De bike até a paradisíaca Praia da Marieta: um reencontro

Nem parecia que já havia passado tanto tempo. Ontem éramos todos estudantes da universidade, a nos divertir pelas festas, tomando caipirinha com cachaça barata e dançando forró à beira do rio. Mas o tempo é Implacável, inexorável, nos leva para distante daqueles amigos da juventude, despedaça sonhos e desfaz ilusões, mas principalmente passa com uma velocidade impressionante que nem percebemos que de jovens sonhadores com um mundo melhor, nos tornamos meros adultos cheio de responsabilidade e pagadores de boletos.

Mas a bike, de alguma forma, entrou em nossas vidas e nos remeteu a uma ideia de infância feliz e de juventude sonhadora há muito esquecidas. Fora o sucesso profissional que cada conquistou, não havia muito mais a fazer, pois o mundo continua do mesmo jeito, quiçá pior e assim seguíamos para o fim. É claro que a felicidade de ter uma família substituiu as nossas utópicas atitudes de querer mudar o mundo. A bike, sempre ela, a mexer com o coro dos contentes.

O nosso reencontro começou a partir desse maravilhoso invento de duas rodas; o pequeno grupo de amigos da época da faculdade voltou a se encontrar para pedais urbanos pela cidade e logo todos estavam animados; seguiram-se as trilhas pelos arredores de Belém e logo pegamos gosto. Nas pedaladas, falamos da vida, dos desafios, dos problemas e voltávamos renovados a cada empreitada. Era também, de certa forma, uma maneira de retomar os tempos de juventude e de alguma forma sonhar com algo diferente que refugia à rotina maçante do dia a dia.

Surgiu então a ideia: vamos fazer uma trilha para praia da Marieta, uma praia paradisíaca, somente habitada por pescadores no interior do Estado do Pará. Logo, começaram os planos e a preparação; todos se animaram, até aqueles menos participativos se dispuseram a encarar o desafio de passar um final de semana pedalando para alcançar sua utopia particular. Também havia a possibilidade de fazer alguma coisa diferente, de sair da rotina, e relembrarmos juntos, novamente, os tempos da faculdade. O fim-de-semana prometia.

Depois de tudo planejado e organizado, saímos de Belém/PA em uma van com as bicicletas a reboque de uma carretilha para a nossa base que era cidade de Salinópolis/PA (distante 210 km de Belém), onde alguns dos amigos têm casa, e de lá, na manhã seguinte, sairíamos de manhã para pedalarmos aproximadamente 50 km rumo à praia da Marieta. O terreno é entrecortado de subidas e descidas, areal lamaçal, pedregulhos, buracos, e outros, mas parece que nosso maior inimigo seria o sol forte do verão amazônico, com uma sensação térmica de uns 35º.

Na manhã de sábado, todos acordamos animados; tomamos o café e partimos. No início tudo parecia festivo, conversas em grupos, bate-papo, piadas, risadas, ouvia-se de tudo ao vento, e nossa imaginação ia longe. Era um reencontro com o lúdico, era também um pouco voltar à juventude dos tempos da universidade.

Mas, como a vida, daquele início promissor, após o trajeto de asfalto de cerca de 10km, as dificuldades começaram quando entramos na estrada de chão. Vencer subidas íngremes, ultrapassar pedregulhos, escorregar em areais, controlar a bicicleta em terreno tão acidentado, visto nossa pouca destreza, mas, acima de tudo, testar os limites de nossas mentes e de nossos corpos, já fatigados pelo tempo, a vencer aquelas imensas dificuldades e chegarmos ao nosso porto final.

Depois de mais ou menos 8 horas de pedalada, vencemos os 50km, não sem muitos muitos contratempos, desde problemas nas bikes, passando por quedas, com pequenas escoriações, e derrapagens, até quase o esgotamento total do corpo: do alto de uma falésia contemplávamos aquela visão do paraíso: a bela praia da Marieta.

Naquele momento passou um filme pela cabeça de todos, uma pequena reflexão sobre a vida e sobre suas dificuldades, usando como metáfora o percurso; pedalamos pelas areias por mais 7 km, sentindo o vento bater em nossos rostos e nos sentimos mais vivos do que nunca, afinal a aventura da vida é igual aventura da trilha Marieta, com todas as suas dificuldades e com toda sua recompensa.

Nos confraternizamos em um almoço improvisado que o pescador tinha preparado e depois fomos aproveitar a praia. As bikes ficaram lá, esparramadas na areia, nos olhando como boas companheiras, que sabem que podem nos levar a lugares maravilhosos, mas, para além dos lugares, podem nos levar ao tempo da juventude e da infância, quando tudo era sonho, tudo era lúdico e a ideia de mudar o mundo estava ao alcance das nossas mãos.

Voltamos para a cidade de Salinópolis no final da tarde em um barco que foi nos pegar, como havíamos previamente combinado. No domingo retornamos todos para Belém, para a rotina de nossas vidas. Os amigos da faculdade, porém, puderam se reencontrar e reviver um pouco um tempo que não volta mais, com a certeza de que a vida ainda pulsa intensa, afinal, como alguém já disse: viver é como andar de bicicleta, se pararmos, vamos ao chão, então sigamos pedalando…

© Vanilson Fernandes