta que a transformação vem naturalmente.

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“Viajando de bicicleta mundo afora”, de Vera Marques, está publicado pela Editora Astrolábio e se encontra à venda nos seguintes locais:

LIVRARIA CULTURA

LIVRARIA MARTINS FONTES

LIVRARIA ATLÂNTICO

BLOG PEDALAR E VIAJAR

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